Estamos a caminho da descentralização da energia (ANÁLISE)
A democratização da energia sai reforçada à medida que cada vez mais consumidores se estão a tornar também produtores. Sistemas que antes eram compostos por algumas grandes tecnologias e algumas grandes empresas – juntamente com milhares ou milhões de consumidores passivos – começam já a ser substituídos por grupos de pequenos produtores e consumidores envolvidos em milhões de transacções de tecnologias de pequena escala.
Isto faz-nos lembrar a revolução da informação – de uma época em que era mais fácil consumir informação do que a produzir e distribuir, chegámos a um ponto em que os avanços da internet nos permitem criar uma canção, um vídeo ou um texto e partilhá-lo com milhões de pessoas, de forma imediata, barata e praticamente sem esforço.
O mesmo começa a acontecer com a energia. Mas, da mesma forma que a descentralização da internet foi um processo longo, a da energia também vai demorar tempo. “Neste momento, a democratização da energia está numa fase equivalente à internet em 1996. No entanto, estamos cientes do potencial desta tendência de uma forma que os utilizadores e fomentadores da internet em 2006 simplesmente não estavam”, defende uma análise do Pike Research.
Um sinal desta evolução passa por vermos as tecnologias e fontes de energia a convergirem. Tradicionalmente desenvolvidas de forma independente umas das outras, elas estão a começar a combinar-se em “soluções integradas”.
Enquanto há alguns anos o proprietário de um edifício comprava um equipamento de aquecimento a uma empresa e o gerador de energia a outra, ele pode agora recorrer apenas a um único fornecedor de serviços de energia. Esse fornecedor não vende tecnologias específicas, mas sim aquecimento, refrigeração e/ou backup de emergência – fornecidos através de uma série de combinações de energia renovável, armazenamento de energia e melhorias de eficiência.
Esta é uma tendência que democratiza os mercados da energia, enfraquecendo os monopólios e abrindo oportunidades aos empresários que combinem tecnologias e serviços já existentes de novas formas.
As concessionárias de energia eléctrica tendem a criar monopólios naturais, devido à economia de escala. No entanto, neste momento, esses monopólios começam a deteriorar-se – e as novas tecnologias e modelos de negócio estão preparados para tirar partido disso.
Com o surgimento de produtores independentes de energia e o aumento das tarifas para os consumidores, as grandes fornecedoras tendem a passar de produtores, distribuidores e controladores centrais a meros agregadores de poder.
A energia, o poder e o controlo vão, aos poucos, fugir do total alcance dos repositores centralizados e espalhar-se por mais mãos. A longo prazo, esta situação terá efeitos benéficos, tanto para a inovação como para a força da democracia.