Entrevista a Maria Rebelo: 55% da oferta de correio, expresso e encomendas dos CTT “já incorpora materiais reciclados”



“Um programa de sustentabilidade robusto é competitividade”, diz a Diretora de Sustentabilidade dos CTT em entrevista à Green Savers. Maria Rebelo explica que o principal objetivo para a próxima década é “atingir um balanço carbónico zero em termos líquidos até 2030, com 50% de veículos ‘verdes’ na última-milha até 2025 e 100% até 2030”, revela que 55% da oferta de correio, expresso e encomendas “já incorpora materiais reciclados” e que pretendem “expandir a mais produtos da oferta CTT nos próximos anos”.

– Qual a importância da sustentabilidade para o setor onde os CTT se inserem?

A sustentabilidade é muito relevante para o setor da logística e entregas. Este é um setor que pela natureza do seu negócio tem uma pegada carbónica considerável e os CTT, a par dos maiores operadores postais em todo mundo, têm empreendido esforços significativos para a redução das emissões de gases poluentes resultantes da sua atividade.

O setor postal foi pioneiro no lançamento de um programa de gestão carbónica há 10 anos, liderado pelo IPC – International Post Corporation. Os resultados do esforço coletivo para a mitigação das alterações climáticas, questão-chave nesta indústria, têm sido muito positivos. Com 600 mil veículos elétricos nas ruas, a redução do impacto ambiental da rede de veículos está no topo das prioridades do setor e os principais operadores postais, a nível mundial, que participam neste programa, estão comprometidos a reduzir a metade as suas emissões carbónicas coletivas até 2030.

Nos CTT, temos bem presente a responsabilidade de sermos agentes ativos nesta matéria e olhamos para a Sustentabilidade como um tema central da estratégia de desenvolvimento – Faster, Better, Greener.

– Considera que uma empresa mais ‘verde’ é uma empresa mais competitiva?

Sim. Um programa de sustentabilidade robusto é competitividade. Tem um reflexo positivo em termos da reputação da marca e fortalece a gestão de risco, trazendo vantagens competitivas para o sucesso de longo prazo do negócio das empresas que escolhem fazer este caminho.

Sabemos que os clientes estão cada vez mais exigentes e informados e que olham para a sustentabilidade dos produtos como um fator chave na hora de decidir. A escolha dos investidores também privilegia, cada vez mais, a sustentabilidade. Os próprios colaboradores preferem empresas com propósitos alinhados com os princípios ESG com os quais se identificam. Há cada vez mais parceiros a quererem fazer parte da jornada da sustentabilidade.

Logo, as empresas precisam de criar valor para os seus vários stakeholders além dos acionistas, dentro dos limites do planeta e com respeito pelas necessidades e qualidade de vida das pessoas.

– O negócio tem de ser lucrativo para ser sustentável e contribuir para a redução da pegada ambiental como resposta aos critérios de sustentabilidade ESG?

A sustentabilidade, nas suas dimensões ambiental, social e de governação (tradução portuguesa da sigla ESG), necessita de ser endereçada de uma forma consistente pelas empresas e o equilíbrio entre estas dimensões, incluindo o sucesso económico do negócio, é que é complexo de operar.

Nos CTT procuramos esse equilíbrio e o nosso programa de transformação prioriza a integração da sustentabilidade nas várias dimensões. No que respeita à Governança, pretendemos introduzir incentivos específicos ligados a objetivos ESG para 50% da gestão de topo e média até 2030, para continuar a aumentar o envolvimento das pessoas na cultura e objetivos estratégicos da empresa. A nível social e no que respeita às pessoas dos CTT, pretendemos assegurar a paridade de género na gestão de topo e intermédia até 2025 e ambicionamos ser um dos principais empregadores em Portugal alavancando uma cultura centrada nas pessoas e no seu bem-estar. A respeito do impacto social, vamos continuar a reforçar a nossa presença ibérica, bem como o convite aos nossos colaboradores e colaboradoras e às suas famílias para participarem em programas sociais e de voluntariado que conduzam a um forte impacto positivo nas comunidades locais. Comprometemo-nos ainda a assegurar que 1% do EBIT recorrente seja investido em programas de impacto social até 2025. Na vertente ambiental temos como principal objetivo para a próxima década atingir um balanço carbónico zero em termos líquidos (Net-Zero) até 2030, com 50% de veículos “verdes” na última-milha até 2025 e 100% até 2030.

