Emirados Árabes Unidos comprometem-se a investir 4,5 mil milhões de dólares em energias limpas em África



Os Emirados Árabes Unidos comprometeram-se hoje a investir 4,5 mil milhões de dólares em energias limpas em África, durante a primeira cimeira sobre o clima, que visa promover o potencial do continente como potência verde.

O Presidente do Quénia, William Ruto, anfitrião da Cimeira do Clima de África (CCA), que decorre em Nairobi, afirmou na abertura do evento esta segunda-feira que o continente tem uma “oportunidade sem paralelo” de se desenvolver, ao mesmo tempo que ajuda a combater o aquecimento global, se conseguir atrair o financiamento necessário.

Hoje, os Emirados Árabes Unidos, que vão acolher no final do ano no Dubai a próxima conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP28), anunciaram o primeiro compromisso que resulta desta cimeira.

Sultan Al Jaber, que dirige a empresa petrolífera nacional dos Emirados Árabes Unidos, a ADNOC, e a empresa estatal de energias renováveis Masdar, afirmou que o investimento, equivalente a 4,18 mil milhões de euros, irá “desbloquear a capacidade de África para alcançar uma prosperidade sustentável”.

Um consórcio, que inclui a Masdar, ajudará a desenvolver 15 gigawatts de energia limpa até 2030, afirmou Sultan Al Jaber, que também presidirá aos debates na próxima COP28.

A capacidade de produção de energia renovável do continente era de 56 gigawatts em 2022, de acordo com a Agência Internacional de Energia Renovável.

A transição para as energias limpas nos países em desenvolvimento é crucial para manter o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a “menos” de dois graus Celsius desde a era pré-industrial e, se possível, a 1,5°C.

Para alcançar este objetivo, a Agência Internacional da Energia (AIE) afirma que o investimento terá de atingir os dois biliões de dólares (1,85 biliões de euros) por ano durante a próxima década, um aumento de oito vezes.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou num discurso proferido hoje em Nairobi à “correção do rumo do sistema financeiro global”, garantindo um “mecanismo eficaz de alívio da dívida” a taxas acessíveis.

“O sistema financeiro mundial tem de ser um aliado dos países em desenvolvimento na condução de uma transição ecológica justa e equitativa que não deixe ninguém para trás”, acrescentou Guterres, antes de destacar o potencial de África para se tornar “um líder mundial em energias renováveis”.

“A África possui 30% das reservas minerais essenciais para as tecnologias renováveis e de baixo carbono, como a energia solar, os veículos elétricos e as baterias”, recordou.

Também Al Jaber apelou a uma “intervenção cirúrgica na arquitetura financeira global, construída para uma era diferente”, instando as instituições internacionais a reduzirem o peso da dívida, que está a paralisar muitos países.

“África detém a chave para acelerar a descarbonização da economia global. Não somos apenas um continente rico em recursos. Somos uma potência de potencial inexplorado, ansiosa por se envolver e competir de forma justa nos mercados globais”, disse igualmente William Ruto na segunda-feira.

O especial enfoque da cimeira em questões financeiras está a provocar a oposição de defensores do ambiente. Na segunda-feira, centenas de pessoas manifestaram-se perto do local da cimeira para denunciar a “agenda profundamente corrupta” do evento, acusando-a de centrar-se nos interesses dos países ricos.

As organizações da sociedade civil apelaram ao Presidente William Ruto para que não inclua na cimeira a discussão de mecanismos como os mercados de créditos de carbono.

A abertura do segundo dia da cimeira, que decorre até esta quarta-feira, contou ainda com a presença do presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahammat, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do Presidente do Quénia, William Ruto, do Presidente das Comores e chefe rotativo da UA, Azali Assoumani, e do primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly.

No final da cimeira, em que participam mais de vinte chefes de Estado e de Governo africanos, bem como líderes de organizações internacionais, espera-se que seja adotada a chamada “Declaração de Nairobi”, que procura articular uma posição africana comum a levar a diferentes fóruns mundiais.

Os líderes africanos querem lançar em Nairobi a construção de uma perspetiva unificada para levar à cimeira do clima COP28 no Dubai, mas também à Assembleia Geral da ONU e ao G20 e instituições financeiras internacionais.

O alcance de uma posição comum deste tipo afigura-se como um objetivo ambicioso para um continente que alberga 1,4 mil milhões de pessoas – entre as mais vulneráveis às alterações climáticas em todo o planeta – em 54 países política e economicamente muito diferentes.





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