Elefante-asiático perde mais de 60% do seu habitat em apenas 300 anos
Desde 1700, o elefante-asiático (Elephas maximus) perdeu perto de 3,36 milhões de quilómetros quadrados de habitat na Ásia, cerca de 64% da sua distribuição histórica. Entre as principais causas estão a destruição das florestas e a sua conversão para agricultura, explorações madeireiras e em terrenos de pastagem.
A conclusão é de uma investigação realizada por uma equipa internacional de cientistas e foi divulgada esta quinta-feira na revista ‘Scientific Reports’, com base na análise de dados sobre o uso das terras no continente asiático entre os anos 850 e 2015.
Os autores revelam que, antes de 1700, os habitats dos elefantes-asiáticos apresentavam uma relativa estabilidade, mas que o período colonial, com a introdução da Ásia de “novos sistemas de valores, forças de mercado e políticas governamentais”, terá revolucionado a forma de uso dos solos, levando ao desaparecimento de grandes extensões de áreas florestadas e de pradarias, que são os ecossistemas ideais para esta espécie.
“Há indícios de que, nos anos 1600 e 1700, houve uma mudança dramática no uso da terra, não apenas na Ásia, mas globalmente. Por todo o mundo, vemos uma transformação realmente dramática que tem consequências que persistem ainda hoje”, refere Shermin de Silva, da Universidade da Califórnia, e outro dos autores.
O estudo sugere ainda que, devido à contração do seu habitat, cada vez mais elefantes estão a caminhar por áreas agora habitadas por humanos e a procurar alimento em áreas cultivadas, aumentando o risco de conflitos entre uns e outros. Considerando que o elefante-asiático está hoje classificado, pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), como uma espécie ‘Em Perigo’, com menos de 50 mil indivíduos no total, é fundamental perceber as razões desses confrontos e minimizar os seus desfechos mais trágicos.
Escrevem os cientistas que a falta de “habitat adequado” em mais de metade da atual distribuição dos elefantes-asiáticos “sugere um alto potencial para interações negativas com as pessoas”.
“Este estudo tem importantes implicações para o nosso entendimento da história das paisagens de elefantes na Ásia”, afirma Philip Nyhus, da Colby College, dos Estados Unidos da América, e um dos coautores do artigo, acrescentando que a investigação ajudará também a conceber novas paisagens em habitats que foram profundamente alterados nos últimos séculos e a desenhar programas de conservação dessa espécie ameaçada.
“Para podermos construir uma sociedade mais justa e sustentável, temos de perceber a história de como chegámos onde hoje estamos”, explica Shermin de Silva, da Universidade da Califórnia, e outro dos autores. “Este estudo é um passo em direção a essa compreensão”, salienta.
Os investigadores alertam que, embora as populações de elefantes-asiáticos tenham demonstrado uma grande capacidade de resiliência e adaptação perante as perdas de habitat, a contínua conversação dos solos de florestas e pradarias poderá ultrapassar o limite dessa ‘flexibilidade ecológica’, colocando cada vez mais pressão sobre a espécie.
Perceber “a relação entre as práticas passadas de gestão de terras e a distribuição [atual] dos ecossistemas dos elefantes”, pode ler-se no artigo, poderá ser uma forma de estudos futuros ajudarem a criar políticas ecológicas e sociais mais adequadas.