Descoberta nova espécie de planta ‘fantasmagórica’ que não faz fotossíntese e depende de simbiose com fungos



Quando pensamos em plantas, imagens de folhas verdes e a noção de fotossíntese são dos primeiros aspetos que nos surgem na mente, sendo tidas como características essenciais e distintivas destes seres vivos. Contudo, algumas plantas desafiam essa categoria mais tradicional e dão-lhe um novo significado.

O género Monotropastrum é composto por plantas desprovidas de clorofila, que lhes daria a típica cor verde, que absorve nutrientes dos filamentos que irradiam de fungos com os quais estabelece e mantém uma relação simbiótica. Por isso, os cientistas dizem que essas plantas são mico-heterotróficas.

Até bem recentemente, apenas uma espécie de Monotropastrum tinha sido identificada, a Monotropastrum humile, encontrada nas regiões oriental e sul do continente asiático, especialmente em florestas onde existe pouca luz solar, tendo de procurar outras formas de produção de energia que não seja através da fotossíntese. E, assim, surge a relação de simbiose com os fungos.

Contudo, há cerca de 20 anos, foi descoberta no Japão, na região de Kirishima, uma nova espécie desta planta peculiar, a Monotropastrum kirishimense, que exibe pétalas rosadas e caules quase translúcidos e de cor esbranquiçada que lhe conferem um aspeto único, como se tivesse saído da mente de um escritor de ficção-científica.

Monotropastrum kirishimense (de A a c); Monotropastrum humile (de D a F)
Fonte: Universidade de Kobe

Inicialmente, pensava-se que essa nova espécie fosse uma mera variante da M. humile, mas uma longa investigação procurou determinar se realmente se tratava da mesma espécie ou se a Ciência estava perante uma totalmente nova.

Recolhendo espécimes de M. humile no Japão, em Taiwan e no Vietnam, cientistas da Universidade de Kobe descobriram várias diferenças entre essas plantas, designadamente na forma das flores e na profundidade a que as suas raízes estão enterradas no solo e a altura a que crescem acima dele.

Além disso, o período de floração da M. humile acontece aproximadamente 40 dias antes do da M. kirishimense, algo que os investigadores sugerem que pretende evitar o cruzamento entre as duas espécies e a criação de híbridos, uma vez que o principal polinizador de ambas as plantas é o mesmo, um abelhão da espécie Bombus diversus. Se florescessem na mesma altura, a probabilidade de ocorrer o cruzamento seria bastante elevada.

Os cientistas avançam com algumas hipóteses sobre a evolução separada destas duas espécies. Uma delas prende-se com a especialização na obtenção de nutrientes, pois das duas espécies desenvolveram relações simbióticas com diferentes fungos. Outra teoria sugere que não é possível a reprodução entre as duas espécies, mantendo-as, assim, em ‘ramos’ distintos da árvore da vida.

“Por isso, este estudo sugere que a M. kirishimense pode ter evoluído para uma espécie nova através da dependência de um tipo específico de fungo”, explicam os autores da descoberta divulgada na revista ‘Journal of Plant Research’.

Por divergirem no que toca à aparência, à floração, à história evolutiva e às relações ecológicas, os investigadores acreditam mesmo que estamos perante duas espécies realmente distintas.

Este estudo alerta também para a vulnerabilidade a que estas plantas do género Monotropastrum estão expostas, pois “dependem de ecossistemas específicos para sobreviverem e são habitualmente encontradas em florestas de crescimento antigo”. E avisam que a recém-descoberta M. kirishimense é uma espécie rara e que se pensa estar ameaçada de extinção, pelo que, agora que se sabe que existe, deve ser alvo de esforços de conservação para que essa planta não se perca para sempre.





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