E se os antibióticos deixassem de “matar” as bactérias?



Já imaginou viver num mundo onde os antibióticos deixassem de funcionar? Onde uma simples infecção deixasse de ter cura porque o antibiótico prescrito não consegue destruir as bactérias que estão a causar a infecção?

Essa realidade pode estar bem mais perto do que imagina, porque os antibióticos já não estão a desemprenhar as funções que supostamente deveriam – “matar” as bactérias. Desde que Alexander Fleming descobriu a penicilina há 85 anos, quase todas as estirpes de bactérias que começaram a ser sujeitas aos antibióticos sofreram mutações e tornaram-se resistentes.

Estas novas bactérias resistentes matam agora milhares de pessoas por ano e, de acordo com um artigo sobre a resistência bacteriana, publicado no jornal médico The Lancet, o cenário pode ficar ainda mais assustador de nada for feito.

“Raramente a medicina moderna enfrentou uma ameaça tão grave como esta. Sem antibióticos, os tratamentos para pequenas cirurgias ou para transplantes vão tornar-se impossíveis”, indica a equipa de investigadores médicos no artigo do The Lancet. “As taxas de mortalidade associadas a infecções nos países desenvolvidos podem voltar aos níveis verificados no início do século XX”, afirmam, cita o Quartz.

A razão pela qual os antibióticos já não estão a desemprenhar a função para a qual foram concebidos reside no facto de estarem a ser mal administrados, nomeadamente aos pacientes errados. Em vez de serem prescritos a pacientes com graves infecções, a maioria dos antibióticos está a ser consumida por animais e por pessoas que não estão doentes o suficiente para justificar a prescrição do seu uso.

Os animais, nomeadamente os das explorações pecuárias, consomem a maioria dos antibióticos produzidos anualmente, uma vez que os agricultores tentam rentabilizá-los ao máximo em locais sem condições sanitárias.

Simultaneamente, os países subdesenvolvidos encorajam o uso excessivo de antibióticos. A falta de acesso a cuidados médicos também potencia esta situação, uma vez que a única fonte de informação em locais com falta de assistência médica podem ser apenas as companhias farmacêuticas.

Na China, por exemplo, um cidadão comum toma dez vezes mais antibióticos do que um cidadão dos Estados Unidos e a venda de antibióticos gera um quarto das receitas de dois grandes hospitais chineses. Mas mesmo os sistemas de saúde dos países desenvolvidos prescrevem antibióticos a mais, sublinha o estudo.  Quanto mais os humanos e os animais consumirem antibióticos desnecessariamente, maior a probabilidade de as bactérias se tornarem resistentes e os antibióticos perderem o seu efeito.

E o que pode ser feito para evitar bactérias resistentes? Segundo o artigo a intervenção pode ser feita em duas áreas: a administração de antibióticos a animais, excepto em situações terapêuticas, deve acabar e a venda deste tipo de medicamentos sem receita médica deve ser banida, com excepção dos países subdesenvolvidos. É também necessário, destaca o artigo, que a indústria farmacêutica desenvolva mais antibióticos, mas isso levará tempo.

Foto:  adonofrio (Biology101.org) / Creative Commons





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