Entrevista: “O autoconsumo [solar] é uma ferramenta essencial para a competitividade e sustentabilidade”
Em entrevista à Green Savers,Tiago Andrade e Sousa, CEO da SparkWave Energy sublinha que a indústria portuguesa está mais consciente do papel estratégico do autoconsumo solar na redução de custos e emissões e que a empresa tem crescido rapidamente no país graças a um modelo que assume a gestão integral das centrais solares e garante previsibilidade no desempenho.
O gestor explica que a SparkWave Energy ganhou tração ao conjugar experiência internacional com equipas técnicas locais e um modelo operacional que mantém a propriedade e a gestão das centrais, eliminando riscos para os clientes. A monitorização contínua, a manutenção preventiva e a capacidade de adaptar soluções às necessidades de cada unidade industrial têm sido determinantes para assegurar poupanças estáveis e reduzir emissões, sobretudo em setores como a indústria transformadora, o retalho alimentar e a logística, onde o autoconsumo solar tem maior impacto.
A empresa prepara agora a expansão para Espanha, um mercado mais maduro e competitivo, mas também mais familiarizado com soluções renováveis. A operação portuguesa, integrada no grupo Octopus, funciona como polo de desenvolvimento de modelos replicáveis que incluem armazenamento de energia, bombas de calor e carregamento elétrico. Com ambições de crescimento ibérico, a SparkWave Energy quer aumentar a capacidade instalada e reforçar o contributo para a descarbonização do setor industrial.
A SparkWave Energy entrou no mercado português há pouco mais de um ano. Que fatores foram decisivos para que a empresa ganhasse tração tão rapidamente no setor industrial nacional?
A rápida expansão resulta de uma combinação de experiência internacional, capacidade de investimento e um foco muito claro na fiabilidade técnica. Trouxemos para Portugal um modelo operacional já testado noutros mercados, aliado a equipas técnicas locais com um forte conhecimento do tecido industrial. Isso permitiu-nos responder com rapidez, adaptar soluções às necessidades de cada unidade e garantir previsibilidade nos resultados. A proximidade e o acompanhamento direto foram determinantes para conquistar confiança desde o primeiro dia. Além disso, a notoriedade da marca da Octopus tem vindo a criar muita tração no âmbito da nossa atividade comercial.
A empresa prevê atingir mais de dez novos projetos de autoconsumo solar até ao final de 2025. Que critérios definem a seleção dos projetos e dos parceiros industriais?
Selecionamos projetos cujas componente técnica e a eficiência energética caminham lado a lado. Procuramos parceiros com consumos estáveis, ambição ambiental e abertura para soluções de longo prazo. A análise inclui o perfil de consumo, a viabilidade técnica, o impacto económico esperado e a capacidade de colaboração no acompanhamento contínuo das centrais. Só avançamos quando temos a certeza de que o projeto entrega valor mensurável ao cliente.
Um dos vossos argumentos diferenciadores é a gestão direta e contínua das centrais solares, sem venda de ativos. De que forma é que este modelo se traduz, na prática, em vantagens para os clientes?
Ao mantermos a propriedade e a gestão integral das centrais, assumimos toda a responsabilidade pelo desempenho ao longo do contrato. Isto significa que o cliente nunca fica exposto a riscos de operação, custos inesperados ou degradação não monitorizada. O nosso objetivo passa a ser totalmente alinhado com o do cliente: maximizar a produção, garantir eficiência e assegurar poupanças constantes durante toda a vida útil da instalação.
Que tipo de acompanhamento técnico é assegurado ao longo da vida útil das instalações e que impacto isso tem na eficiência dos sistemas?
Fazemos uma monitorização 24/7, manutenção preventiva, inspeções regulares e intervenções corretivas sempre que necessário. Os dados de produção e consumo são analisados continuamente, permitindo corrigir desvios ainda antes de serem sentidos pelo cliente. Este acompanhamento mantém os sistemas a operar próximos do seu potencial máximo, prolonga a vida útil dos equipamentos e garante previsibilidade nas poupanças.
Têm projetos em sectores muito distintos — têxtil, logística, retalho alimentar, hotelaria e residências seniores. Há algum setor onde sintam maior urgência ou abertura para soluções de autoconsumo?
