Webinar “Empresas + Circulares”: adotar soluções com menos e melhor plástico



A CIP – Confederação Empresarial de Portugal e a Sociedade Ponto Verde (SPV) organizaram em parceria esta quinta-feira, o último webinar inserido no ciclo de encontros empresariais “Empresas + Circulares” dedicado à Economia Circular, com o apoio da EY-Parthenon. O tema desta sessão foi “Estratégias adotadas nas embalagens”, tendo como principal objetivo debater questões relacionadas com a sua gestão e oportunidades para uma melhor valorização e otimização em todo o seu ciclo de vida.

Participaram neste ciclo de debates mais de 1600 empresas de diferentes setores, o que demonstra o empenho das empresas e a motivação de transição para uma economia mais circular.

Carla Sequeira, Secretária-Geral da CIP, confirma esta vontade, mas deixa uma nota aos representantes do Estado e da sociedade civil: “Que não haja dúvidas que as empresas querem fazer a transição para uma economia verde. Mas essa transição tem de assegurar que as empresas europeias não perdem competitividade ao nível global, pois de outra forma será o emprego e a sustentabilidade social que estarão em causa”.

A profissional relembra ainda que as empresas portuguesas estão a passar a sua segunda crise e precisam de apoio para se reerguer. “Se queremos que as empresas invistam em tecnologia e processos mais amigos do ambiente, como todos queremos, inclusive os empresários, temos que lhes dar tempo e utilizar os muitos fundos disponíveis para apoiar essa transição”.

Ana Isabel Trigo Morais, CEO-Administradora Delegada da SPV, concorda e destaca a importância de dar tempo às empresas para que possam introduzir na sua atividade as medidas necessárias para acompanhar a transformação acelerada do quadro legislativo que é necessário adotar. “É necessário seguirmos com proximidade estas alterações, promovendo um processo político participado, colaborativo e sobretudo um processo político mais próximo daquilo que é a realidade das empresas. Portugal tem algumas dificuldades em muitas transposições das diretivas. Temos muitas vezes quadros regulatórios difíceis de implementar pelas empresas”, refere a responsável.

Ana Moreira da Unilever garante que o caminho já está a ser trilhado há mais de 10 anos. “Somos uma multinacional, a nossa abrangência é global e, por isso, temos a responsabilidade de ter um impacto positivo, já não basta não ter um impacto negativo no meio ambiente e na sociedade”. A estratégia da empresa passa por reduzir o plástico produzido – como é o caso das embalagens de Lipton – pela introdução de plástico reciclado, como já acontece em produtos como o Magnum, Dove, Tresemmé ou Skip. “Vamos passar cada vez mais para uma ótica de recargas para as embalagens. O consumidor compra uma primeira embalagem completa, exemplo do CIF, e depois pode simplesmente comprar recargas que, juntando esse concentrado com água, volta a ter o produto diluído, sem ter de comprar uma nova garrafa e uma nova pistola” explica, Ana Moreira, acrescentando que “o consumidor tem de ter apetência e interesse nestas propostas. Não pode ser unilateral”.

Na Auchan, 93% dos resíduos são já valorizados, dos quais 53% dos resíduos geridos internamente são de embalagens. Até 2025, a empresa assume o compromisso de ter todas as embalagens de marca própria e de serviço reutilizáveis, 100% recicláveis ou compostáveis. No âmbito do Pacto Europeu dos Plásticos, ao qual aderiu, a Auchan compromete-se ainda a maximizar a venda de produtos a granel, alimentares e não alimentares, onde já tem cerca de 600 referências de produtos disponíveis. Também os conceitos de redução, reutilização e substituição de plástico estão presentes, como acontece por exemplo nos cotonetes, cujo plástico foi substituído por papel. Alexandra Madeira, da Auchan, confirma o aumento da procura de clientes por produtos mais sustentáveis, “embora o consumo em massa não esteja ainda sensibilizado para este tipo de questões”.

Relativamente à Nestlé, o objetivo passa por serem neutros em carbono até 2050, através de múltiplas linhas de ação: eliminação de embalagens secundárias, otimização e inovação em novas embalagens, utilização de materiais alternativos, reforço dos sistemas refill, entre outras. Beatriz Guimarães, da Nestlé, explica que em Portugal mais de 90% das embalagens são já desenhadas para serem recicláveis. Um esforço que implica inovação, como foi o caso das embalagens da Buondi, onde conseguiram substituir um laminado que não era reciclável por um monomaterial reciclável, evitando assim 2,2 quilómetros quadrados de alumínio por ano, e que agora pretendem escalar às restantes marcas de café da fábrica até ao final do ano. Nota ainda para as embalagens de Smarties, onde o plástico foi substituído por papel, ou para as latas de NAN, que incorporam hoje materiais de origem vegetal, no caso, de cana de açúcar.

Também o transporte é parte essencial do processo de transição para uma economia mais verde. Por isso mesmo, os CTT lançaram o projeto Green Deliveries, onde além de embalagens reutilizáveis no e-commerce – onde os clientes podem devolver as embalagens num posto ou marco CTT e serem recompensados por isso – promovem ainda uma condução ecoeficiente e fazem a compensação carbónica de toda a operação, através da compra de créditos de neutralidade carbónica.

Destaque ainda para o papel que a informação standardizada e codificada e a ciência de dados podem ter nestes novos desafios, ajudando à tomada de decisão por parte de empresas e entidades públicas, como explicaram Raquel Abrantes, da GS1, entidade que introduziu o código de barras em Portugal há 36 anos, e Miguel Gonzalez, da Minsait, empresa que se encontra a desenvolver um projeto de “Smart Country” em Espanha.

Na Beta-i está em marcha o Resource Innovation, um projeto focado nas categorias de vidro, plástico e alumínio. Uma iniciativa lançada em março, em parceria com a SPV e com mais 13 parceiros, e que pretende juntar start-ups e empresas para testar soluções de inovação no terreno, e cujos resultados serão públicos em outubro.

O encontro foi encerrado com António Nogueira Leite, Presidente do Conselho de Administração da SPV, que reforçou o empenho da SPV em contribuir com conhecimento, atualidade e originalidade para que as embalagens, os resíduos de embalagens e todo o seu ciclo de vida seja um setor de relevância, quer no panorama ambiental, quer económico. “É necessário interiorizar que os resíduos são um efetivo recurso com potencial de transformar Portugal num país verdadeiramente pioneiro na transição verde”, afirma.





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