Especialistas em ecologia industrial dizem que sem eles não há economia circular



Um grupo de cientistas dizem que se os governos e as empresas do mundo querem realmente impulsionar uma economia verdadeiramente circular devem envolver mais diretamente especialistas da área da ecologia industrial na conceção dessas estratégias.

Num relatório publicado esta semana pela Sociedade Internacional da Ecologia Industrial, 14 cientistas da Europa, Estados Unidos da América e Ásia afirmam que embora a economia circular, um modelo de produção e consumo que pretende tirar o máximo proveito dos materiais e produtos e reduzir o desperdício e a formação de resíduos, esteja hoje na ordem do dia, há décadas que a área da ecologia industrial há décadas que se dedica ao tema.

A economia circular, contrariamente ao atual modelo linear dominante, tem sido apontada como um eixo central das estratégias de sustentabilidade das sociedades humanas, ao aumentar a vida útil, por exemplo, de têxteis, equipamentos eletrónicos e metais, reduzindo a necessidade da extração e produção de novos materiais e produtos e, assim, atenuando os impactos negativos sobre o planeta.

Stijn van Ewijk, da University College London e primeiro autor do relatório, explica que “a ecologia industrial trata de medir e reduzir os impactos ambientais do uso de energia e de materiais”, recordando os decisores políticos e empresariais que nessa área “existe um conhecimento enorme” que considera ser fundamental para o planeamento de sistemas assentes na circularidade.

Uma das ideias apresentadas no trabalho é a importância de se olhar para todo o ciclo de vida dos materiais e produtos, incluindo “todos os impactos da extração de matérias-primas até aos resíduos de fim de vida”, com os autores a sublinharem que só assim será possível “assegurar que uma potencial resposta para um problema não acabe por criar um problema noutro lado”.

Sobre a reutilização, Stijn van Ewijk afirma que é “frequentemente melhor” do que o consumo de novos produtos, mas avisa que esse impacto positivo só será sentido se forem realmente usados com frequência.

“Muitas pessoas têm atualmente muitos copos reutilizáveis em casa e não os reutilizam regularmente, o que só aumenta as emissões globais”, aponta.

Os especialistas defendem também a criação de novos sistemas de produção e consumo, rejeitando como ineficazes e insustentáveis “pequenos ajustes” aos sistemas atuais para tentar reduzir os seus impactos.

Tomando como exemplo os carros elétricos, Stijn van Ewijk explica que, embora possam ser vistos como a solução para a dependência do uso de combustíveis fósseis e a poluição associada, não resolvem o problema da quantidade de automóveis a circular nas estradas e dissuadem melhorias nos sistemas de transportes públicos.

“Precisamos de repensar a mobilidade de uma perspetiva sistémica. Os carros elétricos resolvem o problema dos carros a combustíveis fósseis, mas não o problema dos carros”, sublinha.

Apesar das críticas, estes ecólogos industriais reconhecem não ter todas as respostas, mas pedem que sejam ouvidos por que tem poder de decisão na altura de conceber estratégias que procurem uma maior circularidade, que tem de ter em conta as particularidades dos locais onde são implementadas.

Os especialistas dizem também que os impactos ambientais da economia circular são “inevitáveis”, porque, devido à sua “dependência da natureza”. Escrevem que esse sistema de produção e consumo “não pode evitar completamente impactos ambientais, mas pode identificar e reduzir” muitos deles.

Stefanie Hellweg, especialista em Design de Sistemas Ecológicos da ET Zurich e antiga presidente da Sociedade Internacional da Ecologia Industrial, observa que “otimizar materiais e minimizar os resíduos têm sido temas-chave do campo da ecologia industrial desde o início de 1990” e espera que os decisores políticos e empresariais passem a prestar maior atenção “ao conhecimento que já existe e que pode ser mobilizado”.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...