Ecodesign: Decathlon compromete-se a reduzir em 20% as emissões de CO2 até 2026
Transformar o desporto para respeitar os limites do planeta é o compromisso assumido pela Decathlon para atenuar os impactos sobre a Natureza da produção dos seus artigos e equipamentos desportivos sobre os ecossistemas.
“Queremos que o desporto e o Ambiente sejam compatíveis”, disse Raffaele Duby, responsável de Desenvolvimento Sustentável da marca francesa esta semana, numa conferência de imprensa em Chamonix, em França, onde a ‘Green Savers’ esteve presente. Para alcançar esse objetivo, a empresa estabeleceu uma meta para redução de emissões globais de dióxido de carbono de 20% até 2026, face aos valores de 2021, ou seja, pretende cortar 9,2 milhões de toneladas desse gás com efeito de estufa nos próximos três anos.
De acordo com os dados apresentados, 86,5% da pegada carbónica absoluta da Decathlon advém dos seus produtos, sendo que desse total metade do impacto é causado pela produção dos artigos e equipamentos, 20,4% é provocado pela extração das matérias-primas usadas e o restante vem do uso e do fim de vida.
Por exemplo, a marca avaliou que a produção de ténis de corrida do seu modelo ‘Run Active M’ gera 9,98 quilogramas de CO2. Para mitigar esses impactos sobre o planeta, a Decathlon diz ter um ‘trunfo’: o ecodesign.
Números da Agência Europeia do Ambiente indicam que a produção de vestuário e de calçado são responsáveis por 10% do total de emissões de dióxido de carbono a nível mundial, mais do que todos os voos internacionais e o transporte marítimo combinados. Como tal, mudar a forma de produzir esses artigos é fundamental para reduzir os danos causados ao planeta.
Posto de uma forma simples, o ecodesign trata-se de conceber os produtos da forma mais eficiente possível, otimizando o uso de materiais, reduzindo os consumos de energia e matérias-primas, e apostando numa maior durabilidade e na reciclabilidade dos artigos, com uma ênfase acrescida sobre a circularidade dos materiais.
Segundo a Decathlon, atualmente já 23% dos seus produtos são fruto dessa nova forma de conceção, sendo que o objetivo é chegar aos 100% até 2026. “É um objetivo ambicioso, mas necessário, para respeitar os limites do planeta”, salientou Raffaele Duby.
Claro que o ecodesign não é uma ‘bala de prata’, pois, como assumiu Marc Peyregne, responsável de Ecodesign da marca, continuarão a existir impactos ambientais, mas será possível, ainda assim, reduzi-los substancialmente.
Ao aproveitar ao máximo os materiais pode minimizar-se os resíduos, ao aumentar a presença de materiais reciclados pode atenuar-se a dependência de matérias-primas virgens e atenuar a pressão sobre os ecossistemas, e ao substituir uns materiais por outros (como o alumínio pelo aço) consegue-se reduzir os impactos ambientais negativos e aumentar a durabilidade dos produtos.
“Queremos produtos que sejam usados durante muito tempo”, afirmou Marc Peyregne, e isso passa também pela possibilidade de reparação, pelo que o ecodesign tem como um dos principais pilares um modelo de conceção que permita criar e fabricar artigos e equipamentos que sejam facilmente reparáveis e recicláveis.
Na Moutain Store da Decathlon, na região francesa de Passy, diante dos cumes nevados de Mont Blanc, Benoit Jeulin, responsável pelo desenvolvimento sustentável dos produtos de montanha, uma das principais áreas de negócio da Decathlon, avançou que 25% dos artigos e equipamentos desse segmento já são fruto do ecodesign e que representam 44% das compras por parte dos clientes.
Garrafas de plástico e sobras podem ajudar a reduzir impactos e potenciar a circularidade
Uma das principais limitações apontadas pela empresa francesa no que toca à reciclabilidade dos seus produtos prende-se com o algodão. Foi-nos dito que 30% é o máximo de algodão reciclado que pode estar contido num produto, uma vez que, argumenta a marca, mais do que isso coloca em causa a durabilidade do artigo. Além disso, apontou Benoit Jeulin, há materiais naturais são mais danos para o ambiente do que os sintéticos, indicando que “o algodão natural tem impactos mais significativos do que o poliéster sintético”.
Qualquer das formas, é possível atenuar essas pressões ambientalmente negativas se, por um lado, o algodão provier de agricultura biológica ou se forem reaproveitadas as sobras de materiais virgens, ou, por outro, se o poliéster, por exemplo, for criado a partir de garrafas de plástico. A Decathlon fechou 2021 com 40% do poliéster que utiliza a vir de “fontes mais sustentáveis”.
Emmanuelle Francois, diretora de produto da Quechua, uma das marcas da Decathlon, explicou que várias das camisolas são já feitas com poliéster e algodão reciclados, o que permite, por cada quilo de produto, reduções de CO2 de 5% e de 75%, respetivamente, face aos seus equivalentes ‘virgens’.
Reconhecendo que há alguns anos a maioria dos compradores poderia hesitar em comprar produtos com materiais reciclados, a responsável considera que, hoje, “as pessoas têm maior consciência dos impactos ambientais” e procuram cada vez mais esse tipo de artigos e equipamentos.
Confrontada com a questão dos custos, Emmanuelle Francois admitiu que, na verdade, é atualmente mais caro produzir algo com materiais reciclados do que com materiais virgens, mas ressalvou que, otimizando os processos de produção, é possível fazer com o que o preço final para o cliente se mantenha inalterado.
*O jornalista viajou até Chamonix, França, a convite da Decathlon.