Desaparecimento de tubarões-brancos causa “perturbações ecológicas em cascata” nos oceanos

Os tubarões-brancos (Carcharodon carcharias) são dos mais formidáveis predadores que rumam os oceanos. Estando no topo das cadeias alimentares, são fundamentais para a regulação e funcionamento dos ecossistemas marinhos.
Apesar da má reputação que sobre eles foi investida por filmes de ficção científica, os tubarões-brancos, enquanto predadores de topo, ajudam a controlar as populações de outros predadores, como tubarões de menores dimensões e focas. Por isso, o seu desaparecimento pode levar ao aumento das populações desses mesopredadores e ter consequências devastadoras para os ecossistemas.
Publicada esta semana na revista ‘Frontiers in Marine Science’, uma investigação liderada pela Universidade de Miami analisou mais de 20 anos de dados sobre a populações de tubarões-brancos numa baía no extremo mais meridional de África do Sul, e que documentam a história o declínio e eventual desaparecimento da espécie dessas águas.
Embora não se saiba ainda ao certo do que terá levado a essa extinção local, os cientistas acreditam que a captura insustentável em redes perto de praias para proteger os banhistas e alguns ataques de orcas (Orcinus orca) podem ter sido as principais causas.
O que se sabe, e que é revelado por este estudo, é que o desaparecimento dos tubarões-brancos levou ao aumento das populações de lobos-marinhos (Arctocephalus pusillus) e de cação-bruxa (Notorynchus cepedianus), ambas espécies predadoras.
O aumento do número desses mesopredadores levou, por sua vez, à diminuição das populações de peixes de que os lobos-marinhos se alimentam e dos tubarões mais pequenos predados pelos cações.

O painel à esquerda mostra um cenário com tubarões-brancos a regularem as populações de mesopredadores, o que por sua vez ajuda a manter as populações de presas. O painel da direita, sem tubarões-brancos, mostra um aumento das populações de mesopredadores e a consequente redução das populações de presas. Ilustração de Kelly Quinn / Canvas of the Wild. Fonte: Hammerschlag et al., 2025
Por isso, os investigadores dizem que o desaparecimento dos tubarões-brancos provocou “perturbações ecológicas em cascata” na região, mostrando os efeitos que a perda de um predador de topo pode provocar.
“A perda deste icónico predador de topo levou a um aumento dos avistamentos de [lobos marinhos Arctocephalus pusillus] e de cações-bruxa”, diz, em nota, Neil Hammerschlag, primeiro autor do artigo, “o que por sua vez, coincidiu com um declínio nas espécies das a sua alimentação depende”.
Para o cientista, “estas alterações estão em linha com teorias ecológias bem estabelecidas que preveem que a remoção de um predador de topo leva a efeitos em cascata na teia alimentar marinha”.
“Sem estes predadores de topo para regular as populações, estamos a ver alterações mensuráveis que podem ter efeitos de longo-prazo na saúde do oceano”, avisa Hammerschalg.
Para a equipa, os resultados do estudo salientam a importância de esforços globais de conservação dos tubarões e que, sem eles, todos os serviços fornecidos pelos oceanos – alimento, recreação, fontes de rendimento – podem ficar ameaçados.