Desflorestação e alterações climáticas empurram Amazónia para ‘ponto de não-retorno’, alerta WWF



A floresta tropical amazónica é um dos biomas mais diversos do mundo, albergando, pelo menos, 9% das espécies de mamíferos, 14% das espécies de aves, 8% das espécies de anfíbios, 13% das espécies de peixes de água doce e 22% das espécies de plantas vasculares. E os cientistas estimam que, em alguns locais, até 90% da biodiversidade ainda não foi cientificamente documentada.

Conhecida como o ‘pulmão do mundo’, estende-se por 6,7 milhões de quilómetros quadrados, produz 20% da água doce que chega ao oceano Atlântico, tem uma capacidade para armazenar entre 150 e 200 mil milhões de toneladas de carbono nos seus solos e vegetação e desempenha um papel fundamental na regulação climática da Terra. Contudo, tudo isso poderá mudar se não foram implementadas medidas fortes para proteger a Amazónia de atividades humanas destrutivas.

Um relatório publicado esta semana pela World Wildlife Foundation (WWF), intitulado ‘Living Amazon Report 2022’, revela que “a Amazónia está atualmente numa situação crítica, enfrentando uma variedade de pressões e ameaças, quer à sua biodiversidade, quer aos povos e comunidades tradicionais que aí vivem”. Estima-se que a Amazónia seja casa para 47 milhões de pessoas, entre elas 2 milhões de indígenas distribuídos por mais de 500 grupos distintos.

A organização ambientalista aponta que mais de 18% dessa floresta tropical já foi destruída e que uns adicionais 17% estão classificados como degradados. O pastoreio extensivo, a agricultura e atividades extrativistas, tanto legais como ilegais, como a mineração, “ameaçam a região e causam a desflorestação e a degradação do bioma, com muitas áreas severamente afetadas”.

Os especialistas da WWF alertam que “a situação começa a dar sinais de estar perto de um ‘ponto de não-retorno’: as estações estão a mudar, as águas superficiais estão a perder-se, os rios estão a tornar-se cada vez mais desconectados e poluídos, e as florestas estão sob uma imensa pressão de ondas crescentemente devastadoras de desflorestação e fogos”.

Se essa tendência de destruição se mantiver, “um dos pilares da estabilidade planetária em termos de clima e biodiversidade e um dos principais bastiões de diversidade cultural e de conhecimento ancestral” poderá ser perdido. E isso “poderá levar a mudanças irreversíveis no futuro próximo, representando um risco extremamente sério para o planeta”, avisam os autores.

“Uma Amazónia ecologicamente saudável é parte do delicado equilíbrio dos sistemas ambientais da Terra que tornam possível a vida como a conhecemos”, explica o relatório, pelo que a sua crescente degradação e eventual perda “podem alterar drasticamente as características climáticas da América do Sul, afetando a segurança alimentar de toda a região”, e agudizar ainda mais os efeitos prejudiciais das alterações climáticas, impactando o planeta inteiro.

Cobrindo oito países – Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname –, a Amazónia deve ser gerida e protegida através da ação concertada entre os vários Estados que por ela são diretamente tocados. “Todos os países amazónicos têm um papel a desempenhar na proteção e na gestão sustentável do bioma”, argumentam os ambientalistas, e devem estar cientes de que “as suas ações, tanto positivas como negativas, afetam outras partes do bioma e, assim, devem ser coordenadas”, algo que, até ao momento, não tem acontecido, enfraquecendo, assim, a proteção da floresta tropical.

O documento avança também que “as empresas que exploram os recursos naturais da Amazónia, e que constituem uma força económica devastadora que impulsiona a desflorestação”, têm de parar de exportar os produtos da “destruição ambiental” para “os países do ‘Primeiro Mundo’”.

“É tempo de estabelecer um modelo de coexistência com os atributos ecológicos do bioma que se baseie no respeito pelos processos responsáveis pela origem e manutenção da sua diversidade biológica e, acima de tudo, pelos territórios e conhecimento tradicional dos povos indígenas que habitam na Amazónia há milénios”, salienta a WWF, que apela a que os governos, o setor público e o privado criem “um novo pacto a favor da natureza e das pessoas”, para que a Amazónia “se mantenha viva durante muitas mais gerações”.





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