Financiamento inovador deixou de ser opção e passou a ser necessidade

O secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA) defendeu hoje que o financiamento inovador para os países em desenvolvimento deixou de ser uma opção, sendo agora uma necessidade.
“Os instrumentos financeiros inovadores já não são opcionais; são essenciais”, disse Claver Gatete durante um evento paralelo conjunto organizado pelas cinco comissões regionais da ONU na Quarta Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), que decorre esta semana em Sevilha, Espanha.
“O sistema atual continua a limitar o acesso de África a financiamento acessível, apesar do potencial de investimento e das necessidades de desenvolvimento do continente”, argumentou, lembrando a atuação da UNECA para colmatar o défice de financiamento, em particular através de uma troca de dívida por investimentos em natureza e industrialização na República Democrática do Congo, a criação da Coligação da Dívida Sustentável, uma plataforma coordenada pela ECA para ajudar os países africanos a aceder ao financiamento climático em melhores condições e ampliar os empréstimos sustentáveis, e o Mapa de Investimento Africano, atualmente em desenvolvimento, projetado para ajudar a reduzir os riscos das oportunidades de investimento e direcionar o capital para projetos de alto impacto e financiáveis.
De acordo com o comunicado enviado à Lusa, Gatete enfatizou que não se trata de ideias abstratas, mas de ferramentas já em fase de teste em todo o continente para alinhar o alívio da dívida, a ação climática e o investimento de longo prazo.
“Libertar o financiamento privado requer mais do que boas ideias; requer confiança, coerência e instituições credíveis”, concluiu.
Mais de 60 líderes mundiais e 4.000 representantes da sociedade civil reúnem-se a partir de hoje em Sevilha para relançar a ajuda ao desenvolvimento, que tem atualmente um défice de quatro biliões de dólares anuais, segundo a ONU.
Entre os líderes confirmados em Sevilha estão a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, que será o anfitrião, ao lado do secretário-geral da ONU, António Guterres.
O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, estará hoje na conferência e estarão também em Sevilha líderes de outros países lusófonos, nomeadamente, os Presidentes de Angola (João Lourenço), Cabo Verde (José Maria Neves), Guiné-Bissau (Umaro Sissoco Embaló) e Moçambique (Daniel Chapo).
Passarão ainda por Sevilha, durante os quatro dias da conferência, os líderes das principais organizações financeiras internacionais, como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional, responsáveis de agências e programas de apoio ao desenvolvimento, organismos e protagonistas do setor privado e Organizações Não-Governamentais (ONG).
Na declaração já negociada, a comunidade internacional assume compromissos para criar novos mecanismos de mobilização de ajuda ao desenvolvimento, de aplicação dos investimentos e de gestão das dívidas soberanas dos países mais vulneráveis ou em vias de desenvolvimento, reconhecida no documento como um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento sustentável.
Ao longo de 68 páginas, o “Compromisso de Sevilha” enfatiza também que só o reforço do multilateralismo pode responder à necessidade urgente de erradicação da pobreza e enfrentar os impactos das alterações climáticas.
O documento deverá ser complementado com anúncios unilaterais de diversos países durante a conferência e de ações mais concretas a desenvolver no âmbito da “Plataforma de Sevilha para a ação”, que será apresentada estes dias.
A conferência de Sevilha “é uma oportunidade única para reformar o sistema financeiro internacional”, que é hoje obsoleto e disfuncional, disse recentemente António Guterres.