Era da extinção: Raia de Java é o primeiro peixe marinho a ser declarado extinto por causa dos humanos
Este mês, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) publicou a mais recente revisão da sua Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, um índice que reflete a dimensão dos desafios enfrentados atualmente pela biodiversidade na Terra, em muito devidos à forma como os humanos têm tratado habitats, ecossistemas e outras formas de vida que com ele coabitam o planeta.
A lista conta agora com 157.190 espécies de animais, plantas e fungos, sendo que 44.016 estão classificadas como ameaçadas de extinção. E a revisão revelou outro sinal de preocupação: a primeira espécie de peixe marinho a ser dado como extinto por causa das ações humanas.
Trata-se de uma raia, nativa das águas da ilha indonésia de Java, com o nome científico Urolophus javanicus. Agora, figura na lista como extinta. Nas avaliações de 2006 e 2021, ainda estava classificada como ‘Criticamente em Perigo’.
A espécie era tão rara que só foi registada uma única vez, em 1862, num mercado de peixe em Jacarta. Quase nada se sabe acerca dela, mas os especialistas dizem que, dada a escassez de registos científicos, “assume-se que terá tido uma distribuição restrita no Mar de Java” e que terá sido exclusiva dessa região.
Em comunicado, cientistas da Universidade Charles Darwin, na Austrália, declaram que a U. javanicus “é a primeira extinção de um peixe marinho como resultado da atividade humana”.
Julia Constance, que liderou a avaliação do estado de conservação desta raia, explica que vários fatores poderão ter contribuído para o desaparecimento da espécie.
“A pesca intensiva e geralmente desregulada é provavelmente a maior ameaça, resultando na depleção da população” desta espécie de elasmobrânquio, aponta a investigadora, que recorda que na década de 1870 já se assistiria ao declínio no Mar de Java.
O único exemplar conhecido desta raia foi encontrado ao largo da costa no Norte de Java, na baía de Jacarta, uma zona “altamente industrializada” caracterizada pela perda e degradação do habitat da espécie. “Estes impactos foram suficientemente graves para, infelizmente, causarem a extinção desta espécie”, lamenta Constance.
Apesar de buscas intensas nos locais onde se pensava que a raia ocorresse, nenhum outro exemplar foi alguma vez encontrado, pelo que a sua extinção se assume como confirmada.
Peter Kyne, da Universidade de Charles Darwin, argumenta que a declaração da extinção da Urolophus javanicus deve ser vista como “um sinal de alerta” para a humanidade e que “temos de proteger espécies marinhas ameaçadas”.
“Temos de pensar em estratégias de gestão apropriadas, como proteger habitats e reduzir a pesca excessiva, e, ao mesmo tempo, assegurar a subsistência das pessoas que dependem dos recursos piscícolas”, refere.
A perda da biodiversidade é tida como uma das três grandes crises planetárias dos nossos tempos, a par das alterações climáticas e da poluição, e sem aplacar uma não será possível combater as restantes duas. É por isso que Constance recorda que “a extinção é para sempre” e que “se não fizermos nada para proteger as populações de espécies marinhas ameaçadas em todo o mundo”, o desaparecimento da U. javanicus “será apenas a ponta do icebergue”.