Descoberta na Tanzânia mais uma espécie de rã que não coaxa



Quando pensamos em rãs e sapos, o peculiar som característico desses anfíbios, uma fusão entre um rugido e um gorgolejo, é das primeiras coisas que nos surge na mente. No entanto, apesar de ser um traço que demarca estes animais dos demais, há uma família de rãs que desafia esse estereótipo e acaba de ficar maior.

Nas florestas tropicais das montanhas Ukaguru, na Tanzânia, uma equipa internacional de cientistas, que estudava a diversidade de anfíbios e répteis nessa região que marca uma fronteira natural com o Quénia, descobriu uma nova espécie de rã que se escondia entre os juncos numa área pantanosa.

Zona pantanosa nas montanhas Ukaguru, na Tanzânia, onde a nova espécie foi descoberta.
Foto: Christoph Liedtke (coautor da investigação)

Foi batizada com o nome científico Hyperolius ukaguruensis, sendo a oitava espécie desse género, que os investigadores dizem ser muito mais diverso do que hoje se pensa, uma vez que ainda pouco se sabe acerca da diversidade de anfíbios que vivem nas florestas da África Oriental. As rãs Hyperolius, ao contrário de outras, não coaxam e são apenas encontradas nessa região do planeta.

Como não produzem qualquer som, os cientistas ainda não sabem como é que estes pequenos anfíbios comunicam uns com os outros. Mas há algumas teorias.

Simon Loader, do Museu de História Natural de Londres e um dos coautores do artigo publicado este mês na revista ‘PLOS One’, aponta uma delas, que sugere que as Hyperolius comunicam através do toque ou de feromonas libertadas por pequenas bolsas que os animais têm nas bolsas que, nos machos de outras espécies, servem para ecoar os sons que produzem.

“Mas não podemos ter a certeza, pois estas rãs ainda estão relativamente pouco estudadas”, reconhece.

As Hyperolius foram descobertas pela primeira vez na década de 1970, no Malawi, países o leste de África que faz fronteira, entre outros, com a Tanzânia. A primeira espécie a ser identificada foi a H. spinigularis, e estudos posteriores revelaram que tinha uma distribuição relativamente ampla, desde a Tanzânia até Moçambique.

Ao longo dos anos, foram sendo descobertas mais espécies de Hyperolius, sendo a mais recente, então, a H. ukaguruensis, que análises genéticas permitiram concluir, sem espaço para dúvidas, que se trata de uma espécie nova para a Ciência.

Fotografia de Hyperolius ukaguruensis no meio natural.
Foto: Christoph Liedtke (coautor da investigação)

Apresenta uma coloração, morfologia, composição genética e distribuição diferentes das outras rãs do mesmo género.

Além de não coaxarem e de poderem comunicar através de sinais químicos, as fêmeas de Hyperolius apresentam comportamentos que as distinguem de outras espécies de rãs, uma vez que guardam os seus ovos e derramam sobre eles água para mantê-los hidratados.

“Este tipo de cuidado parental não é comum nos anfíbios”, diz Simon Loader.

Por habitarem em zonas densamente florestadas, estudar estas rãs peculiares não é tarefa fácil para os herpetólogos, pelo que o especialista do Museu de História Natural de Londres está confiante de que mais investigações permitirão desvendar novos mistérios.

Contudo, essa descoberta pode ser uma corrida contra o tempo. No artigo, os autores escrevem que as Hyperolius estão “especialmente vulneráveis ao risco de extinção”, tal como muito outros anfíbios, que é um dos grupos de animais mais ameaçados em todo o mundo.

Fotografia de Hyperolius ukaguruensis no meio natural.
Foto: Christoph Liedtke (coautor da investigação)

Com estilos de vida muito especializados, distribuições geográficas limitadas e pequenas populações, estas rãs não têm grande margem para se adaptarem atempada e devidamente para enfrentarem as rápidas alterações climáticas causadas pelas atividades humanas.

Ao batizarem a nova espécie com o nome do local onde foi encontrada, as montanhas Ukaguru, os investigadores esperam poder chamar a atenção da comunidade científica para a importância de mais estudos na região oriental de África, para que se possam identificar todas as espécies aí residem e protegê-las o melhor possível.

“Isto é especialmente crítico durante a atual crise de extinção dos anfíbios”, dizem os autores, agravada pela combinação da perda de habitat, das alterações climáticas e das infeções por fungos, uma das principais causas de mortalidade entre esse grupo de animais vertebrados.





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