Estudo Bain & Company: O mundo poderia alcançar emissões líquidas zero até 2057
Os executivos do setor da energia e recursos naturais estão convencidos de que vão conseguir atingir as emissões líquidas zero a longo prazo, mas, devido à instabilidade do mercado energético em 2022, o ritmo da descarbonização pode diminuir a curto prazo, avança o estudo anual da Bain & Company State of the Transition 2023: Global Energy and Natural Resource Executive Perspectives, que resulta de um inquérito a mais de 600 executivos globais da indústria sobre o progresso da transição energética, a forma como as suas empresas estão a gerir estas mudanças e quais as barreiras que anteveem no caminho.
Em comunicado, a Bain & Company revela que os inquiridos preveem que, em média, o mundo pode atingir as emissões líquidas zero até 2057. Para isso acontecer, adianta a Agência Internacional de Energia, “terão de aumentar o investimento em energia limpa de 1 bilião de dólares para 4 biliões (milhões de milhões) em 2030”.
Além disso, as empresas esperam alocar cerca de um quarto do seu capital em novos negócios de crescimento até 2023, muitos deles centrados em tecnologias de baixo carbono, mas aos entrevistados “importa garantir que os rendimentos são adequados a esses investimentos”. Quatro em cada cinco executivos apontam-nos como o principal obstáculo à descarbonização. “Isto deve-se à relutância dos clientes em pagar por serviços de baixo carbono. Portanto, esperam que as políticas governamentais e o apoio regulatório ajudem a preencher essa lacuna”.
Em termos de perspetivas regionais, os principais desafios enfrentados pelas novas empresas de baixo carbono no setor são a política governamental e a obtenção de licenças. Segundo o inquérito, quase o dobro dos executivos europeus da indústria de petróleo e gás citaram a incerteza política como a razão por trás da demora nas decisões de investimento face ao ano anterior (61% contra os 36% em 2022). Os executivos das empresas de serviços públicos da América do Norte e da Europa estão preocupados com a obtenção de permissões, enquanto os executivos da Ásia-Pacífico veem a tecnologia como o maior obstáculo.
IA e outras tecnologias digitais, além do armazenamento de energia, “são as tecnologias mais críticas para o setor até 2030”
Já as energias renováveis, a inteligência artificial (IA) e outras tecnologias digitais, além do armazenamento de energia, “são as tecnologias mais críticas para o setor até 2030”. Os gestores do Médio Oriente “estão muito otimistas em relação ao hidrogénio e à captura de carbono, mas a maioria dos gestores das outras regiões antecipa que estas tecnologias não se serão importantes antes de 2030”, revela o estudo.
A mesma fonte destaca ainda que cerca de 60% dos executivos acham que as tecnologias digitais e a inteligência artificial vão transformar os seus negócios até 2030. No entanto, cerca de uma em cada três empresas diz que está a ter problemas para encontrar engenheiros e uma em cada quatro não consegue encontrar trabalhadores de primeira linha, especialmente na região norte-americana. No Médio Oriente, 42% das empresas têm dificuldade em encontrar trabalhadores de primeira linha.
“As políticas continuam a não estar adaptadas aos inúmeros desafios da descarbonização, permanecendo datadas e desatualizadas – e acabando por retardar a evolução deste processo. E se é certo que os clientes querem essa descarbonização, ainda não estão dispostos a pagar por ela. Afinal, a perceção vigente é a de que o retorno do investimento é ainda baixo. Isto cria desafios evidente ao nível da sua adoção e implementação”, afirma Eduardo Ferreira de Lemos, Associate Partner da Bain & Company em Lisboa, citado em comunicado.
O responsável acrescenta que “as empresas ainda se estão a tentar organizar internamente, num processo que inclui a necessidade de alocar capital, adaptar modelos de negócio e criar advocacy junto das principais partes interessadas. Por outro lado, no caso da Europa, a evidente dificuldade em atrair talento para estas áreas, nomeadamente ao nível das engenharias e dos especialistas técnicos (5%), do Digital e das TI (-15%) e da mão-de obra de primeira linha (-2%), acaba por funcionar como mais um entrave à transição energética.”