Estrondos e flashes: Impactos dos fogos-de-artifício na vida selvagem podem (e devem) ser evitados



As celebrações do novo ano foram há precisamente um mês, mas, com os olhos postos nas próximas e numa altura em que os municípios em Portugal começam a aprovar os seus orçamentos, será importante repensar a forma como assinalamos as nossas festividades, como o fim da trajetória orbital da Terra em torno do Sol.

Uma investigação da Curtin University, na Austrália, revela que os estrondos gerados pelos fogos-de-artifício são “altamente prejudiciais” para os animais selvagens, para os de companhia e para todo o ambiente, sugerindo que devem ser substituídos por drones e espetáculos de luzes.

O trabalho analisou os impactos ambientais de celebrações como o Diwali, os ‘festival das luzes’ da Índia, o Dia da Independência dos Estados Unidos, a 4 de julho, e outros eventos na Nova Zelândia e na Europa.

Por exemplo, em Espanha, os investigadores perceberam que os fogos-de-artifício perturbam a nidificação dos pardais, que a festa d 4 de julho tem provocado a diminuição das colónias do corvo-marinho da espécie Phalacrocorax penicillatus na Califórnia, e que os leões-marinhos-da-patagónia (Otaria flavescens) estão a alterar o seu comportamento durante a época da reprodução por causa dos fogos-de-artifício lançados durante as celebrações de Ano Novo no Chile.

Bill Bateman, da Universidade de Curtin e principal autor do artigo publicado na revista ‘Pacific Conservation Biology’, afirma que, apesar de todas as evidências que apontam para os impactos negativos dos fogos-de-artifício nos animais e no ambiente, continuam a ser extremamente populares.

O investigadores e docente universitário diz que, ao passo que o stress causado nos animais domésticos pelos ruídos e pelos flashes dos fogos-de-artifício pode ser gerido ou minimizado antes ou depois do evento, “os impactos na vida selvagem podem ser a uma escala muito maior”.

Isto, porque as celebrações humanas, pelo menos as mais antigas, tendem coincidir com ciclos naturais (como a mudança de estações, por exemplo) que afetam diretamente a vida dos animais, como as suas migrações ou as suas épocas de reprodução. Por isso, “podem ter efeitos duradouros sobre as suas populações”.

A par disso, as explosões de fogos-de-artifício libertam “materiais altamente poluentes que também contribuem significativamente para a poluição química do solo, da água e do ar, o que tem implicações para a saúde quer dos humanos, quer dos animais”, avisa Bateman, que, assim, defende a implementação de proibições do uso de fogo-de-artifício durante períodos críticos de migração ou acasalamento de espécies selvagens, de forma a ser possível reduzir os impactos negativos das celebrações humanas.

“Além dos cavalos, sobre os quais existem algumas evidências de que podem habituar-se gradualmente aos flashes de luz, existe muito pouco que se possa fazer sobre o impacto perturbador do ruído dos fogos-de-artifício nos animais e vida selvagem”, detalha o especialista.

Dessa forma, defende que os estrondos e os clarões gerados por esses dispositivos devem ser substituídos por “alternativas mais seguros e mais verdes”, como drones, fogos-de-artifício mais amigos do ambiente ou por lasers que criem espetáculos de luz.

“Temos cada vez mais provas de que estes eventos comunitários podem ser geridos de forma sustentável e é claro que os espetáculos obsoletos de fogo-de-artifício têm de dar lugar a opções menos poluentes que não sejam prejudiciais nem à vida selvagem, nem ao ambiente”, declara.





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