Especialistas pedem política global urgente para restaurar lagos degradados



Numa altura em que decorre, em Nova Iorque, a Conferência das Nações Unidas sobre a Água, um grupo internacional de especialistas em recursos hídricos pede aos líderes mundiais medidas urgentes para proteger os lagos, com o foco na proteção e restauro desses ecossistemas em que a água doce é indispensável.

Enquanto membros da Aliança Global para a Qualidade da Água, um grupo criado sob os auspícios do Programa Ambiental das Nações Unidas, os cientistas, num artigo intitulado ‘Integrar os lagos na agenda global da sustentabilidade’, defendem que o restauro dos lagos deve ser uma prioridade mundial.

Atualmente, estima-se que existam mais de 100 milhões de lagos de água doce em todo o mundo, e, embora representem apenas cerca de 4% de toda a superfície da Terra que não está coberta de gelo, são ecossistemas fundamentais para a disponibilidade de água potável, para a irrigação de culturas, para a produção de alimentos e para a preservação da biodiversidade.

De acordo com a WWF, os ecossistemas de água doce, como os lagos, rios e zonas húmidas albergam mais de 10% de todas as espécies do planeta. No entanto, desde a década de 1970 a diversidade de formas de vida nesses habitats diminuiu em 80%, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O documento agora apresentado tem por base inquéritos feitos a profissionais do restauro de lagos em 63 países e concluiu que a principal ameaça a esses ecossistemas é a poluição por excesso de nutrientes, incluindo o fósforo e o azoto provenientes de explorações agrícolas e de águas residuais. Essa poluição causa a proliferação excessiva de algas, que, por sua vez, provoca a queda da qualidade e da disponibilidade da água potável e faz subir as emissões de metano para a atmosfera.

E os autores do relatório indicam que as previsões apontam para o aumento desse tipo de poluição, uma vez que se espera a intensificação da produção agrícola e o aumento das águas residuais em linha com o aumento da procura por alimentos.

Além do excesso de nutrientes, foram também indicadas como ameaças aos lagos a poluição por plástico, as descargas de resíduos industriais, as espécies invasoras e a destruição dos habitats, todos fatores que, no quadro do agravamento das alterações climáticas, só tenderão a piorar.

Para Brian Spears, do Centro para a Ecologia e Hidrologia do Reino Unido e um dos autores do trabalho, a implementação de “sistemas de monitorização remota e de longo-prazo para melhor entender a saúde dos lagos e fornecer alertas precoces de deterioração são vitais”.

E salienta que “o restauro dos lagos tem um importante papel a desempenhar na reversão do declínio da biodiversidade e no suporte às comunidades que deles dependem”.

Por isso, os autores defendem a criação de um fundo global para financiar a recuperação dos ecossistemas lênticos, como os lagos, à semelhança do que foi feito para o recifes de coral, e que seja capaz de mobilizar fundos públicos e privados.

“Atualmente, não existem quaisquer políticas globais específicas para a gestão dos lagos, embora muitas das causas da degradação dos ecossistemas sejam de âmbito internacional e exijam liderança internacional”, afirma Kenneth Irvine, do instituto IHE Delft e outro dos autores do estudo.

Para ele, a gestão dos lagos tem negligenciado a biodiversidade que neles habita, pelo que “uma política global que integre o restauro dos lagos com a biodiversidade e as alterações climáticas é urgentemente necessária”.





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