Etiópia condena ameaças belicosas de Trump sobre barragem no Nilo Azul



A Etiópia condenou hoje o que chama “ameaças belicosas” do Presidente norte-americano, que afirmou na sexta-feira que o Egito acabará por destruir a barragem que os etíopes estão a construir no principal afluente do rio Nilo.

Sem se referir concretamente ao nome de Donald Trump, o gabinete do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, afirmou que “o homem não faz ideia do que está a falar”, quando as declarações do ocupante da Casa Branca provocam indignação no país.

A Etiópia está a concluir no rio Nilo Azul um projeto de 4,6 milhões de dólares a que chamou Grande Barragem do Renascimento, mas o Egito, a jusante da barragem, considera-a uma ameaça à sua própria existência.

Na sexta-feira, quando Trump anunciou que o Sudão, também a jusante da barragem, iria normalizar as suas relações com Israel, acrescentou, a propósito da barragem, que “o Egito vai acabar por a destruir”.

“Já o disse e repito claramente. Eles vão rebentar com aquela barragem. E têm de fazer alguma coisa”, declarou.

O gabinete do primeiro-ministro etíope afirmou que “as ameaças belicosas destinam-se a fazer com que a Etiópia sucumba às condições abusivas” do acordo que os Estados Unidos tentaram promover entre Egito, Sudão e Etiópia sobre a barragem, de que aquela nação do Corno de África se retirou no princípio do ano.

“A Etiópia não cederá a qualquer tipo de agressão”, lê-se no comunicado do chefe do Governo etíope, em que se acrescenta que as ameaças de Trump são “imprudentes, improdutivas e violam claramente o direito internacional”.

No princípio do ano, Trump ordenou à diplomacia norte-americana que suspendesse milhões de dólares em ajuda à Etiópia por causa do conflito sobre a barragem, enquanto os etíopes acusaram os Estados Unidos de serem parciais e consideram que as negociações com o Egito e o Sudão estão bem encaminhadas desde que a União Africana interveio para as mediar.

Na sexta-feira, o Presidente norte-americano, que concorre para a sua reeleição em novembro, afirmou que “os etíopes nunca verão aquele dinheiro se não aderirem ao acordo”.

Em agosto passado, começou o enchimento da barragem contestada pelo Egito, que depende do caudal do Nilo para a sua agricultura e para abastecer de água os seus 100 milhões de habitantes.

A Etiópia conta com o projeto, que já tem 4,9 mil milhões de metros cúbicos armazenados, para combater a pobreza e espera tornar-se um grande exportador de energia elétrica.

A disputa centra-se no volume de água que a Etiópia deixará fluir para os países a jusante se houver uma seca prolongada.

Receando um ataque militar do Egito, a Etiópia impôs uma zona de exclusão aérea sobre a barragem. Um especialista em questões hídricas, Abebe Yirga, disse à Associated Press que “qualquer ataque à barragem seria desastroso”, porque lançaria uma “massa gigantesca de água sobre milhares de pessoas”.

Cerca de 85 por cento do caudal do Nilo tem origem no Nilo Azul, que se junta com o Nilo Branco no Sudão e acaba por desaguar no Egito.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...