Nunca é demais referir que este caminho que nos propomos atingir assenta no trabalho de equipa de todas as áreas da empresa e nasce do compromisso das mais de 12 mil pessoas dos CTT e também dos nossos parceiros em fazer mais e melhor. Sabemos que é um caminho necessário percorrer e que requer trabalho de adaptação, é exigente. Estamos a traçá-lo diariamente com o empenho, para contribuirmos para a criação de um futuro próspero.

– Como é que se constrói uma marca mais sustentável?

Como mencionado, é necessária a integração da sustentabilidade, como um todo, nas áreas de negócio das empresas. Nos CTT, priorizámos recentemente objetivos para 2025 e 2030 focados no bem-estar das pessoas CTT, das comunidades locais e na proteção do planeta, alicerçados por práticas de boa governança.

Há mais de uma década que implementamos políticas voltadas para a sustentabilidade, focadas na proximidade às comunidades, na gestão energética e carbónica da frota dos CTT e do nosso parque de edifícios e ainda na segurança rodoviária, tema crucial num setor como o nosso. Mas há ainda caminho a fazer. Sabemos para onde queremos ir e todas as áreas da empresa são envolvidas para atingirmos as metas ambiciosas que traçámos no médio e longo prazo e que veem reforçar o posicionamento dos CTT no setor logístico, em Portugal e em Espanha.

Neste percurso, é importante referir as parcerias que estabelecemos e que são essenciais para construir a reputação da marca na sustentabilidade. É um caminho a percorrer por todos. Temos várias em curso e irei destacar apenas algumas.

Um primeiro exemplo de sucesso é a parceria que fizemos com a To-Be-Green, uma spin-off da Universidade do Minho, que começou com um projeto desenvolvido para dar uma segunda vida às máscaras descartáveis usadas, transformando-as em novos produtos, como pequenos enfeites de Natal. Este projeto foi distinguido com o Prémio Coups de Coeur na categoria ambiental, da PostEurop (organização setorial) e, atualmente, estamos a incorporar o polímero resultante do processamento de resíduos de plástico dos CTT na produção de tabuleiros utilizados nas áreas operacionais de tratamento de objetos de correio, expresso e encomendas. Hoje, os CTT operam já com 13 mil unidades de tabuleiros produzidos com material reciclado.

Com vista a reforçar a aposta estratégica dos CTT no consumo de energias renováveis, assinámos recentemente uma parceria estratégia com a EDP, para a instalação de centrais de produção de energia solar em mais de 40 localizações dos CTT. Esta parceria beneficia a nossa estratégia de descarbonização, uma vez que utilizamos esta energia para autoconsumo, bem como as comunidades envolventes, dado que o excedente é vendido pela EDP às comunidades envolventes a tarifas reduzidas, criando os bairros solares.

Em termos de responsabilidade social, importa ainda referir a parceria de longa data com a Quercus na iniciativa “Uma Árvore pela Floresta”. Esta é uma iniciativa de cidadania participativa em que os clientes, o tecido empresarial, entidades públicas e o público em geral são convidados a participar e a contribuir para a preservação da floresta portuguesa.  Cada kit “Uma Árvore pela Floresta” vendido nas nossas lojas e loja online é convertido numa espécie autóctone plantada e todas as pessoas podem acompanhar o crescimento do bosque que estão a ajudar a criar e fazer parte das equipas que voluntariamente participam nas plantações. Desde a primeira edição, já plantámos mais de 115 mil árvores de norte a sul de Portugal.

– O tema das alterações climáticas e da transição energética está na agenda dos CTT? De que forma?

Sim. Nos CTT, ambicionamos atingir a meta Net-Zero em termos de balanço carbónico de toda a cadeia de valor em 2030 e, para a alcançar, estamos comprometidos com um forte programa de descarbonização que inclui, necessariamente, uma acelerada eletrificação da nossa frota.

Há já uns bons anos que os CTT têm vindo a reforçar a sua posição em todas as dimensões de ESG, com especial enfoque na vertente ambiental e este é um compromisso muito exigente. O caminho está a ser feito para a transição energética e estamos confiantes de que estamos em condições de cumprir o desafio.

Temos vindo a ser consecutivamente reconhecidos em posições de liderança no setor e a nível mundial no combate às alterações climáticas, pelo CDP – Carbon Disclosure Project e no Sustainability Measurement and Management System (SMMS) do IPC – International Post Corporation.

