Escola de Pastores do Alvão arranca com missão de rejuvenescer o setor



A Escola de Pastores do Alvão arrancou com 20 alunos, uns ligados ao setor e outros de áreas distintas como a Medicina ou Engenharia Aeroespacial, e tem como missão o rejuvenescimento e a valorização da atividade.

Este domingo estava cinzento em Telões, Vila Pouca de Aguiar, onde decorreu a primeira aula prática da Escola de Pastores. A sala de aula é a serra do Alvão e as explorações das raças autóctones que se espalham por este território.

Beatriz Peixoto veio preparada com botas e casaco para enfrentar a chuva e o nevoeiro que se fazia sentir neste município do distrito de Vila Real. Tem 24 anos e frequenta o sexto ano do curso de Medicina, no Porto.

“Sempre tive interesse pela natureza, pela agricultura e pelos animais. Como sempre estive na cidade sinto que é um interesse que eu nunca consegui explorar e, portanto, vim para aqui explorar mais essa realidade”, afirma a também, agora, aluna da Escola de Pastores.

Esta é uma realidade da qual pouco conhece e, por isso, Beatriz Peixoto quer perceber se poderá ser algo que possa incluir no seu futuro.

Considera que esta é uma oportunidade que não “podia deixar escapar” e que quer compatibilizar com a licenciatura.

Henrique Granja, 24 anos e natural de Barcelos, acabou o mestrado integrado em Engenharia Aeroespacial em janeiro, está à procura de emprego, frequenta, agora, a Escola de Pastores, e ambiciona desenvolver um projeto que possa juntar as duas áreas.

“É sempre importante aprender mais e o meu gosto pela agricultura e pela pastorícia levou-me a inscrever neste curso”, afirma.

Com o futuro em aberto, Henrique não descarta a possibilidade de trabalhar como pastor e referiu que, nesta atividade, pode aplicar conhecimentos adquiridos no Instituto Superior Técnico.

Refere que a Engenharia pode ajudar a “resolver problemas da área da pastorícia” e “ajudar a desenvolver projetos inovadores com a utilização de drones” para, por exemplo, “calcular a quantidade de biomassa em determinados terrenos, ou perceber de que maneira é que o rebanho está a atuar numa determinada encosta”.

“Esta é uma área que gosto bastante, de elevado valor”, sustenta.

Tomás Rodrigues veio de Paredes, onde já tem um rebanho com 30 animais e quer “aprender novas coisas”. Aos 17 anos está a acabar o 12.º ano e já sabe que quer ser pastor.

“Fui criado na agricultura e gosto muito de animais. Na área que eu quero há pouca formação e então decidi inscrever-me porque vai ter alguma utilidade para o que eu quero seguir”, afirma.

Ana Catarina, 37 anos, e Davide Fraústo, 29 anos, vivem em Santarém e possuem uma exploração de ovinos e caprinos, bem como uma pequena queijaria artesanal.

Ana Catarina, que é também professora de Informática, explicou que decidiram integrar a Escola de Pastores porque sentiram “muita necessidade de informação”.

“Chegamos a um ponto em que não conseguimos evoluir mais e precisamos de respostas e surgiu esta oportunidade”, salienta.

A escola é promovida pela Federação Nacional das Raças Autóctones (FERA), em parceria com a Aguiarfloresta – Associação Florestal e Ambiental de Vila Pouca de Aguiar.

Nesta formação quer fazer-se a integração das atividades da pastorícia com a gestão do espaço rural, como a agricultura e a floresta. A primeira aula prática foi dedicada à botânica, centrando-se também nas plantas que os animais comem e nas diferenças entre elas.

O curso “Pastoreio Sustentável e Gestão da Paisagem” é o primeiro da Escola de Pastores, decorre entre maio e outubro e concilia as aulas teóricas, em formato ‘online’, com a prática, junto dos criadores de cabras ou vacas de raças autóctones.

Entre as cerca de 50 pessoas que se inscreveram, foram selecionados 20.

Duarte Marques, da Aguiarfloresta, revela-se surpreendido com a adesão ao projeto, com a juventude dos formandos e também com a diversidade de atividades profissionais.

Capacitar e atrair mais criadores de gado, promover o rejuvenescimento do setor e incentivar modos de produção inovadores são precisamente os objetivos desta escola.

Duarte Marques destaca ainda a “valorização da atividade” e aponta para o “risco do abandono” devido “à baixa rentabilidade” e ao envelhecimento dos pastores.

O responsável elenca o papel que o setor desempenha na “sustentabilidade do espaço rural”, na gestão e na prevenção dos incêndios.

Para além dos formadores, a escola tem também tutores que podem acompanhar os formandos, apoiar na implementação do plano de negócios e, depois, no início da atividade.





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