Europeus são contra a queima de óleo de palma nos carros



Uma coligação internacional de associações de defesa do ambiente provenientes de vários países, incluindo a ZERO em Portugal, lançou uma campanha para apelar à Comissão Europeia que concretize a eliminação progressiva do óleo de palma para produção de biodiesel até 1 de fevereiro de 2019.

A coligação lançou uma petição apoiada pela plataforma SumOfUs. A campanha #NotInMyTank (No meu depósito não, traduzido para português) envolve uma série de ações públicas e culminará num “Dia Europeu para Ação”, com várias iniciativas em Roma, Madrid, Berlim, Paris, Estocolmo e à entrada do edifício-sede da Comissão Europeia, em Bruxelas. Serão realizados vários “Encontros dos Macacos” para convencer os decisores europeus que é urgente evitar a extinção de espécies emblemáticas como os orangotangos, entre outras, fortemente ameaçados devido à dramática desflorestação das florestas tropicais.

A Diretiva europeia das Energias Renováveis foi introduzida inicialmente em 2009, estando a sua revisão agora em fase final para acelerar a utilização de energias renováveis, como a solar e eólica. No setor dos transportes, esta Diretiva promoveu o uso de culturas alimentares, como os óleos de palma, colza e soja para a produção de biocombustíveis. O biodiesel produzido a partir de óleo vegetal virgem é o biocombustível mais popular e mais barato do mercado europeu, representando cerca de 75% do mercado em 2017. Para fins de contabilidade climática, os biocombustíveis são considerados como fonte de energia “emissões zero”, o que já motivou vários apelos da comunidade científica e da sociedade civil para que esta contabilidade seja revista.

A Diretiva das Energias Renováveis, que está em fase de revisão e aprovação final pelo Parlamento e Conselho Europeus, traz, ainda assim, boas notícias: a partir de 2030, os biocombustíveis produzidos a partir de óleo de palma deixarão de ser contabilizados para o cumprimento das metas das renováveis.

 

Situação em Portugal
Segundo os dados relativos a 2017, de um total de cerca de 327 mil metros cúbicos de matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel, 42% corresponderam a óleos vegetais (de colza, soja e palma), sendo os restantes 57% matérias residuais (como óleos alimentares usados ou gorduras animais).

Em 2017, Portugal utilizou 7632 m3de óleo de palma exclusivamente para a produção de biodiesel, cerca de 2,4% de toda a matéria-prima utilizada.

Para a ZERO a política europeia de promoção de biocombustíveis resultou num fracasso na última década, porque não cumpriu todos os seus pressupostos: não contribuiu para reduzir as emissões de impacto climático nos transportes nem melhorar a segurança energética e apoiar os agricultores, e contribuiu para graves impactos ambientais e sociais em países em vias de desenvolvimento que são, atualmente, grandes produtores de biocombustíveis.

Francisco Ferreira, Presidente da ZERO, disse: “Dado que Portugal utiliza uma quantidade limitada de óleo de palma no setor dos transportes, o país tem, portanto, uma excelente oportunidade de estar na linha da frente na eliminação total do uso insustentável deste combustível.”

 

Inquérito mostra que Europeus estão contra uso de óleo de palma no diesel
A grande maioria dos europeus desconhece que abastece o depósito do seu veículo a gasóleo com óleo de palma incorporado na bomba de combustível, mas ao saber deste facto declaram a sua oposição. Num inquérito europeu que envolveu 4.500 cidadãos em nove países, realizado pela consultora de mercado Ipsos, concluiu-se que 82% dos inquiridos não estavam conscientes do facto de que o gasóleo contém óleo de palma incorporado. Quando questionados se apoiariam medidas para acabar com o apoio político e os subsídios para a utilização de óleo de palma na produção de biodiesel na Europa, 69% são favoráveis a uma mudança para outras alternativas, 14% são contra e 16% não têm opinião sobre o assunto.

Italianos e húngaros são os que expressam uma maior oposição à queima de óleo de palma nos veículos ligeiros e pesados (75%), seguidos de franceses (71%), britânicos (69%) e polacos (69%). O inquérito mostra que existe um forte apoio público em toda a Europa à decisão do Parlamento Europeu e dos Estados-Membros de eliminar progressivamente o uso de óleo de palma incorporado no gasóleo rodoviário.  Até 1 de fevereiro de 2019, a Comissão Europeia terá de publicar um ato delegado que estabeleça os critérios para implementar a eliminação progressiva da utilização de óleo de palma no gasóleo.

A expansão do óleo de palma para alimentar os veículos automóveis na Europa tem como consequências a desflorestação e a drenagem de turfeiras no sudeste da Ásia. O biodiesel produzido a partir do óleo de palma é três vezes pior para o clima do que o gasóleo fóssil. No ano passado, 51% do óleo de palma usado na Europa acabou nos depósitos de carros e camiões. Os condutores europeus são os principais consumidores (embora não conscientes) de óleo de palma na Europa.

 





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