Famalicão: o Engenho de promover a aproximação entre a creche e o lar de idosos



Promover a socialização, a partilha e solidariedade intergeracional e aproximar as crianças dos idosos – e vice-versa – é um dos principais objectivos o projecto Envelhecimento + Activo, que arrancou este mês na Associação de Desenvolvimento Local do Vale do Este – Engenho –, em Famalicão, e que foi um dos vencedores da edição de 2015 do Prémio Agir, promovido pela REN.

“[Procuramos também] combater o sedentarismo do idosos e aumentar oportunidades de aprendizagem não formal por parte das crianças, em contexto intergeracional”, explicou o presidente da associação, Manuel Araújo, ao Green Savers.

A união entre crianças e idosos é bem-vinda e até estatisticamente curiosa: a Engenho integra 162 crianças nas valências de creche, pré-escolar e CATL e 152 idosos no seu centro de dia, serviço de apoio domiciliário e lar de idosos. Há quase um idoso por criança.

As primeiras actividades do projecto já foram realizadas: a 7 de Outubro, crianças e idosos participaram numa desfolhada, um momento de convívio e de partilha, usos e costumes tradicionais e de saberes entre gerações. Uma semana depois, o projecto continuou noutra das suas vertentes – a cidadania – tendo sido realizada uma acção que abordou a questão dos direitos das pessoas idosas e das vítimas de maus tratos, direccionada para a comunidade local, famílias, cuidadores e em idosos em particular.

Segundo Manuel Araújo, serão realizadas outras actividades promotoras de estimulação cognitiva e sensorial, como canteiros elevados para pessoas com mobilidade reduzida, acções de fisioterapia ou snoezelen. “A reacção tem sido muito positiva. Os idosos gostam de participar, de ter novas actividades e desafios. [E a sala de] fisioterapia proporciona-lhes actividades de reabilitação com profissionais, espaços, materiais e equipamentos de qualidade, sem ter que se deslocar à cidade”, explica Manuel Araújo – a Engenho fica situada em Arnoso, a dez quilómetros de Famalicão, e emprega 70 funcionários.

“A actividade dos canteiros elevados é gratificante, com a qual naturalmente se identificam, porque são pessoas que toda a vida trabalharam na terra. Como actividade principal (agricultores) ou secundária”, explicou o responsável.

Prémio Agir veio na hora certa

Apesar do projecto não ter estado dependente, financeiramente, do Prémio Agir, a verdade é que o galardão – €5.000 – veio dar-lhe um impacto maior. A sala de recursos será transformada numa Sala de Memória e articular o desenvolvimento das actividades de estimulação cognitiva e sensorial – a recolha de Histórias de Vida junto dos idosos e a instalação e manutenção das hortas e canteiros de hortícolas, aromáticas e flores, com cerca de 20 jovens voluntários que integram as associações juvenis locais parceiras da Associação Engenho (TUPA – Tudo pela Amizade e a Associação Juvenil Quebraritmo)

Sob orientação do engenheiro agrícola disponibilizado pelo Departamento de Urbanismo do Município de Vila Nova de Famalicão, e em articulação com educadores, monitores e auxiliares do pré-escolar e do centro de dia da instituição, os jovens vão colaborar, orientar e apoiar os idosos e as crianças na instalação dos canteiros, na preparação da terra para cultivo, plantação das hortícolas, aromáticas e flores, e na sua manutenção. Serão eles, também, que irão recolher o registo das Histórias de Vida dos idosos das respostas sociais de lar, serviço de apoio domiciliário e centro de dia.

O próximo ciclo da Engenho, admite Manuel Araújo, será o da consolidação do projecto, que passa por assegurar a sua sustentabilidade e tornar a associação como ”alavanca do desenvolvimento local e das suas comunidades” e da suas “pessoas, ambiente, paisagem e património”.

Para tal, a Engenho vai aproveitar as “oportunidades possíveis” dos programas e medidas específicas no âmbito do Quadro Estratégico Comum 2014-2020, através de candidaturas elaboradas com base em parcerias estratégicas, trabalho em rede e cooperação envolvendo a Câmara Municipal de V.N. de Famalicão, CIM do Ave, Segurança Social, Centro de Emprego, escolas, autarquias, universidades, movimento associativo e outras instituições.

“Queremos implementar uma nova agenda para o desenvolvimento local orientado para a comunidade, assumindo-nos como um interlocutor interveniente, pro-activo e privilegiado”, concluiu o responsável.

 

MANUEL ARAÚJO: “OS MEIOS, RECURSOS E DINHEIRO SÃO CADA VEZ MAIS ESCASSOS”

Com a crise económica e menores incentivos financeiros do Estados e câmaras, como se consegue gerir, hoje em dia, uma associação comunitária e de desenvolvimento local?

Num momento em que se fala muito da importância do estado social, as IPSS são o lastro desse estado social e, no momento de crise que se vive, a verdadeira almofada social que as comunidades locais encontram. São portos de abrigo, são lugares de ancoragem.

Hoje e mais do que nunca impõe-se a quem administra e gere uma instituição como a Engenho capacidade e o saber conciliar o normal funcionamento da associação nas suas várias respostas sociais e serviços, com a necessária sustentabilidade económica, financeira e funcional.

E este processo, parecendo simples e linear, é difícil e complexo. Exige uma gestão criteriosa, objectiva, rigorosa, empenhada e acima de tudo com muito pragmatismo. Não podemos dar passos maiores do que as pernas. Temos que nos adaptar, permanentemente, às realidades e aos contextos que vivemos.

Os desafios, as solicitações e as problemáticas são cada vez maiores. Os meios, os recursos e o dinheiro são cada vez mais escassos. Esta é a realidade que temos que enfrentar e ultrapassar. Desenvolvemos, portanto, um trabalho baseado em parcerias estratégicas e trabalho em rede, envolvendo diferentes parceiros e actores do desenvolvimento local, privilegiando a Câmara Municipal, o Instituto da Segurança Social, Centro de Emprego, autarquias locais, escolas, universidades, movimento associativo e instituições várias.

Qual a importância de projectos como o Prémio Agir para o desenvolvimento social das comunidades?

Num território com reminiscências rurais, periférico, isolado e empobrecido, o apoio aos indivíduos e famílias em situação de pobreza e exclusão social é um dos objetivos estratégicos da Engenho em termos de promoção de desenvolvimento social local. Esta só é possível com o apoio e a colaboração de empresas e entidades parceiras, públicas e privadas. É, portanto, de uma importância suprema a existência de prémios como o Prémio Agir, uma vez que têm um papel fundamental na promoção e reforço da equidade e coesão social.

A edição de 2015 do Prémio Agir premiou, para além do Engenho, o Chapitô, de Lisboa, e a Cediara, de Ribeira de Fráguas. Saiba mais sobre o projecto e relembre a notícia do Green Savers. 





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