Em Portugal, a maior parte dos dias de Verão serão de calor extremo
Lembram-se dos dias terríveis de calor em meados de Junho? Preparem-se, porque só vai piorar, diz uma investigação da Universidade de Aveiro (UA), concluído que, nos próximos cem anos, aumentam em cinco vezes o número de ondas de calor em toda a Península Ibérica. A grande parte dos dias de Verão serão mesmo dias de calor extremo. O estudo, que analisa “as ondas de calor e suas características, levando em conta os cenários futuros”, foi publicado na semana passado no International Journal of Climatology e pode ser consultado online.
É uma evidência que a frequência destes eventos extremos está a aumentar de ano para ano, e a de Junho, que ocorreu por toda a Europa e que em Portugal teve a consequência trágica do fogo florestal de Pedrogão Grande, foi apenas a última. Mas é isso que podemos esperar no futuro.
Susana Pereira, Martinho Marta-Almeida, Ana Cristina Carvalho e Alfredo Rocha, autores do estudo e investigadores do Departamento de Física da UA, simularam três períodos representativos: “um histórico de referência (1986-2005), um futuro a médio prazo (2046-2065) e um outro para um futuro mais distante (2081-2100)”. Para todos foram calculados as ondas de calor e analisadas as suas características, nomeadamente a duração, intensidade e factor de recuperação, ou seja a diferença entre a temperatura máxima e mínima num dia de onda de calor. Quando comparados os valores do clima actual, e os valores do clima futuro (2081-2100), verifica-se que então que na Península Ibérica ocorrerão cinco a seis ondas de calor por ano, representando cinco vezes mais do que acontece actualmente. Pior ainda, essas ondas, que agora se mantêm por cinco dias em média por ano, passarão a prolongar-se até uma média de 40 a 50 dias. Grande parte do Verão será passado em calor extremo. E como o factor de recuperação também vai diminuir, nem à noite as pessoas se vão conseguir refrescar.
Sobre o Acordo de Paris, que procura limitar o aumento da temperatura a 1,5º C, os autores também defendem que “a temperatura média global já aumentou 1.1ºC. Claramente que esse acordo será muito difícil de concretizar, sobretudo porque as taxas de aumento de temperatura estão também a aumentar. No entanto, é fundamental implementar acções de mitigação, no sentido de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, de forma a minimizar o aquecimento global”.
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