Falta de dados está a dificultar esforços globais para proteção dos pangolins



Todas as oito espécies de pangolins que atualmente existem no mundo estão altamente ameaçadas de extinção devido à sobre-exploração e à perda de habitat. Contudo, a falta de dados e de gestão adequada está a dificultar a sua conservação.

Divulgado esta semana, um relatório de especialistas da Comissão de Sobrevivência das Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), feito a pedido do Secretariado da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (CITES), alerta que a ausência de estimativas populacionais atualizadas e a gestão limitada das paisagens onde ocorrem pangolins fazem com que seja impossível saber ao certo o estado de conservação daquele que é o único mamífero “blindado” da Terra.

Os autores reconhecem que os dados recolhidos neste trabalho, fornecidos por 32 países que fazem parte da CITES, incluindo 15 em cujos territórios ocorrem pangolins, permitem ter “perspetivas importantes” sobre o comércio ilegal de que esse grupo de animais é alvo, bem como sobre as ações de conservação que estão a ser promovidas. No entanto, não são suficientes.

Salientam a “necessidade urgente” de um esforço de conservação “robusto” e “direcionado” que envolva todos os principais intervenientes, “particularmente as comunidades locais e os povos indígenas”. Sem dados “mais abrangentes e consistentes”, acautelam os investigadores, a conservação dos pangolins pode ficar comprometida e não gerar os resultados pretendidos.

“Os pangolins são um dos mamíferos mais notáveis da Terra e estão entre as criaturas mais extraordinárias do planeta”, afirma, em comunicado, Grethel Aguliar, diretora-geral da UICN, que descreve esses animais ainda como sendo “antigos, gentis e insubstituíveis”.

“Protegê-los não se trata apenas de salvar uma espécie, mas de salvaguardar o equilíbrio dos nossos ecossistemas e a maravilha da própria natureza”, sublinha.

Em 2017, os pangolins foram incluídos no Apêndice I da CITES, o mais elevado nível de proteção conferido por esse tratado internacional contra a ameaça da sobre-exploração. Dessa forma, há oito anos que é estritamente proibido o comércio internacional de pangolins selvagens ou de produtos que dele derivem.

No entanto, os autores deste relatório lamentam que as comunicações feitas pelos países da CITES são inconsistentes, criando obstáculos aos trabalhos de estudo e proteção desses animais.

Apesar da proibição que emana do Apêndice I, o tráfico de pangolins continua em força, impulsionado por organizações criminosas que operam em vários países e muitas vezes em rede.

Entre 2016 e 2024, as apreensões internacionais de produtos de pangolins, sobretudo das suas escamas, equivaleram a 500 mil pangolins afetados por essas práticas ilegais, identificadas em 75 países. Mas os registos de apreensões contam apenas uma pequena fração da história, uma vez que os animais continuam a ser caçados pela sua carne dentro de fronteiras nacionais, pelo que os países têm de reforçar as medidas de proteção nos seus próprios territórios.

“A persistência do tráfico de pangolins e dos declínios populacionais mostra que proibições comerciais e alterações legislativas, por si só, não são suficientes”, refere Matthew Shirley, um dos responsáveis do grupo de especialistas em pangolins da UICN.

Para ele, além das mudanças ao nível de políticas e leis, é preciso atuar na base do problema, nas comunidades locais e até junto de consumidores de produtos derivados de pangolins. Só dessa forma, argumenta, se conseguirá “os resultados desejados”.






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