O caminho para a descarbonização é traçado por múltiplas vias. De qualquer forma e sabendo que os CTT adquirem 100% da eletricidade que consomem proveniente de energias renováveis, a atividade da frota toma especial relevância e é onde estamos a concentrar os nossos esforços e atenção, atualmente e para os próximos anos.

Neste sentido, temos em curso um relevante plano de eletrificação da nossa frota própria, que conta atualmente com mais de 500 veículos elétricos, a maior frota alternativa do setor logístico nacional. O ano 2022 foi um de grande aposta na renovação e eletrificação da frota com a integração de centenas de veículos elétricos para distribuição, tema que continuará a ser alvo de um forte compromisso de investimento a manter já este ano.

– O que é que os CTT estão a fazer para tornar Portugal um país mais sustentável?

Comprometidos com as metas definidas para a próxima década e também fruto da exigência dos consumidores, os CTT têm apostado na inovação para colocar no mercado ofertas cada mais responsáveis, que minimizem a pegada carbónica e ambiental dos nossos produtos.

Esta preocupação é relevante para ir ao encontro das expetativas dos nossos clientes que, mais do que consumidores, se apresentam como cidadãos cada vez mais exigentes e responsáveis e que usam os seus hábitos de consumo para viver de acordo com os seus valores. Segundo o e-Commerce Report 2022, apresentado pelos CTT, a adoção de iniciativas concretas no domínio da sustentabilidade é já uma realidade para 75% dos e-buyers em Portugal. Essas iniciativas vão desde a atenção ao packaging dos produtos, à pegada carbónica associada à entrega, à natureza dos próprios produtos que se compram online, com a preocupação dos critérios ambientais e sociais com que os mesmos são produzidos a estar cada vez mais presente.

Neste âmbito, oferecemos o conhecido Correio Verde, que alia a conveniência na facilidade de utilização à minimização do impacto ambiental associado, ao ser produzido com papel e cartão reciclados e tintas de impressão menos poluentes, e ao oferecer um sistema de compensação carbónica sem custos adicionais para o cliente.

Temos também uma oferta de serviço de entregas 100% “verde” para clientes empresariais, em que a distribuição é feita exclusivamente com veículos elétricos nos códigos postais contratualizados para algumas zonas do país.

Lançámos a embalagem CTT Eco reutilizável em plena pandemia, construída para o segmento do e-commerce e que tem o potencial de poder ser usada até 50 ciclos de envio na entrega de encomendas. Nos CTT, somos aliados da prática de estender a vida útil dos produtos e materiais que usamos, disponibilizando também opções mais responsáveis aos nossos clientes. Outro exemplo disso é o projeto-piloto que iniciámos em algumas Lojas do País, nas quais disponibilizamos farripas de papel 100% produzidas com resíduos CTT para o enchimento das embalagens de envio de objetos postais.

Mais recentemente, os CTT e a The Loop Company estabeleceram uma parceira com a Fnac para alargar o serviço FNAC RESTART a todo e qualquer cliente, em território nacional, que possua uma ligação à internet, utilizando, para tal, a plataforma de economia circular Ciclo CTT. A solução disponibilizada pelos CTT em parceria com a Loop é uma nova oferta que visa permitir aos retalhistas montar e testar uma operação de economia circular para venda de produtos recondicionados dos seus clientes, sem investimento inicial, sem desenvolvimentos no site e de forma simples.

No âmbito dos vários serviços digitais de proximidade que os CTT oferecem e para responder às novas exigências do mercado, é também relevante destacar a nova marca de cacifos automáticos, a Locky, já disponível em cerca de 450 localizações e 10 mil portas. Esta é uma oferta inovadora que, além das vantagens para os clientes em termos de comodidade, segurança e conveniência, assume uma componente de proteção ambiental, pois ao permitir a entrega de várias encomendas numa mesma localização, da conveniência dos utilizadores, promove a diminuição da dispersão de veículos de entrega na distribuição da última milha.

A digitalização é suportada por um conjunto de tecnologias que imprimem um ritmo de transformação acelerado na forma como vivemos, trabalhamos, aprendemos e temos acesso a bens e serviços essenciais. Usada como meio facilitador, a tecnologia pode ajudar a criar valor para a economia, para o ambiente e também para as pessoas e sociedade em geral.

