Entrevista a Francisco Mello e Castro, Unidos Contra o Desperdício: “Portugal desperdiça todos os anos um milhão de quilos de alimentos”



Em entrevista à Green Savers, o coordenador executivo do Movimento Unidos Contra o Desperdício, Francisco Mello e Castro, traça um balanço da atividade deste projeto, fundado há menos de um ano, mas que tem feito a diferença em Portugal.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas Para a Alimentação e a Agricultura (FAO), todos os anos um terço da produção alimentar do planeta é desperdiçada. Foi para combater este flagelo mundial e nacional que nasceu o Movimento Unidos Contra o Desperdício, que tem alertado e consciencializado pessoas e empresas a lutar contra este problema com enormes impactos económicos, sociais e ambientais.

Fundado por várias entidades, este Movimento tem por objetivo facilitar o aproveitamento de excedentes, tornar habitual a luta contra o desperdício alimentar, incentivar e facilitar a doação das sobras, bem como promover um consumo responsável. É um projeto de sensibilização e comunicação com várias vozes e diferentes tons, que une e congrega empresas, instituições, o público e o privado e as várias gerações em torno do objetivo único de lutar contra o desperdício alimentar.

Em março também a Green Savers se uniu a este Movimento, promovendo acções e sensibilizando os seus leitores. Consciencializar a sociedade civil para a temática do desperdício alimentar, requer a construção de um guião consistente e permanente, com mensagens claras e desafios à ação concretos, de fácil implementação. Para o Movimento Unidos Contra o Desperdício esta é uma missão que precisa de todos, e foi nesse sentido que os responsáveis apresentaram um plano repleto que resulta da união a essas ações de empresas, associações, entidades públicas e particulares, a essas ações.

Os responsáveis da iniciativa, esperam que se juntem oportunidades e iniciativas espontâneas dos vários setores da sociedade. O Movimento vai continuar a atuar em quatro linhas distintas que permitam impactar os públicos-alvo: um Portal Digital, uma base digital que agrega todos os conteúdos, informações e dicas úteis no combate ao desperdício alimentar; campanhas institucionais, com mensagens claras e simples que desconstruam mitos e ensinem o consumidor; projetos de comunicação que, apoiados na amplificação dos principais grupos de media nacionais, permitem levar dicas práticas e conteúdos didáticos aos públicos-alvo estabelecidos; uso da marca que, de forma gratuita, pode ser aplicada em comunicação de outras marcas, empresas ou eventos que queiram de forma clara desafiar os intervenientes para uma mudança de comportamento no que diz respeito ao desperdício alimentar.

Em entrevista à Green Savers, Francisco Mello e Castro, Coordenador Executivo do Movimento Unidos Contra o Desperdício, conta um pouco mais sobre este projeto.

Como é que surgiu a ideia de lançarem o Movimento Unidos Contra o Desperdício?

A ideia surge da Isabel Jonet, Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, a propósito do dia 29 de setembro de 2020, decretado pela primeira vez pela ONU como o “Dia Internacional para a consciencialização sobre perdas e desperdício alimentar”.

Sendo o Banco Alimentar um agente tão importante no combate ao desperdício – mais de 80% dos produtos alimentares que o Banco Alimentar faz chegar à mesa de quem tem fome, são provenientes de excedentes dos diversos setores da cadeia alimentar, excedentes esses que teriam como destino mais habitual o lixo – e atendendo à enorme urgência que o tema do desperdício alimentar acarreta, fazia todo o sentido criar-se, em Portugal, um Movimento agregador e congregador que pudesse reunir todos os que diariamente se esforçam para combater este flagelo com impactos gravíssimos a nível social, económico e ambiental.

Foi um arranque difícil? Juntar à mesma mesa parceiros como a CIP, Aped, CAP…

Na maior parte de projetos e iniciativas deste estilo, o mais difícil é agregar. Mas neste caso e felizmente, a credibilidade da Isabel Jonet e do Banco Alimentar, impulsionadores deste Movimento, permitiram um fácil acesso a todas estas entidades e a aceitação quase imediata para fazerem parte do projeto, que consideraram oportuno e muito urgente.

Desde a criação em setembro de 2020 muitas empresas – grandes e pequenas – têm aderido ao Movimento. Estas empresas vêm ao vosso encontro, já conscientes do problema do desperdício alimentar, ou são vocês que as tentam consciencializar?

Nestes sete meses de existência, o Movimento tem de facto conquistado o interesse das mais variadas empresas em aderir e fazer parte desta união de combate ao desperdício, que, através dos exemplos de todas, quer sensibilizar para mudar atitudes e comportamentos. Em todos os casos são essas mesmas empresas, pequenas e grandes, que muito nos têm ensinado e consciencializado.

Na equipa do Movimento costumamos dizer que cada reunião que temos com cada uma dessas empresas é uma porta que se abre para um Mundo novo. E aprendemos sempre mais sobre o desperdício e sobre aquilo que é muito bem feito em Portugal no sentido de o evitar e combater.

Sentem que estão a fazer a diferença nestes sete meses de vida? Quais os próximos objetivos?

Quem realmente faz a diferença são todas as pessoas e empresas que assumem comportamentos cívicos e responsáveis no seu dia a dia, ajudando a evitar e combater o desperdício alimentar. Nós somos apenas um agregador, que “provoca” o mercado no sentido de se poder fazer mais e melhor e de poder dar voz aos bons exemplos que se somam de Norte a Sul, pelo país inteiro. É esse o nosso grande objetivo: unir e congregar empresas entidades, instituições, o público e o privado e as várias gerações em torno do objetivo único de lutar contra o desperdício alimentar.

O desperdício alimentar não é um problema apenas nacional. Há a ambição de tornar este Movimento internacional?

Por agora não. Há muito trabalho a fazer em Portugal.

Quer deixar aos nossos leitores um desafio ou uma nota sobre o flagelo do desperdício alimentar?

Segundo dados da FAO, cada português desperdiça em média 97 quilos de alimentos por ano. A maior fonte de desperdício não está no campo, nem nas fábricas, nem muito menos nos supermercados. Está em nossas casas. Somos, individualmente e nesse aspeto, os campões do desperdício em Portugal.

Cabe a nós mudar isso, com pequenas e simples ações no nosso quotidiano: planear as compras para a semana com uma lista simples, ler corretamente as validades dos alimentos – não faz sentido deitarmos um iogurte ao lixo só porque passou da validade um ou dois dias. Tudo ações muito simples que podem claramente mudar estes números gravíssimos que, em conjunto, estimam que Portugal desperdiça todos os anos um milhão de quilos de alimentos.





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