A urgência é transversal, mas notamos um especial dinamismo na indústria transformadora, no qual a energia representa uma parcela elevada dos custos operacionais. O retalho alimentar e a logística têm igualmente mostrado uma grande abertura, por terem perfis de consumo muito compatíveis com a produção solar. No entanto, cada vez mais setores reconhecem que o autoconsumo é uma ferramenta essencial para a competitividade e sustentabilidade.
No caso da Pure Jeans e da Trablisa Esegur, os resultados em termos de redução de emissões são bastante expressivos. Que metas ambientais e de poupança energética a SparkWave Energy define normalmente para novos clientes?
Definimos metas realistas, baseadas no histórico de consumo e nas condições técnicas do local. Procuramos garantir reduções significativas de emissões de CO₂, muitas vezes superiores a 30–40% do consumo diurno, e poupanças económicas consistentes desde o primeiro mês. Estas metas são acompanhadas por indicadores de desempenho que monitorizamos e partilhamos regularmente com cada cliente.
Como é que a SparkWave Energy tem sentido a evolução da procura por soluções renováveis no contexto da transição energética em Portugal? O investimento tem acelerado?
A procura tem vindo a crescer de forma contínua. As empresas estão mais informadas, reconhecem a imprevisibilidade dos preços da energia e sabem que a transição é inevitável. O acesso dos nossos clientes a financiamento externo para a sua atividade core depende cada vez mais de requisitos de descarbonização impostos pelas entidades financiadoras e a SWE surge aqui como um ator que oferece uma solução célere e eficiente para o cliente. Temos assistido a um aumento claro da maturidade das decisões e a um ambiente regulatório mais favorável, o que tem acelerado o investimento em soluções de autoconsumo e eficiência.
Portugal integra uma rede europeia de empresas-irmãs ligadas ao grupo Octopus Energy. Que papel específico está reservado ao mercado português dentro da estratégia continental do grupo?
Portugal funciona como um polo estratégico para o desenvolvimento de modelos de autoconsumo industrial altamente escaláveis. A combinação de radiação solar elevada, indústria diversificada e políticas energéticas favoráveis faz do país uma geografia ideal para soluções que depois podem ser replicadas noutros mercados europeus. Além disso, Portugal tem contribuído com talento técnico e capacidade de inovação para o grupo. Escalar para Espanha é o próximo desafio.
A empresa prepara agora a entrada em Espanha. Que diferenças esperam encontrar entre os mercados português e espanhol, quer ao nível regulatório, quer na maturidade do setor industrial?
Espanha tem uma escala industrial superior e um mercado solar mais maduro, mas também apresenta desafios regulatórios específicos e uma maior concorrência. Esperamos encontrar clientes mais familiarizados com o autoconsumo, mas igualmente exigentes em termos de fiabilidade e acompanhamento. A experiência adquirida em Portugal será uma vantagem na adaptação ao mercado espanhol, até porque já temos propostas no terreno em Espanha e deparamo-nos com um grande aceitação no que respeita à nossa proposta de valor.
Quais são, na vossa perspetiva, os principais desafios que as indústrias portuguesas ainda enfrentam para acelerar a adoção de sistemas de autoconsumo solar?
Os desafios passam sobretudo por algum desconhecimento sobre modelos de financiamento e algum receio de compromissos a longo prazo. Ainda existe também uma certa resistência a investir em soluções tecnológicas, como as baterias. É por isso que oferecemos modelos que eliminam o risco e garantem um acompanhamento permanente.
A médio prazo, que metas globais — em capacidade instalada, redução de CO₂ ou expansão internacional — a SparkWave Energy pretende atingir?
O nosso objetivo é instalar capacidade solar e armazenamento significativos em Portugal e Espanha, contribuindo para reduções expressivas de emissões no setor industrial. Queremos consolidar a presença em Portugal e crescer rapidamente em Espanha.
Há planos para integrar outras tecnologias renováveis, para além do solar fotovoltaico, na oferta destinada ao setor industrial?
Na nossa proposta de valor já incluímos, por exemplo, as bombas de calor e postos de carregamento para veículos elétricos. Temos já projetos em operação com estas soluções instaladas. Estamos também a implementar um projeto com a integração de armazenamento de energia e acompanhamos a evolução de outras tecnologias complementares, que poderão ser integradas quando fizerem sentido técnico e económico para os clientes.