Presidente da Quercus: “Em Portugal ainda não convivemos bem com a natureza”



“Em Portugal ainda não convivemos bem com a natureza” afirmou Alexandra Azevedo, Presidente da Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza (ANCN), no Encontro Regional “Alternativas aos Herbicidas: desafios e dinâmicas locais” que se realizou hoje no Auditório do Laboratório da Paisagem de Guimarães.

Na sessão de abertura, Alexandra Azevedo explicou que “é muito importante” haver uma “cooperação entre o poder político e o poder local” e que o ritmo dessa cooperação tem de acelerar. Para a responsável, o desafio é sair da teoria para a prática até porque “em Portugal ainda não convivemos bem com a natureza” e, por isso, “ainda há muito caminho pela frente”.

Adelina Paula Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães, afirmou que o Laboratório da Paisagem de Guimarães é o “braço-armado” do município “nesta caminhada da sustentabilidade ambiental”. “É preciso, de facto, pensar nesta questão das alternativas aos herbicidas”, sublinhou.

Já José Padrão, membro da direção da ANAFRE, explicou que qualquer ação das freguesias “tem um efeito imediato na população” e, por isso, têm vindo a implementar medidas para apoiar a sustentabilidade ambiental. No entanto, acrescentou, “há dois campos difíceis de gerir relativamente aos herbicidas: as expectativas das pessoas e a capacidade financeira”. Para o responsável, o cidadão “acha muitas vezes que está à parte disto. Só exige e não faz mais nada”, lamentou, sublinhando que”, hoje, podemos dar mais um pequeno passo nesta evolução e mudança de mentalidades”.

“Quando pensarmos em plantar uma árvore é preciso contextualizar o ambiente urbano”

Seguiu-se a intervenção de Viriato Oliveira, arboricultor, intitulada “Espaços Verdes de baixa manutenção: A árvore em meio urbano”. “As pessoas têm uma certa resistência ao arvoredo urbano. Há um certo divórcio com a natureza dos portugueses”, sublinhou o arboricultor, alertando para o facto de termos de “ter noção que quando plantamos uma árvore não estamos a plantar para o momento atual. Os benefícios de uma árvore vêem-se passados 20, 30 anos. O próprio conforto onde está a árvore só é verificado passados muitos anos, não é instantâneo, não há benefícios imediatos e isto tem de ser bem pensado”.

Neste contexto, explicou que a arboricultura se baseia em várias ciências e que “há imensas áreas que têm de ser dominadas para um arboricultor poder corrigir e bem aconselhar”. “Quando pensarmos em plantar uma árvore é preciso contextualizar o ambiente urbano”. Desde o fornecimento arbóreo “que é muitas vezes de fraca qualidade” até ao pessoal especializado, que “é muito difícil” encontrar.

Para Viriato Oliveira a seleção e sucessão das espécies são muito importantes para a plantação de árvores nas cidades. “A diversidade das espécies nas cidades também tem uma certa influência em tudo isto. Há subpopulações de determinadas espécies que representam quase 70% de todas as cidades. Isto também é crítico, por exemplo, se tivermos uma praga que se alimente dessas espécies. É preciso escolher espécies diferentes e pensar nas condições que a árvore vai ter. Temos de investir na parte de estudo prévio antes da plantação, é o que falta”, realçou o responsável enumerando algumas situações que devem ser prevenidas, como os danos durantes obras condenando qualquer viabilidade futura da árvore e a desinformação da população no que a boas práticas diz respeito.

O arboricultor acrescentou que resolver esta situação passa pela experiência em árvores, pelo conhecimento das ameaças biológicas, pelo ordenamento local e nacional, entre outros pontos e deu o exemplo dos carros afetados por uma gosma quando estacionam debaixo das tílias plantadas na cidade. “As pessoas odeiam as tílias por causa disso. Mas, aplicando o conhecimento, seria possível evitar isto plantando outra espécie de tília. A escolha de uma espécie diferente pode fazer toda a diferença”, explicou o responsável, sublinhando, em jeito de conclusão, que “é preciso sensibilizar as pessoas para esta situação. As árvores são importantes e é possível viver em harmonia com elas”.

Meios urbanos “não promovem” contacto com a natureza

Após um momento de debate extensível à plateia, seguiu-se a primeira mesa-redonda intitulada “Movimentos Cívicos”. Paulo Gomes, da AVE – Associação Vimaranense para a Ecologia, sublinhou que gostavam que se fosse ainda mais longe, que houvesse uma proibição a nível europeu do uso de pesticidas, enquanto José Fonseca, representante da Brigada Verde da União de Freguesias de Airão Santa Maria, Airão São Julião e Vermil (Guimarães), revelou que a “forma limpar as bermas não é tão boa quanto gostaríamos, porque a não utilização de herbicidas, além de mais custosa, pelo menos visivelmente, não é aquilo que os cidadãos gostariam de ver”.

Já Gil Pereira, do Famalicão em Transição, lamentou o nosso afastamento da natureza, porque os meios urbanos “não promovem esse contacto com a natureza”. “Portanto”, acrescentou, “é natural que a nossa relação com a natureza seja de estranheza e isso vai desembocar na ideia de que, por exemplo, as ruas tenham de estar sempre limpas de ervas. A nossa prática diária é de separação total em relação ao mundo rural”, lamentou. Segundo o responsável, “já está comprovado que existe um efeito direto na saúde humana, com a prática de uso de herbicidas” e, por isso, “é preciso muitos anos de um pensamento diferente e práticas diferentes”.

Fernanda Botelho, do Movimento Sintra sem Herbicidas, sublinhou que “não há herbicidas biológicos”, que “há ervas que não fazem mal a ninguém” e que é “preciso haver uma reeducação para a importância da flora silvestre e eu não vejo que esteja a ser feito”. Para a responsável, “não faz sentido estarmos a usar produtos nas plantas que são cancerígenos”, que também sugeriu como uma das soluções um “bom anúncio” porque a televisão “tem uma força incrível”.

Durante a tarde, e depois de uma atividade prática, seguiu-se a Mesa Redonda intitulada “Desafios e Dinâmicas locais na abordagem sem herbicidas e Políticas integradas na gestão do território” durante a qual responsáveis de várias autarquias locais partilharam as suas experiências.





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