Estes peixes mudam de sexo e não perdem tempo a declarar a sua dominância

Os bodiões da espécie Notolabrus celidotus são endémicos das águas marinhas poucos profundas da Nova Zelândia e são o que os cientistas chamam de hermafroditas sequenciais. Isto é, começam a vida como fêmeas e mudam para machos quando a hierarquia social do seu grupo de altera.
Uma investigação liderada pela Universidade de Otago (Nova Zelândia) revela, num artigo publicado na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, que quando um membro dominante do grupo é removido (por ter sido comido por um predador, por ter morrido por outra causa ou por ter sido capturado, por exemplo), o segundo bodião mais acima na “cadeia de comando” começa logo a mudar de fêmea para macho.
Embora este processo de transição sexual possa demorar semanas, os investigadores perceberam que, quando o processo está completo, o peixe demora apenas meros minutos até começar a demonstrar comportamentos de dominância, nadando rapidamente em direção a outros indivíduos do grupo, os subordinados, numa tática de intimidação e de declaração de domínio.
“Por vezes, o peixe dominante estabelece contacto físico com os subordinados, mordendo-os”, geralmente na causa e nas barbatanas, explica, em comunicado, Haylee Quertermous, primeira autora do estudo.
Diz a investigadora que esses comportamentos agressivos são normalmente acompanhados pela fuga dos subordinados, que nadam rapidamente para longe do peixe dominante.
Além dos aspetos morfológicos, o trabalho mostrou que o próprio funcionamento do cérebro dos bodiões dominantes é diferente do dos peixes subordinados.
Dessa forma, os resultados “salientam a importância do contexto social na modificação do comportamento individual”, ajudando a perceber a “evolução do comportamento social e a flexibilidade dos mecanismos cerebrais na adaptação a ambientes sociais em mudança”, explica Kaj Kamstra, segundo autor do artigo e especialista em neurobiologia.
Para a equipa, o conhecimento adquirido nesta investigação pode ajudar a aprofundar o que já se sabe sobre outras espécies de peixes que mudam que mudam de sexo devido a dinâmicas de dominância, como os peixes-palhaços, que podem passar de macho a fêmea dominante.