Estarão os produtos que compramos a poucos euros a provocar perto de 100 mil mortes prematuras por ano na China?



Não é novidade para ninguém que a produção de produtos baratos em países altamente industrializados, como a China, provoca pesadas consequências sociais, laborais e ambientais nas comunidades locais. A grande surpresa agora tornada notícia é o enorme impacto que a produção mais em conta tem na qualidade de vida, ou falta dela, de quem vive nestes lugares.

Segundo um estudo publicado esta semana na revista de referência Nature, os produtos vendidos a poucos cêntimos um pouco por todo o mundo estão a provocar cerca de 100 mil mortes prematuras na China todos os anos. Tudo por culpa das consequências directas da poluição ambiental que afecta este país.

“Quando vemos fotografias das impressionantes nuvens de fumo poluído em Pequim, temos tendência para apontar culpados, dizendo que eles deviam fazer todos os esforços para “limpar” a zona”, alerta Steven Davis, da Universidade da Califórnia, autor do estudo agora publicado. “E isso é injusto porque quando vamos a uma loja comprar um produto muito barato, não paramos para pensar onde foi fabricado ou qual o impacto que teve no país de origem. Apenas olhamos o preço.”

E é exactamente aí que reside parte do problema. A principal fonte de poluição na China está nas microscópicas partículas poluídas, que derivam das fábricas que continuam a usar o carvão como fonte de energia e das suas emissões de manufacturação. O estudo indica que cerca de 22% de mortes prematuras por poluição ambiental podem ser associadas à produção de produtos baratos produzidos na China, mas consumidos por todo o mundo.

E a questão vai piorando à medida que olhamos para o problema à escala mundial. Perto de 3,45 milhões de mortes prematuras em todo o mundo podem ser directamente associadas a partículas PM 2,5, as mais perigosas para a saúde.

E não se pense que por estarmos separados da China por milhares e milhares de quilómetros estamos imunes às consequências deste flagelo ambiental. As correntes atmosféricas podem mover as emissões poluentes do leste da Ásia através do Oceano Pacífico em apenas seis semanas. “É a consequência de vivermos num mundo que partilha o ar”, ironiza Davis.

Mesmo uma breve exposição a altas concentrações de partículas poluentes pode provocar morte prematura, ataques cardíacos e cancro do pulmão. Esta informação pode não estar visível quando compramos um produto barato, mas as consequências estão lá. “De certa forma somos todos responsáveis por estas mortes, porque todos consumimos estes produtos baratos”, alerta Jason West, engenheiro ambiental na Universidade da Carolina do Norte. O estudo em questão pode ser lido aqui.

Foto: Kevin Frayer





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