Explorações agrícolas podem tornar-se uma arma decisiva contra as alterações climáticas
As explorações agrícolas de todo o mundo podem transformar-se numa das ferramentas mais poderosas no combate às alterações climáticas, conclui um novo estudo.
Publicado na revista Plant Physiology, o trabalho propõe um enquadramento para avaliar de que forma a agricultura vegetal e as inovações em biologia sintética podem contribuir para reduzir emissões de gases com efeito de estufa e aumentar a capacidade de armazenamento de carbono nos solos.
A investigadora principal, a professora Claudia Vickers, da School of Biology and Environmental Science e do Centre for Agriculture and the Bioeconomy da QUT, explica que, embora a agricultura seja responsável por uma fatia significativa das emissões globais, a dimensão das áreas agrícolas oferece uma oportunidade única: melhorias relativamente pequenas na captura ou redução de carbono podem ter impacto à escala mundial.
“Estima-se que as terras cultivadas capturem, anualmente, mais de 115 gigatoneladas de dióxido de carbono através da fotossíntese”, sublinha. “Mesmo melhorias modestas na forma como as plantas capturam, utilizam e armazenam esse carbono, quando aplicadas às áreas agrícolas existentes, podem traduzir-se em benefícios climáticos consideráveis”, acrescenta.
O estudo apresenta um modelo quantitativo que permite comparar diferentes estratégias, desde o melhoramento genético de culturas a abordagens não genéticas, como o uso de biochar ou a reflorestação. Segundo a professora Vickers, este método permite finalmente “comparar realidades de forma equilibrada”, ao ponderar não apenas o carbono capturado por hectare, mas também fatores como escalabilidade, durabilidade, viabilidade técnica e impacto socioeconómico.
Entre as conclusões, destaca-se que a redução da dependência de fertilizantes sintéticos à base de azoto poderá gerar os efeitos mais imediatos e de maior escala, com potencial para mitigar emissões na ordem das gigatoneladas. A longo prazo, estima-se que as abordagens de biologia sintética possam contribuir para a remoção de até 260 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente ao longo do próximo século.
A análise mostra ainda que, embora a quantidade de carbono capturada por hectare varie significativamente entre estratégias, o impacto final depende sobretudo da escala de implementação. Por isso, os autores defendem que nenhuma solução isolada será suficiente.
A resposta eficaz, sublinham, passará por um conjunto diversificado de intervenções que combine soluções já maduras — e prontas para ser aplicadas — com inovações ainda em desenvolvimento.
Para Claudia Vickers, qualquer estratégia bem-sucedida terá de ser tecnicamente exequível, economicamente sustentável, duradoura e passível de ser adotada em larga escala, garantindo simultaneamente a proteção dos ecossistemas.
“Melhorar a capacidade de sequestro de carbono na agricultura contribui também para os objetivos de produção de alimentos, rações e fibras, reforçando o rendimento e a segurança dos agricultores. Estamos perante soluções de triplo impacto: social, ambiental e económico”, afirma.
“A agricultura está numa posição única para alimentar o mundo e, ao mesmo tempo, combater as alterações climáticas. Mas é essencial concentrarmo-nos nas intervenções capazes de gerar resultados concretos e mensuráveis. Este trabalho oferece um roteiro para lá chegar”, conclui.