Extinções de animais e plantas desaceleram mas atividades humanas continuam a ser ameaça “significativa e urgente”
Nova investigação científica revela que o ritmo de extinção de muitos grupos de plantas e de animais tem diminuído ao longo do último século, contrariando a ideia de uma aceleração do desaparecimento de espécies.
Num artigo publicado este mês na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, uma dupla de investigadores das universidades de Harvard e do Arizona (Estados Unidos da América) diz que, olhando para os últimos 500 anos, as extinções de plantas, artrópodes e vertebrados terrestres atingiram um pico há cerca de 100 anos e têm vindo a cair desde então.
Os resultados seguem no sentido contrário a diversos alertas feitos por outros cientistas, que apontam para a intensificação das extinções de animais e plantas em todo o mundo e para a ocorrência de uma “sexta extinção em massa”.
Os autores deste trabalho dizem que essa ideia tem por base extinções passadas que aconteceram sobretudo em ilhas devido aos impactos de espécies invasoras, o que não é, sustentam, o fator que atualmente mais ameaça a biodiversidade global, a destruição dos habitats naturais.
Descrevendo-o como o primeiro trabalho a analisar o ritmo, os padrões e as causas de extinções recentes de animais e plantas, Kristen Saban e John Wiens argumentam que os alertas sobre uma nova era de extinções em massa assentam em suposições pouco fundamentadas que projetam dados sobre extinções do passado sobre as que acontecem no presente e podem acontecer no futuro, “ignorando diferenças nos fatores que motivam as extinções” nessas três dimensões temporais.
A dupla analisou os ritmos e padrões de extinções de 912 espécies de animais e plantas que desapareceram nos últimos 500 anos e descobriu, como diz Wiens em comunicado, que “as causas dessas extinções recentes eram muito diferentes das ameaças que as espécies atualmente enfrentam”.
“Isso faz com que seja problemático extrapolar os padrões dessas extinções passadas para o futuro, porque as causas estão rapidamente a mudar, particularmente no que diz respeito à perda de habitat e às alterações climáticas”, explica.
Olhando para os dados recolhidos, Saban, por seu lado, declara que “para nossa surpresa, as extinções do passado são indicadores fracos e pouco fiáveis do atual risco que qualquer grupo específico de animais ou plantas enfrenta”.
Além disso, nada sugere que nos últimos 200 anos as alterações climáticas tenham impulsionado um maior nível de extinção, embora a investigadora assegure que tal não significa que a crise climática não seja uma ameaça. “Apenas significa que extinções passadas não refletem as ameaças atuais e futuras”, afirma.
Os cientistas detalham que ao passo que a maioria das espécies que se extinguiram nos últimos séculos são vertebrados que viviam em ilhas e moluscos que desapareceram sobretudo por causa de espécies invasoras, a maioria das espécies que estão hoje ameaçadas vivem em territórios continentais e têm a destruição do habitat como a principal ameaça.
Seja como for, Saban e Wiens querem deixar claro que as conclusões deste estudo não devem ser interpretadas como uma “carta branca” que desvaloriza os impactos dos humanos no declínio da biodiversidade do planeta. As nossas atividades, garantem, continuam a ser uma “ameaça significativa e urgente para muitas espécies”.
Numa altura em que muito se ouve falar de uma nova era de extinção em massa, saber que a perda de espécies de plantas e de animais está a desacelerar pode parecer contraintuitivo. Wiens refere que o ritmo de extinção de plantas, artrópodes e vertebrados terrestres tem vindo a diminuir no último século, especialmente desde o início dos anos 1900. O cientista sugere que tal dever-se-á ao aumento de esforços de conservação para impedir que as espécies desapareçam, mostrando que “investir dinheiro na conservação realmente funciona”.
A dupla de investigadores diz que não pretende desvalorizar a crise da perda de biodiversidade, mas somente salientar a importância de falar dela “com precisão” e de garantir que “a nossa ciência é rigorosa na forma como detalhamos essas perdas e evitamos futuras”.
“Se dissermos que o que está a acontecer agora é como um asteroide a colidir contra a Terra, então o problema torna-se insuperável. Ao olhar para os dados desta forma, esperamos que o nosso estudo ajude a informar o nosso conhecimento geral sobre a perda de biodiversidade e sobre como podemos encontrar melhores formas de lidar com ela”, comenta Saban.