Experiência da REN na gestão de faixas de linhas eléctricas vai chegar a Espanha, Itália e Grécia

A REN (Rede Energética Nacional) assinou um acordo de parceria com o LIFE ELIA, projecto comunitário que prevê a troca de know-how na gestão de faixas de linhas eléctricas, sobretudo no que toca à área da biodiversidade e conservação da natureza.

A parceria, válida para o sul da Europa, vai permitir à REN e LIFE ELIA – a ELIA é a congénere belga da REN – trocarem informações sobre mapeamento, estratégias e técnicas de rearborização e restauro de ecossistemas, planeamento de gestão da vegetação a médio e longo prazo e divulgação das boas práticas no sector. A experiência da REN na reconversão das faixas das linhas de transporte de electricidade e recuperação de habitats florestais será exportada para outros países da Europa do Sul: Espanha, Grécia e Itália.

“A REN tem muitos e bons exemplos de projectos que melhoram a sustentabilidade”, explicou o COO (chief operating officer) da empresa, João Conceição. “Fazemos muitas coisas bem, mas acredito que devemos sempre melhorar, ter sempre os olhos no futuro”.

Proposto à União Europeia em 2010 e aprovado um ano depois, o projecto LIFE ELIA decorre em 150 quilómetros entre o Sul da Bélgica e França e já estava em contactos com a REN desde 2011. “As grandes empresas como a REN têm de fazer algo pela biodiversidade. Nós gerimos 150 quilómetros de biodiversidade, mas temos muito a aprender, por vezes em pequenos detalhes”, garantiu Gérard Jadaoul, o coordenador do LIFE ELIA.

Um dos grandes desafios do projecto é perceber como é feita a gestão da biodiversidade nas faixas de linhas eléctricas com a vegetação típica do Sul da Europa. “Os desafios do Sul da Europa são completamente diferentes dos da Bélgica ou Alemanha. E nós não temos essa experiência”, continuou.

O programa LIFE ELIA prevê a criação de um Guia de Boas Práticas para a gestão de corredores florestais para todas as zonas geográficas da Zona Euro, um trabalho que pressupõe a colaboração de vários parceiros e que este acordo com a REN irá efectivar, a curto prazo, para a região mediterrânica.

O principal objectivo do programa, porém, é a efectivação do desenvolvimento da biodiversidade nas faixas de transporte de energia, através da criação ou restauração das orlas, restauração dos habitats naturais, criação de pomares, criação de pastos naturais para a vida selvagem, criação de lagos, gestão dos corredores verdes do pastoreio e o controlo de espécies invasivas.

Segundo João Gaspar, responsável pela área de Servidões e Património da REN, o clique da empresa para este tema deu-se em 2006, com a alteração legislativa em relação aos fogos florestais.

“Temos dez anos de experiência e, desde então, [o tema deixou de ser, para nós,] uma adversidade e passou a oportunidade”, revelou o gestor ao Green Savers. “Trouxémos os proprietários para este processo, que retiram algum rendimento do seu terreno”.

Em Portugal, a REN incentiva à plantação de pinheiros-mansos, para recolha de pinhas, sobreiros e medronheiros. Esta última é uma plantação com frutos de curto prazo. “Temos projectos de plantação de medronheiros em Monchique, Algarve, e outra em Tábua, Pampilhosa da Serra”.

“Os terrenos são dos proprietários, são eles que vão cuidar das culturas e escolhem as espécies com as quais se sentem mais familiarizados, e um dos preferidos é o pinheiro manso que pode ter vários aproveitamentos, como a produção da pinha, e [outro é] o sobreiro, principalmente no sul, com a exploração da cortiça”, explicou João Gaspar.

Por outro lado, as espécies autóctones são as favoritas. “Por norma, não têm grande altura, não desenvolvem grande porte”, [sendo compatíveis com a exploração das infraestruturas elétricas]. “São mais resistentes aos incêndios florestais que sempre existiram, [embora] nos últimos anos tenham tido um maior foco”, concluiu.

A REN já tem 460.000 árvores nas faixas por baixo das suas linhas eléctricas, sobretudo pinheiros-mansos e sobreiros.

[nggallery id=2384 template=greensavers]