Entrevista a Ângela Morgado: Objetivo da Hora do Planeta é “alertar para a perda de natureza decorrente das alterações climáticas”



Neste ano a Hora do Planeta assinala-se hoje, dia 23 de março, em todo o mundo, incluindo em Portugal, entre as 20h30 e as 21h30 (hora local). A iniciativa é promovida pela WWF e reconhecida pelo icónico desligar de luzes e de aparelhos eletrónicos não-essenciais levado a cabo por milhões de pessoas como incentivo a agir por um planeta mais sustentável.

Em entrevista à Green Savers, Ângela Morgado, diretora-executiva da organização não-governamental WWF em Portugal, fala sobre a iniciativa e revela que a Hora do Planeta foi criada pela organização não-governamental WWF Austrália (World Wide Fund for Nature) a 31 de março de 2007 “com um objetivo claro: alertar para a perda de natureza decorrente das alterações climáticas e não, como muitos ainda pensam, como forma de poupança energética”.

  1. Qual é o objetivo da Hora do Planeta?

A Hora do Planeta foi criada pela organização não-governamental WWF Austrália (World Wide Fund for Nature) a 31 de março de 2007 com um objetivo claro: alertar para a perda de natureza decorrente das alterações climáticas e não, como muitos ainda pensam, como forma de poupança energética. A ideia era, ao apagar as luzes de edifícios públicos, monumentos, ruas e casas durante 60 minutos, o Planeta — sujeito diariamente a imensa pressão em relação aos seus recursos — tinha então oportunidade de regenerar e as pessoas de se reconectarem com a natureza. A iniciativa contou com 2,2 milhões de indivíduos e mais de 2 mil empresas, sendo que, logo no ano seguinte, juntaram-se mais 35 países, um deles Portugal. O sucesso foi de tal ordem que rapidamente milhões de cidadãos em todo o mundo aderiram — particulares, empresas, instituições e governos —, assumindo-se hoje como o maior movimento global pela defesa do ambiente, com representação em mais de 190 países e territórios (90% do mundo).

  1. Este ano, vai decorrer a 23 de março (sábado), entre as 20h30 e as 21h30 (hora local), em mais de 190 países e territórios. Pretende incentivar as pessoas a irem além do gesto simbólico de desligar as luzes e os equipamentos eletrónicos não-essenciais (telemóvel, computador…) por 60 minutos.  Por isso lançaram a campanha ‘pequenas ações, grande impacto’. Qual a finalidade?

Apesar de a Hora do Planeta ser conhecida de todos pelo icónico apagão global, nomeadamente de monumentos emblemáticos — como a Torre Eiffel em Paris, o Big Ben em Londres e o Castelo de S. Jorge em Lisboa —, em rigor, desde a 10.ª edição que este gesto simbólico e mais passivo evoluiu para algo maior e mais ativo. A WWF começou a incentivar as pessoas a “irem além da hora”; ou seja, a finalidade era que cada um de nós prolongasse esta Hora do Planeta durante todo o ano com ações concretas. Entretanto, em 2023, foi lançada oficialmente a campanha ‘pequenas ações, grande impacto’. Portanto, a nossa proposta é que cada cidadão faça parte da mudança global, contribuindo com pequenas alterações exequíveis no seu dia a dia. O mais indicado, para que realmente haja um compromisso efetivo, é começar por mudar hábitos de áreas que a pessoa se identifique. Vou dar alguns exemplos: para quem aprecia refeições vegetarianas, ter um dia da semana para optar por uma; se vai remodelar a casa, escolher uma decoração com algumas peças em segunda mão ou reutilizar objetos já usados; caso goste de caminhar, andar a pé sempre que possível (cinema, trabalho, escola, médico…). Isto é importante porque, se cada um cumprir o seu objetivo, tudo somado permite que a nossa casa comum, que é o Planeta, se recupere mais rapidamente e que seja mais sustentável no presente e no futuro. O ideal, na verdade, seria que cada pessoa tivesse diariamente a sua Hora do Planeta, ou seja, implementarmos a Hora do Planeta fora da Hora do Planeta.

  1. Para promover a adesão a este movimento global, disponibilizaram nas últimas semanas um Banco de Horas no site da Hora do Planeta (não no da WWF). Este foi o primeiro ano em que houve uma página no site acessível a todas as pessoas. Que balanço fazem da iniciativa?

Na realidade, o Banco de Horas já começou no ano passado, mas só as pessoas que participavam nos eventos da Hora do Planeta é que podiam indicar o tempo doado ao ambiente. Em 2023, a nível mundial foram contabilizadas 410 mil horas. Neste ano, decidimos universalizar a iniciativa e criar uma página no site, a qual cumpre dois objetivos. O primeiro é fornecer uma listagem de sugestões de ações que se podem fazer pela natureza. A segunda função deste banco é dar a possibilidade a cada um, esteja onde estiver, de registar o número de horas doadas ao longo do dia 23 (e não apenas durante o apagão) e quais as atividades realizadas. No final, a WWF faz as contas daquilo que se pretende criar: a Maior Hora pelo Planeta. Neste momento ainda não conseguimos fazer um balanço, mas acreditamos que se trata de um conteúdo de interesse geral e que promove as tais ‘pequenas ações, grande impacto’, o envolvimento e a responsabilização individual.

  1. Um dos focos de comunicação foi também envolver mais os municípios, quer como divulgadores da iniciativa quer como organizadores de atividades locais para a Hora do Planeta. Como é que correu?

Os municípios são parceiros fundamentais pela proximidade real às pessoas. Para se ter uma ideia da evolução da participação, na primeira edição (2008), contámos com 11 e, nos últimos anos, temos registado uma média de 100. Portanto, o crescimento foi enorme, sendo que esta mudança deve-se a dois fatores. O primeiro, porque as autarquias, enquanto poder político, têm cada vez mais consciência da necessidade de realizarem ações reais e positivas a nível ambiental. Por outro lado, as próprias pessoas percebem, nomeadamente pelo impacto das alterações climáticas no seu dia a dia — temperaturas extremas de frio e de calor, secas, cheias, (…) — que também elas podem fazer a diferença para termos um ambiente mais saudável. Neste ano, até ao momento já se inscreveram cerca de 90 municípios, sendo que a maioria vai organizar atividades no dia 23. O objetivo é que esta rede cresça, claro, e que, se possível, nos próximos anos integre cada vez mais municípios. Seria algo extraordinário ter Portugal unido pelo ambiente.

  1. O que é que está previsto fazerem nas próximas edições?

A WWF a nível mundial, e também a nível nacional, planeia as diretrizes gerais da Hora do Planeta durante o ano. Por isso, ainda não há nada previsto para as próximas edições. No entanto, o desejável é que cada vez mais pessoas adiram, se envolvam e desenvolvam uma verdadeira comunidade global. Com este cenário, seguramente que conseguíamos reduzir imenso o impacto dos efeitos nocivos das alterações climáticas.

  1. Quais é que são os principais objetivos ambientais para 2024?

Este é um ano importante, não só em termos políticos nacionais, mas também a nível europeu. Iremos dar continuidade ao diálogo com os partidos a fim de procurar as melhores soluções para as pessoas e para o Planeta. Vamos avançar com a nossa segunda remoção de uma barreira fluvial obsoleta, continuar as nossas ações de restauro ecológico da paisagem em diferentes áreas geográficas do país, lutar pela defesa e proteção do lobo, continuar a apoiar a implementação da cogestão das pescarias em Portugal e lutar para alcançar um plano de gestão e conservação do tubarão e da raia, bem como manter o trabalho de observação de golfinhos no Estuário do Tejo.





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