Estudo com focas-cinzentas revela que o leite humano pode não ser único na sua complexidade
Um novo estudo sugere que o leite humano pode não ser tão singular quanto se pensava no que toca à complexidade dos seus açúcares — componentes fundamentais para a saúde e o desenvolvimento dos bebés. A investigação analisou leite de cinco focas-cinzentas selvagens ao longo das cerca de duas semanas e meia em que amamentam as crias e concluiu que, tal como no ser humano, a composição destes açúcares varia ao longo do período de lactação para responder às necessidades dos recém-nascidos.
Os investigadores identificaram 332 moléculas de açúcar no leite das focas, caracterizando estruturalmente 240 delas. Cerca de dois terços — 166 — nunca tinham sido documentados. Alguns destes açúcares atingiram dimensões impressionantes, com cadeias de até 28 unidades, ultrapassando em dez unidades o tamanho das maiores moléculas conhecidas no leite humano.
Assim como acontece nas pessoas, a composição dos oligossacáridos — açúcares complexos que desempenham papéis cruciais na proteção contra patógenos, no desenvolvimento do intestino e na formação da microbiota — mostrou alterações coordenadas durante o período de amamentação. Entre as moléculas identificadas, várias apresentaram propriedades antimicrobianas e de regulação do sistema imunitário, o que as torna particularmente promissoras para investigação biomédica.
O trabalho, publicado na revista Nature Communications, desafia a ideia de que o leite humano é único na sua sofisticação dentro do reino dos mamíferos, revelando que outras espécies podem possuir uma diversidade molecular igualmente complexa. Segundo os autores, estas descobertas abrem caminho a novos estudos sobre a evolução do leite nos mamíferos e podem vir a contribuir para o desenvolvimento de compostos bioativos úteis em nutrição infantil, prevenção de infeções e apoio ao sistema imunitário.