– Que práticas devem adotar os CTT com vista a uma diminuição da sua pegada ecológica?

A nossa atuação diária passa pela adoção de práticas mais justas em termos de utilização dos recursos naturais e pela inovação na nossa oferta de produtos e serviços.

Em 2022, 55% da oferta de correio e expresso e encomendas já incorpora materiais reciclados, prática que pretendemos expandir a mais produtos da oferta CTT nos próximos anos. Neste âmbito, pretendemos incorporar material reciclado e/ou reutilizado em 80% da oferta de correio e de E&P até 2025 e 100% até 2030

Além disso, todos os anos, os CTT compensam a pegada da oferta de Correio Verde e da oferta Expresso em termos de emissões carbónicas diretas que não conseguimos eliminar, isto é, resultantes da atividade direta da Empresa realizada em Portugal.  Para o efeito, a cada dois anos, apoiamos dois projetos de compensação carbónica, um nacional e outro no estrangeiro, que tenham um impacto positivo a nível ambiental e também social. A seleção destes projetos é efetuada pelo público, o qual convidamos a votar no site dos CTT, sendo depois os projetos mais votados, que reúnem a preferência da população, os que financiamos. Em 2022, os projetos eleitos dizem respeito a iniciativas de conservação de organismos fluviais em Portugal e de Reflorestação na Amazónia. Dada a adesão continuada dos nossos clientes à oferta Correio Verde, além da oferta Expresso, esta iniciativa participativa demonstra a importância crescente que os nossos stakeholders dão ao impacto das suas decisões de consumo.

A par da nossa oferta, promovemos também a sensibilização para a mudança de hábitos através de iniciativas de comunicação direcionadas aos nossos cerca de 12 mil colaboradores e também à comunidade geral.

– Qual a estratégia de sustentabilidade do Grupo rumo ao objetivo de alcançar a meta net zero em 2030?

Para alcançarmos a meta Net Zero em 2030, precisamos de acelerar a trajetória de descarbonização e para tal pretendemos incorporar 50% de veículos “verdes” na última-milha até 2025 e 100% até 2030.

Temos vindo a testar diferentes modelos de veículos elétricos ao longo dos anos e a incorporar este tipo de motorização, em quantidades limitadas até ao passado recente, na nossa frota. Os testes realizados têm sido úteis para aprendizagem interna sobre o que procurar num mercado hoje mais desenvolvido e no qual podemos encontrar uma oferta de modelos economicamente viável essencialmente para a última milha.

Só no ano passado, a frota alternativa dos CTT conheceu um aumento de 90% no número de veículos elétricos, reflexo da integração de mais de 70 carrinhas Peugeot e-Expert e da aquisição de 160 Citroen AMI, um veículo que percorre as ruas mais estreitas das nossas cidades, sendo uma mais-valia para os nossos carteiros e expedidores em termos de conforto e também de segurança. Este aumento é demonstrativo da forte aposta dos CTT na eletrificação da frota própria e também do caminho de parceria com a cadeia de valor que pretendemos implementar durante a próxima década.

Desta forma, podemo-nos orgulhar de ter já mais de 500 veículos elétricos a percorrer as ruas de Portugal e Espanha e de, no ano passado, termos inaugurado cinco Centros de Entrega próprios 100% elétricos no País cujas entregas são totalmente garantidas com este tipo de veículo. À data, trabalhamos sem emissão local de poluentes nos centros de Arroios, Junqueira, Cascais e nas ilhas de Porto Santo e Graciosa.

Esta é uma ambição que queremos expandir a outros centros próprios em Portugal e em Espanha e que também trabalhar em parceria com a nossa cadeia de valor, para que os nossos prestadores se juntem também a esta jornada de descarbonização.

A par da mobilidade mais verde, estamos a apostar na produção de energias renováveis, nomeadamente de energia solar. Iremos também manter a aquisição de 100% da eletricidade que consumimos proveniente de energias renováveis e promover o crescimento da produção de energia solar para autoconsumo, o que tem um impacto positivo na nossa pegada carbónica direta.

A estratégia de sustentabilidade dos CTT está alinhada com a ambição de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2030 e com as melhores práticas disponíveis, assente numa redução acentuada das emissões carbónicas resultantes da nossa atividade e da cadeia de valor. Desta forma, asseguramos o alinhamento com os interesses e as prioridades das nossas partes interessadas em matéria responsabilidade ambiental.

 

 





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