Em tempos de seca, árvores dão prioridade à água e abrem mão da fotossíntese



Quando a água escasseia, as árvores fecham os estomas, estruturas tipo poros que existem na superfície inferior das folhas e que regulam as trocas gasosas com o ambiente, para impedir a perda de água por evaporação.

Contudo, ao fecharem os estomas ficam impedidas de absorver dióxido de carbono (CO2) e, assim, de fazerem a fotossíntese. Uma investigação divulgada recentemente na revista ‘Nature Plants’ revela que, contrariamente ao que se pensava, as árvores, em condições de pouca água disponível no solo, dão prioridade ao seu crescimento em detrimento da fotossíntese.

Ansgar Kahmen, da Universidade de Basileia (Suíça) e um dos principais autores do artigo, recorda que durante muito tempo se pensou que a fotossíntese, que é tão central na vida das plantas e um dos seus traços mais distintivos no mundo dos seres vivos, só seria ativamente interrompida se o indivíduo não tivesse mesmo outra opção, e no limite dos limites. Mas não será bem assim.

A evaporação de água pelos estomas cria um efeito de “sucção” que faz com que a água se mova pela planta desde as raízes, passando pelo caule, até às folhas, onde substituirá a água perdida. É durante a noite, quando não há sol, que as plantas tendem a repor a água que perderam durante o dia. Assim, de estomas fechados, crescem mesmo nas horas mais escuras do dia.

No entanto, se a disponibilidade de água no solo não for suficiente, a planta, essencialmente, não conseguirá crescer, e pode acontecer que a habitualmente contínua coluna de água no seu interior seja mesmo ser interrompida, com a formação de “bolhas” de ar, conhecidas como embolias.

“Quando isso acontece, ocorrem danos irreparáveis, o sistema de transporte de água colapsa e a planta, eventualmente, morre”, diz Ansgar Kahmen. O conhecimento existente apontava que as plantas só fechavam os estomas escassos momentos antes de as embolias ocorrerem, para poderem fazer o máximo de fotossíntese possível antes de isso se tornar fatal.

No entanto, os investigadores dizem que tudo indica que as plantas fecham os estomas muito antes de o risco de embolia se tornar real, especialmente se tiverem dificuldades na absorção de água durante a noite.

“Pela primeira vez, fomos capazes de mostrar que uma árvore nem sequer abre os seus estomas de manhã se não tiver conseguido absorver água suficiente durante a noite”, explica o biólogo, para quem isso significa que, quando a água é pouca, as árvores abrem mão da fotossíntese em prol da continuação do seu crescimento.

Para Kahmen, este mecanismo de sobrevivência tem uma boa razão de ser, uma vez que se a planta parar de crescer por causa da falta de água, não importa que consiga fazer a fotossíntese pois não será capaz de usar os produtos desse processo.

“Por isso, o objetivo não é otimizar a fotossíntese e mantê-la durante o maior tempo possível, mas sim utilizar os produtos da fotossíntese da forma mais eficiente possível para o crescimento”, salienta em nota.

Esta investigação tem também implicações no que diz respeito aos cálculos sobre a capacidade de absorção da CO2 das plantas, ou seja, sobre a sua capacidade para agirem como sumidouros de carbono e ajudarem no combate às alterações climáticas.

Em condições de seca, fenómenos que se tornarão cada vez mais frequentes e intensos devido ao aquecimento global acelerado muitas vezes pelas emissões de gases com efeito de estufa das atividades humanas, os estomas das plantas estarão abertos por períodos mais curtos, pelo que a quantidade de CO2 absorvida será menor.

“Os modelos climáticos que assumem um dado crescimento no volume de armazenamento de carbono terão, por isso, de ser adaptados”, defende Richard Peters, primeiro autor do estudo.






Notícias relacionadas



Comentários
Loading...