Ervas marinhas de estuários expostas a efluentes são mais saudáveis



As ervas marinhas dos estuários do Tejo e do Sado expostas a efluentes de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e de uma fábrica de alimentos são mais saudáveis, concluiu um estudo hoje divulgado.

Este estudo, que conta com a participação do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), envolveu mais de uma dezena de investigadores de nove instituições diferentes, espalhadas pelo mundo.

O objetivo foi o de “analisar a saúde das manchas de ervas marinhas sujeitas a concentrações variáveis de nitrogénio e fósforo como consequência de adições antropogénicas em espaços naturais”, explicou o investigador da FCTUC Arthur Veronez, acrescentando que foram também feitas “reanálises e comparações entre estudos realizados anteriormente em diferentes localidades do mundo para diferentes espécies com habitats e influências antropogénicas parecidas”.

Em Portugal, a investigação teve como foco os prados de uma espécie de erva marinha (‘Zostera noltei’) do Centro e Sul do país.

“Os prados monitorizados nos estuários do Tejo e do Sado e na Ria Formosa apresentam ervas menores, indicação de que são mais saudáveis, sob concentrações moderadas de nutrientes na água”, avançou o coautor do estudo.

Segundo Arthur Veronez, no estuário do Tejo “os prados mais saudáveis estavam localizados exatamente ao lado de uma ETAR e de uma fábrica, onde as concentrações de amoníaco eram semelhantes às observadas para os prados da Ria Formosa, quando comparado com estações de amostragem com distâncias intermediárias da ETAR local”.

Investigador Arthur Veronez

“Sob descargas menores de nutrientes, a erva dos prados de ‘Zostera noltei’ aumentou, sugerindo que estavam sob privação de nutrientes. Essas descargas mais baixas ocorreram nos prados da Ria Formosa, do Tejo e do Sado mais distantes das ETAR”, explicou.

Foi também possível perceber que “os prados do Sado eram menos saudáveis do que os do Tejo e da Ria Formosa sob descargas igualmente baixas de amoníaco, sugerindo que a falta de fosfato piorou o seu estado”.

A investigação sugeriu ainda que, sob uma carga mais alta de nutrientes, se verifica um aumento da erva dos prados de ‘Zostera noltei’, indicando que estas estavam a sofrer de toxicidade (verificado em prados da Ria Formosa localizada mais próximo ETAR local).

No entanto, de acordo com o investigador da FCTUC, “em comparação com os prados de ‘Zostera noltei’ dos outros locais de amostragem e relatos de outros estudos, evidenciou-se que os prados da Ria Formosa e do estuário do Tejo, sob adições moderadas de nutrientes antropogénicos, estavam entre os mais saudáveis já relatados”.

Arthur Veronez referiu que a monitorização da ‘Zostera noltei’ em Portugal “foi uma experiência inédita, realizada durante o verão de 2021”, que incluiu nove estações no Tejo e seis estações no estuário do Sado.

“É relevante salientar que este estudo representa um trabalho de alto impacto para melhor entendimento científico de como as ervas marinhas se beneficiam através de adições de nutrientes por vias antropogénicas, bem como demonstra o uso de uma metodologia de estudo cosmopolita, ativa e robusta”, sublinhou.





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