Design das termiteiras pode ajudar a otimizar gastos energéticos dos nossos edifícios



As térmitas, tal como as formigas, são consideradas os grandes ‘engenheiros’ da Natureza. Além de serem fundamentais para o ciclo de nutrientes e para o enriquecimento dos solos, por consumirem matérias vegetal morta, constroem verdadeiros ninhos, as termiteiras, que são autênticos arranha-céus biológicos, que podem chegar aos oito metros de altura.

Estima-se que existam perto de duas mil espécies de térmitas em todo o planeta, com a maior diversidade a concentrar-se na América do Sul, embora também ocorram nas regiões desérticas de África e do Médio Oriente, bem como, em menor quantidade, na América do Norte e na Europa.

Para poderem sobreviver às altas temperaturas de alguns locas onde vivem, as térmitas, ao longo de milhares de anos de evolução, foram aperfeiçoando as técnicas de construção dos seus ninhos, estruturas complexas repletas de túneis interconectados que permitem a circulação do ar e impedem que a temperatura interior atinja níveis demasiado elevados.

As termiteiras estão repletas de pequenos túneis que fazem o ar circular pelo interior da estrutura, libertando a humidade e o calor em excesso e ajudando a arrefecer o interior do ninho.
Foto: David Andréen, da Universidade de Lund

Numa altura em que a Terra está em franco aquecimento, fruto do efeito de estufa gerado pelas emissões de gases poluentes para a atmosfera, e em que as sociedades humanas procuram libertar-se da dependência dos combustíveis fósseis e reduzir os custos com a climatização das suas casas, estes pequenos insetos podem ter muito a ensinar sobre a forma como desenhamos e construímos os nossos edifícios.

Pelo menos é isso que nos diz uma dupla de cientistas da Suécia e do Reino Unido, num artigo publicado esta sexta-feira na revista ‘Frontiers in Materials’. David Andréen, da Universidade de Lund e primeiro autor, explica que as a estrutura das termiteiras “pode ser usada para promover novas formas de fazer circular o ar, o calor e a humidade na arquitetura humana”.

A investigação teve como foco o estudo das termiteiras da espécie Macrotermes michaelseni na Namíbia, cujas colónias podem ter mais de um milhão de indivíduos, e que no seu centro têm ‘jardins’ de fungos que as térmitas cultivam para se alimentarem.

Termiteira em Waterberg, na Namíbia.
Foto: avid Andréen, da Universidade de Lund

A rede de túneis dessas estruturas permite libertar o excesso de humidade no interior ao mesmo tempo que mantém a ventilação necessária à manutenção de uma temperatura adequada.

“Quando ventilamos um edifício, queremos preservar o delicado equilíbrio entre a temperatura e a humidade no interior, sem impedir a saída do ar estagnado e a entrada de ar fresco”, aponta Rupert Soar, da Nottingham Trent University e o outro autor do artigo, referindo que os aparelhos de climatização de hoje em dia têm dificuldades em conseguir esse equilíbrio.

Através de experiências laboratoriais em amostras de termiteiras, os investigadores perceberam que a ventilação no interior dessas estruturas é impulsionada pelo próprio vento, que sopra pelos túneis, expulsando o ar estagnado e injetando ar fresco e libertado o calor e humidade em excesso.

Os cientistas acreditam que, no futuro, as paredes dos nossos edifícios conterão túneis microscópicos que permitirão arrefecer as nossas casas, sem ser preciso recorrer a equipamento de ar condicionado, ajudando a reduzir o consumo de energia e, também, as emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera.

“Estamos perto de uma transição para a construção semelhante ao que vemos na Natureza”, diz Soar. “Pela primeira vez, será possível desenhar um edifício que consiga verdadeiramente vivo e capaz de respirar”, salienta.





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