Saiga e órix-de-cimitarra veem estatuto de ameaça aliviado



A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) divulgou, esta segunda-feira, a sua mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, um índice que avalia o estado de conservação de milhares de espécies selvagens em todo o mundo.

Apresentada em plena cimeira climática global, na COP28, a lista revista contém agora 157.190 espécies, das quais 44.016 estão classificadas como ameaçadas de extinção, perto do dobro das que se registavam em 2018 e cerca de 28% de todas as espécies avaliadas.

Apesar dos alertas lançados pelo aumento do número de espécies no limiar da extinção, a nova análise revela duas histórias que confirmam que a conservação é fundamental para resgatar as espécies da beira do precipício.

O órix-de-cimitarra (Oryx dammah) estava classificado com o estatuto de ‘Extinto na Natureza’, mas foi agora avaliado como ‘Em Perigo’. Esta espécie nativa dos desertos e estepes semiáridas da região do Sahel, em África, foi em tempos comum, mas no final da década de 1990, fruto da intensificação da caça-furtiva e de secas extremas, tinha praticamente desaparecido.

Órix-de-cimitarra.
Foto: Jean / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

De acordo com os especialistas da UICN, o alívio do grau de ameaça do órix-de-cimitarra deve-se, sobretudo, à reintrodução da espécie no Chade, onde estão agora estabelecidos aproximadamente 140 adultos maduros que vivem em liberdade na reserva Ouadi Rimé-Ouadi Achim. Em 2021, essa população foi reforçada com 331 crias.

Ainda assim, as ameaças das alterações climáticas e da caça-furtiva mantêm-se. “Hoje, os níveis de caça-furtiva estão a aumentar, sobretudo para subsistência e comércio, no quadro de altos níveis de pobreza e insegurança alimentar”, avança a organização em comunicado.

Outro sucesso revelado pela revisão da Lista Vermelha foi a transição do saiga (Saiga tatarica) da categoria de ‘Criticamente em Perigo’ para ‘Quase Ameaçado’. Esta espécie de antílope, conhecida pela sua face peculiar semelhante a um probóscide, é endémica do Cazaquistão, da Mongólia, da Rússia e do Uzbequistão, mas é altamente vulnerável a alterações das condições ambientais, como o aumento da temperatura, e a doenças.

Saiga.
Foto: Andrey Giljov / Wikimedia Commons (licença CC BY-SA 4.0)

Dizem os especialistas que em 2010, 2011, 2015 e 2016 foram registados eventos de “mortalidade massiva” nas populações de saiga devido a surtos de doenças, e que em 2015 um grande número de mortes terá sido provocado por “temperaturas e humidade anormalmente elevadas”.

Com o agravamento das alterações climáticas, tudo aponta para que condições meteorológicas desfavoráveis continuem a ser motivo de preocupação no que toca à conservação do saiga.

A caça-furtiva é também uma ameaça bastante presente, pois os cornos e a carne dessa espécie são altamente procurados, e já terá causado “enormes declínios” nas populações desse animal.

Contudo, o alívio do estatuto de ameaça não deixa de ser boa notícia, e é o resultado de “amplas medidas anti-caça-furtiva, a par de programas de educação, de treino de oficiais alfandegários e de ações contra a venda ilegal nos países consumidores”, aponta a UICN.

David Mallon, um dos responsáveis do Grupo de Especialistas em Antílopes da Comissão de Sobrevivência das Espécies da organização, e que tem a seu cargo a elaboração e revisão da Lista Vermelha, afirma que o sucesso da recuperação do órix-de-cimitarra e “a recuperação dramática do saiga” resultam de um grande esforço coletivo em prol da proteção e conservação dessas espécies, envolvendo governos, cientistas e as comunidades locais.

Mogno-brasileiro e tartarugas-verdes sob ameaça de extinção

A atualização da Lista Vermelha revelou também que há ainda muito por fazer e que as histórias de sucesso, embora bastante positivas, não são a regra.

Na nova versão, o índice mostra que o mogno-brasileiro (Swietenia macrophylla), antes classificado como ‘Vulnerável’, viu o seu estatuto de conservação agravado para ‘Em Perigo’. Dizem os especialistas que nos últimos 180 anos essa espécie vegetal, com uma madeira de tons rosa e, por isso, muito procurada Estados Unidos, Europa e China para fabrico de mobiliário, viu a sua população contrair mais de 60% nas Américas Central e do Sul.

Mogno-brasileiro.
Foto: jayeshpatil912 / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)

A expansão urbana e da agricultura, e a desflorestação associada, têm também destruído florestas tropicais, habitat de onde o mogno-brasileiro é nativo.

Embora seja uma espécie protegida, o abate e o comércio ilegais continuam em força, pelo que a UICN diz que “são urgentemente necessários mais recursos para gerir áreas protegidas e para responder ao comércio ilegal de madeira”. Além disso, as alterações climáticas poderão reduzir ainda mais os habitats nos quais o mogno-brasileiro pode viver.

Entre as más notícias, estão também as tartarugas-verdes (Chelonia mydas), cujas populações do Pacífico centro-Sul e do Pacífico oriental foram classificadas como ‘Em Perigo’ e ‘Vulnerável’, respetivamente.

Tartaruga-verde.
Foto: Wikimedia Commons

O aumento das temperaturas, quer em terra, quer no mar, têm afetado esses répteis marinhos em todo o seu ciclo de vida, reduzindo o sucesso da reprodução. Além disso, a subida do nível médio do mar tem destruído ninhos nas praias e afogado as crias acabadas de nascer.

Contudo, a captura acidental por embarcações pesqueiras industriais ou artesanais continua a ser uma das grandes ameaças à sobrevivência das tartarugas-verdes nessas regiões. A juntar a tudo isso, a sua carne e os seus ovos são muito procurados para consumo próprio ou para vender em mercados locais.





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