Entrevista a David Sousa: Alterações climáticas são o “maior desafio” dos produtores e segurar as suas colheitas é uma decisão “necessária”



A Green Savers falou com David Sousa, Diretor da SEMPER, sobre os riscos das alterações climáticas para as empresas, do setor Agrícola e da Indústria Transformadora às áreas da Construção ou Energia. Para o responsável, as alterações climáticas “são, sem sobra de dúvida, o maior desafio, presente e futuro, que os produtores enfrentam” e “segurar as suas colheitas é uma decisão acertada e necessária”.

  • A SEMPER, com quase uma década de existência, é uma operadora internacional de seguros que desenvolve uma das suas principais atividades nos seguros para Cultura em Estufas ou nas soluções de Índices Climáticos. Que balanço faz destas atividades, particularmente, em Portugal?

A SEMPER é um operador que procura soluções para os seus clientes no mercado internacional e que conta, entre outros, com seguros de cultura em estufa e de índices climáticos na sua oferta. O produto de estufas que fornecemos desde 2012 é uma solução já testada e que fornece uma cobertura muito importante e abrangente para os produtores. Quanto ao seguro de índices climáticos, apesar de ser uma solução inovadora e com uma grande aplicabilidade ao sector, tem tido ainda menor adesão por parte do mercado, sobretudo pelo facto de o preço não ter a tradicional subsidiação, sendo, contudo, uma mostra do tipo de soluções que o sector segurador é capaz de produzir para apoiar e mitigar os riscos a que os produtores estão sujeitos.

  • Em 2021 o negócio cresceu 6% impulsionado pelo setor agrícola. A que se deve esta aposta por parte das empresas desta área?

Creio que existe uma maior consciência dos riscos que os produtores correm e como as alterações climáticas contribuem para uma maior gravidade e frequência desses riscos, potencialmente catastróficos para a exploração agrícola. As alterações climáticas são, sem sobra de dúvida, o maior desafio, presente e futuro, que os produtores enfrentam. Segurar as suas colheitas é uma decisão acertada e necessária.

  • Num momento em que mais empresas veem a sua atividade impactada por fenómenos naturais, o ramo segurador é confrontado com a necessidade de responder eficazmente à gestão de um risco que já não é apenas emergente, mas estrutural. De que forma estão a fazê-lo?

Uma das formas como o sector segurador está a responder é através de novos produtos, tal como em relação aos índices climáticos e ao seguro de culturas em estufa. Outra realidade é a alteração dos critérios de subscrição, incluindo cada vez mais informação e recorrendo a IA, bem como, naturalmente, a um endurecimento das condições de mercado, com imposição de níveis de franquia mais elevados, limites mais reduzidos em alguns setores e sobretudo por um repricing dos produtos, exigindo um maior preço para a garantia dos mesmos riscos. Todas estas soluções são importantes ferramentas para a gestão de risco, incluindo do sector agrícola, mas outros sectores, igualmente afetados pelas alterações climáticas, contam também com soluções mitigadoras, servindo de exemplo o seguro de índice climáticos, que tem aplicabilidade em áreas como a indústria, a construção e as energias renováveis.

  • Quais os riscos ambientais que as empresas enfrentam?

Os fenómenos climáticos extremos têm o potencial de afetar seriamente a capacidade produtiva das empresas, sendo exemplos paradigmáticos o sector agrícola e energético, mas não se limitando a estes. No nosso país, a seca é um fenómeno que representa um elevado risco para a produção agrícola e de energia hídrica, que se estima que se venha a agravar nos próximos anos.

  • Quais os principais desafios do futuro?

É difícil prever os desafios que teremos ou a força com que irão impactar os vários sectores de atividade económica. A recente pandemia provocada pelo COVID-19 demonstrou-nos o grau de imprevisibilidade com que nos deparamos e os fenómenos climáticos extremos são um exemplo recorrente do tipo de desafios com que iremos ter de continuar a lidar no futuro.

  • O setor segurador está bem capacitado para responder à atual conjuntura?

O setor segurador tem revelado, apesar de todas as crises financeiras ou climáticas, uma solidez notável e uma grande capacidade de gestão da incerteza, inovando, ao mesmo tempo, com o lançamento de novas soluções cada vez mais ajustadas à realidade social e económica e com enormes investimentos tecnológicos que permitem cada vez melhor compreender e gerir o risco, independentemente das alterações conjunturais.

  • A presidente da supervisão dos seguros e fundos de Pensões alertou que a ASF irá estar “particularmente atenta aos fenómenos de greenwashing” sublinhando “a responsabilidade do setor segurador ao nível da divulgação de informações relacionadas com a sustentabilidade e de informações pré-contratuais”. Como é que avalia esta divulgação?

Creio que têm sido feitos grandes progressos no sentido de aumentar a transparência nos seguros, com claros benefícios para o consumidor final. A ação do regulador é crucial para assegurar o cumprimento do dever de transparência dos operadores no mercado, mas também de orientar esses mesmos operadores no sentido de, não apenas cumprir, mas ativamente promoverem a transparência e sustentabilidade.





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