Etiópia, Egito e Sudão alcançam “importante entendimento comum” sobre barragem no Nilo
A Etiópia, o Egito e o Sudão alcançaram um “importante entendimento comum” nas discussões sobre uma megabarragem em território etíope que nos últimos meses tem levantado tensões regionais, anunciou hoje o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.
Uma declaração do gabinete do primeiro-ministro, citada pela Bloomberg, refere que os três países alcançaram um “importante entendimento comum que possibilitará um acordo revolucionário” durante uma reunião mediada pela União Africana (UA).
Segundo o documento, na reunião mediada pelo presidente da UA e chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, e que contou com a presença de importantes atores regionais – como o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, os três países concordaram em aprofundar “discussões técnicas” sobre o enchimento da barragem.
“Alcançámos um entendimento para continuar a negociar e para obter um acordo quanto ao enchimento e à operação da barragem”, escreveu o primeiro-ministro sudanês, Abdalla Hamdok, na plataforma Twitter.
A declaração surge depois de fotos por satélite apontarem que o nível de água na Grande Barragem do Renascimento Etíope se encontra num máximo em quatro anos.
Na semana passada, surgiram relatos que referiam que as autoridades etíopes tinham decidido iniciar o enchimento da barragem antes de um acordo final ser alcançado.
A Etiópia afirmou que este aumento se deve às fortes chuvas e, na declaração, refere que se tornou “evidente nas últimas duas semanas da época chuvosa, que o primeiro ano de enchimento da barragem está concluído e a que barragem, ainda em construção, está a transbordar”.
“A Etiópia pretende uma negociação equilibrada com situações vantajosas que assegurem que o Nilo Azul vai beneficiar os três países”, acrescenta a nota citada pela Bloomberg.
O projeto, avaliado em mais de 4 mil milhões de dólares (mais de 3,5 mil milhões de euros), vai permitir à Etiópia gerar 6.000 megawatts de eletricidade e controlar o fluxo de água do Nilo Azul, um rio que conflui com Nilo Branco e com o rio Atbara e origina o rio Nilo.
A Etiópia considera que a megabarragem vai permitir retirar milhões dos seus cidadãos da pobreza ao transformar-se num país exportador de energia.
“É absolutamente necessário que o Egito, Sudão e Etiópia, com o apoio da União Africana, alcancem um acordo que preserve os interesses de todas as partes”, escreveu Moussa Faki Mahamat no Twitter, acrescentando que o Nilo “deve continuar como uma fonte de paz”.
As negociações entre os três países prolongam-se há vários anos, não tendo sido verificados progressos significativos nos últimos meses, apesar das discussões terem contado com diversos mediadores – incluindo a administração norte-americana.
Citado pela Associated Press, o investigador Kevin Wheeler, do Instituto da Mudança Ambiental, da Universidade de Oxford, afirmou que os receios de uma seca “não são justificados nesta altura e servem para aumentar uma retórica que se deve à alteração das dinâmicas de poder na região”.
Ainda assim, o investigador alertou que “se houver uma seca nos próximos anos, isso poderá tornar-se um problema”.