Espécies costeiras estão a colonizar o alto-mar ‘a bordo’ de resíduos de plástico



A poluição é já considerada uma das três grandes crises planetárias dos nossos tempos, a par das alterações climáticas e da perda de biodiversidade, todas elas tendo a ação humana como causa comum. Contudo, a poluição por plástico tem sido especialmente apontada como a principal ameaça à vida marinha, destruindo habitats e sufocando e intoxicando a fauna e a flora.

Agora, uma nova investigação científica vem mostrar que os resíduos de plástico à deriva no mar estão a transportar para o alto-mar espécies das regiões costeiras, sugerindo que “antigas barreiras biogeográficas entre ecossistemas marinhos – estabelecidas ao longo de milhões de anos – estão a alterar-se rapidamente devido à poluição por plástico flutuante” que se vem acumulando nos mares, afirma Linsey Haram, investigadora do Smithsonian Environmental Research Center e principal autora do artigo publicado esta semana na revista ‘Nature Ecology & Evolution’.

Resíduos de plástico recolhidos, no Pacífico Norte, em 2018 durante a campanha The Ocean Cleanup, e que foram depois analisados para identificar as formas de vida neles contidas.
Foto: The Ocean Cleanup

Focando a investigação na região leste do Pacífico Norte, os cientistas encontraram espécies costeiras em mais de 70% dos resíduos de plástico que recolheram, constatando ainda que era maior o número de espécies dos ambientes costeiros do que do alto-mar.

“Ficámos extremamente surpreendidos ao descobrirmos 37 espécies diferentes de invertebrados que normalmente vivem em águas costeiras, mais do triplo das espécies de alto-mar que encontrámos”, explica Haram, acrescentando que as espécies da costa não apenas viviam nesses pedaços de plástico, como se reproduziam.

Gregory Ruiz, outro dos investigadores envolvidos no projeto, afirma que “os nossos resultados sugerem que os organismos costeiros são agora capazes de se reproduzirem, de crescerem e de persistirem no mar-alto, criando uma nova comunidade que não existia antes, sendo suportada pelo vasto e crescente mar de resíduos de plástico”.

Embora já se soubesse que organismos costeiros eram capazes de formar colónias em ‘lixo’ de plástico, não se sabia que pudessem, realmente, prosperar nesses pedaços de criações humanas e persistir em mar aberto, pelo que os cientistas consideram que esta descoberta revela “um novo impacto causado pelos humanos nos oceanos” que poderá ter consequências sobre as quais, por agora, pouco ou nada se sabe.

A bordo do plástico flutuante, as espécies costeiras de uma parte do planeta podem chegar a ecossistemas distantes e perturbar os equilíbrios ecológicos existentes, pelo que, dizem os autores, esta nova descoberta deverá servir de suporte a outros estudos que procurem compreender as mudanças causadas pelos humanos, através da poluição por plástico, sobre a Natureza e em especial sobre os ecossistemas marinhos.

No artigo, os investigadores falam da existência de uma ‘plastisfera’, uma biosfera que vive num ambiente de plástico, indicando que à medida que entra cada vez mais plástico nos oceanos, e as previsões apontam que esse problema só tenderá a aumentar nas próximas décadas, as comunidades de organismos costeiros poderão ter à sua disposição material suficiente para se tornarem habitantes regulares do alto-mar.





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