Filipe Duarte Santos diz que planeta pode superar 3ºC de aquecimento global



O especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos afirmou que o planeta pode superar os 3ºC de aquecimento global no final do século, mas alerta para muitas variáveis que podem alterar as projeções.

O responsável comentou para a Lusa, há 10 anos, o Acordo de Paris sobre o clima, considerando-o importante, mas também o início de um processo. Cauteloso, disse que o Acordo iria levar a um aumento de temperaturas em 2100 de 3ºC (graus celsius), um valor que mantém agora, 10 anos depois.

Para já, com as contribuições de cada país para a redução dos gases com efeito de estufa (GEE), as temperaturas deverão chegar aos 2,7 ou 2,8ºC. Mas a redução de GEE dos países mais pobres está condicionada à ajuda dos países desenvolvidos, explicou, acrescentando que por isso o aumento pode ser maior.

Mas também há outros condicionantes. Filipe Duarte Santos, geofísico, professor universitário e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), falou da retroação positiva do sistema climático, que acontece quando uma mudança inicial provocada pelos humanos é amplificada pelo próprio sistema.

Filipe Duarte Santos deu o exemplo do gelo do ártico, que com o aquecimento global deixa de ter tão grande extensão e por isso reflete menos o calor, pelo que o mar absorve mais calor e por isso fica mais quente e faz com que derreta mais gelo. “Amplifica o aumento das temperaturas”, disse.

“É possível e provável que o aquecimento esteja a ser mais rápido do que era previsível nos relatos do IPCC” (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), afirmou o responsável na entrevista à Lusa.

Há 10 anos Filipe Duarte Santos já tinha dito que manter a temperatura a menos de 1,5ºC acima da época pré-industrial já não era possível, e nem era possível a menos de 2ºC.

“Continuo a pensar o mesmo”, referiu à Lusa, não negando a importância do Acordo de Paris, assinado por quase todos os países do mundo em 2015 e que tem como principal objetivo impedir um grande aumento das temperaturas em resultado da queima de combustíveis fósseis.

“O acordo também foi positivo no sentido de que se não existisse a situação hoje era pior”, considerou.

Filipe Duarte Santos falou de evoluções positivas de alguns países na redução de GEE, mas apontou também para mudanças nos últimos 10 anos, como uma situação geopolítica complexa, com os Estados Unidos a apostarem nos combustíveis fósseis, mas a China a ir no sentido inverso, das energias renováveis.

Mas, salientou, há outra mudança desde o Acordo de Paris, a grande procura de energia. O consumo global de energia aumentou 50% de 2000 a 2024, disse, explicando: “Porque temos um modelo civilizacional baseado no consumo intensivo de energia”.

E se por um lado os países consomem mais energia à medida que se vão desenvolvendo e são 80% dos países nessa situação, a evolução do processo de digitalização ou a inteligência artificial são também grandes consumidores de energia no mundo ocidental.

Por isso, citou o cientista e analista político tcheco-canadense Václav Smil, que disse que o mundo não está numa transição energética, mas sim numa “adição energética”. E se as energias renováveis são já 15% das fontes primárias de energia “esse crescimento não é suficiente para satisfazer” as necessidades crescentes.

Recordou que há países a voltarem-se para a energia nuclear e a China está a investir nas centrais movidas a tório (idêntico ao urânio mas que foi preterido porque com o urânio também se podiam fazer bombas atómicas, disse o professor), cujos reatores não precisam de água para arrefecer e não têm os perigos do urânio.

Há 10 anos, Filipe Duarte Santos dizia à Lusa a propósito do Acordo de Paris: “Espera-se que seja um sinal muito claro para as empresas, sobretudo para o setor da energia começar efetivamente a apostar numa transição energética, em que se use menos combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo e gás natural, e se utilizem mais energias renováveis”.






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