Estarão os gatos a tentar controlar a nossa mente?



Na realidade, e para respondermos à questão do título, não são bem os gatos que poderão estar a tentar controlar a nossa mente, mas sim o toxoplasma gondii. Este ser é um protozoário parasita intracelular que causa a toxoplasmose, uma doença infecciosa transmissível.

A toxoplasmose pode ser adquirida através da ingestão de água ou alimento contaminados, nomeadamente a carne mal cozinhada, ou as fezes de gato. O mais provável é que esteja infectado ou já tenha estado – cerca de um terço da população mundial já esteve infectada -, mas não é razão para ir a correr para o médico, a menos que esteja grávida, uma vez que o parasita pode contaminar o feto e levar a malformações ou a abortos.

Este parasita pode alojar-se em qualquer organismo vivo. Porém, o único local onde se pode reproduzir é o intestino dos gatos. Para tal, de acordo com os últimos estudos divulgados, este parasita cria mecanismos, que não pretendem prejudicar o hospedeiro, mas que lhe permitam entrar em contacto com o gato para se poder reproduzir. Estes mesmos estudos revelam que este protozoário parasita pode provocar efeitos colaterais nos hospedeiros, inclusive na actividade cerebral dos humanos. E estes efeitos tanto podem ser benéficos como maléficos.

“Se é jovem e saudável e já está infectado, isso pode trazer-lhe alguns benefícios, como o nosso estudo demonstra”, afirma Ann-Kathrin Stock, investigadora na área da neurofisiologia cognitiva da Universidade de Dresden, na Alemanha. “Mas os efeitos adversos são potencialmente enormes. Se ficar gravemente doente, o parasita pode ser a causa da morte”, sublinha, cita a The Atlantic.

Após ficar infectado com o parasita, muitas pessoas sentem os sintomas de uma constipação. Passados alguns dias os sintomas desaparecem, mas o toxoplasma fica no organismo das pessoas, alojados em pequenos quistos que são controlados pelo sistema imunitário humano. Porém, se ficar doente, o sistema imunitário fica mais fraco e o toxoplasma pode atacar órgãos como o cérebro ou a retina.  “Pode perder a visão ou as faculdades cognitivas”, refere Stock.

De acordo com um outro neurocientista, Joraslov Fler, especialista em toxoplasmas, o parasita “pode matar tantas pessoas como a malária, ou pelo menos um milhão de pessoas por ano”.

E quais são os efeitos benéficos?

Passa-se tudo ao nível cerebral. Os investigadores ainda não percebem completamente como funcionam estes mecanismos, mas segundo os estudos conduzidos em voluntários infectados, o toxoplasma torna os homens mais introvertidos, suspeitos e menos atractivos para as mulheres. Contrariamente, as mulheres infectadas com o parasita tornam-se mais sociáveis, extrovertidas e atractivas para os homens. Os homens infectados tendem a quebrar mais regras e as mulheres infectadas tendem a prestar-lhes mais atenção.

Porém, os infectados têm 2,5 vezes mais probabilidades de ter acidentes rodoviários e mais propensão para desenvolver esquizofrenia e para se envolverem em conflitos.

A hipótese avançada pelos investigadores é que o toxoplasma manipula o hospedeiro indiscriminadamente. O parasita pretende apenas aumentar as possibilidades de se espalhar e sobreviver. “O toxoplasma interfere com a química cerebral, mas o parasita não pretende prejudicar o hospedeiro”, afirma Stock. “Actua sempre com o mesmo mecanismo, quer seja em humanos ou noutra espécie. Porém, os humanos não são uma preza para os gatos, o que não ajuda ao objectivo do parasita. Somos uma espécie de hospedeiro sem saída”.

Desta forma, os efeitos para os humanos são variados. Alguns são benéficos e outros maléficos, mas nenhum pretende incapacitar o hospedeiro. São danos colaterais. Stock é autora de um estudo que evidencia contradições aparentes na concepção tradicional de que o parasita é essencialmente maléfico para os humanos.

Num teste conduzido em laboratório, a investigadora concluiu que os humanos infectados com o parasita eram mais rápidos a reagir a determinados estímulos, como por exemplo pressionar um botão de certo ou errado com mãos diferentes. Stock descreve esta reacção como uma melhoria no controlo das acções. Esta investigação contradiz uma outra realizada por Flegr, que demonstra tempos de reacção maiores nas pessoas infectadas – o que é uma explicação para a maior probabilidade de terem acidentes de viação.

Como funciona a “manipulação”?

Uma outra investigação, de um grupo de cientistas do Imperial College London, demonstrou que os quistos de toxoplasmas no cérebro devem-se a uma enzima chamada tirosina hidroxilase. Esta enzima está envolvida na produção da dopamina. Mais desta enzima significa a mais dopamina. “Quando está a fazer uma actividade recompensadora há um aumento de dopamina na região límbica do cérebro, mas o toxoplasma espalha-se por todo o cérebro, infectando os neurónios produtores de dopamina. Dado que o sistema baseado na dopamina é complexo e influencia muitos aspectos da cognição e comportamento, há uma multiplicidade de efeitos que podem ser observados”, indica Joanne Webster, que participou na investigação.

É assim que este parasita, que tem como hospedeiro alvo o gato, influencia o comportamento humano. Apesar de os benefícios provados nestes estudos, os cientistas aconselham vivamente a não se tentar infectar com o parasita, pois os efeitos prejudiciais são bastantes.





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