Falta de investimento em energias renováveis atinge nível “alarmante” em África
A falta de investimento em energias renováveis em África atingiu um nível “alarmante” apesar do enorme potencial do continente, alcançando em 2021 o menor capital em 11 anos, segundo um relatório da BloombergNEF divulgado hoje.
“Apenas 2,6 mil milhões de dólares [2,58 mil milhões de euros] em capital foram utilizados para projetos de energia eólica, solar, geotérmica e outras energias renováveis em 2021, o mais baixo dos últimos 11 anos”, diz-se no relatório, divulgado na conferência da Organização das Nações Unidas sobre o clima (COP27), em Sharm el-Sheikh, também promovida como “COP Africana” pela presidência egípcia.
O investimento global em energias renováveis subiu 9% de ano para ano e atingiu o nível mais alto de sempre no ano passado. Entretanto, caiu 35% em África, o que representa apenas 0,6% dos 434 mil milhões de dólares (432 mil milhões de euros) investidos em energias renováveis em todo o mundo.
O continente, que ainda é fortemente dependente de combustíveis fósseis caros e poluentes para a produção de eletricidade, está a ficar para trás “apesar dos recursos naturais excecionais de África, da procura de eletricidade em rápido crescimento e da melhoria do quadro político”, nota a BloombergNEF (BNEF).
Luiza Demôro, chefe de pesquisa de transição energética da BNEF defende, assim, que África detém todos os recursos para que o continente seja um importante mercado para a energia limpa “mas os regimes políticos e investidores relutantes continuam a manter os níveis de investimento abaixo do que poderiam e realmente deveriam estar”, afirmou.
Em particular, África tem um claro potencial de energia solar, mas o continente tem apenas 1,3% da capacidade solar global.
No relatório também se destaca a elevada concentração de investimento em energia limpa em alguns países: África do Sul, Egito, Quénia e Marrocos, que representaram quase três quartos do total desde 2010.
“O investimento em energia limpa em África está a um nível alarmantemente baixo”, lamentou Michael Bloomberg, enviado especial da ONU para a Ação Climática.
“Mudar isto requer novos níveis de colaboração para identificar projetos viáveis de energia limpa e trazer-lhes mais financiamento privado e apoio público – para transformar o potencial da África como líder global de energia limpa em realidade”, acrescentou o antigo presidente da câmara de Nova Iorque.
Os autores identificaram “barreiras” que limitam a utilização de energia limpa em África, tais como a falta de sensibilização dos investidores nacionais para as oportunidades no setor e o mau planeamento da expansão da rede.
O relatório sugere que se olhe para os países que enfrentaram com sucesso estas barreiras, destacando, por exemplo, o processo de licitação bem-sucedido no Brasil e a mobilização do banco de desenvolvimento nacional do México.