Fracturação hidráulica: a questão ambiental que está a abanar o Reino Unido



Fracking. Se por estes dias tiver algum contacto com meios de comunicação social ingleses, esta é uma das palavras que mais irá ler ou ouvir. Fracking significa fracturação hidráulica, uma tecnologia que abre reservas de gás presas em formações subterrâneas de xisto, anteriormente inacessíveis: água, areia e químicos são injectados na rocha a grandes pressões, permitindo ao gás ser libertado.

A tecnologia, que permitiu aos Estados Unidos tornarem-se quase autossuficientes em gás natural, estará às portas da Europa. Um dos países interessados em apostar nesta técnica altamente insustentável é o Reino Unido. Daí este artigo.

É na questão ambiental que a exploração da fracturação hidráulica enfrente a granda oposição. A tecnologia utiliza, por um lado, grandes quantidades de água, que deve ser transportada para o local onde o processo decorre, com grandes custos ambientais.

Por outro lado, há preocupações relacionadas com eventuais químicos cancerígenos usados, que podem escapar e contaminar as águas subterrâneas.

O terceiro e mais mediático contratempo são as preocupações relacionadas com pequenos terramotos que o processo causa. Um exemplo: em Blackpool, depois de testes de fracturação hidráulica, foram sentidos dois pequenos sismos, de 1.5 e 2.2 de magnitude.

“São sempre mencionados os potenciais malefícios desta técnica. Mas é improvável que [estes sismos] sejam realmente sentidos e que causem problemas”, explicou à BBC o professor Ernie Rutter, da Universidade de Manchester.

Em último lugar, os activistas ambientais dizem que a fracturação hidráulica desvia as empresas energéticas e Governos do investimento em energias renováveis, mantendo o problema das fontes de energia inalterado.

Ao contrário dos Estados Unidos e China, a Europa não tem grandes reservas recuperáveis de gás de xisto – por isso está mais atrasada na prospecção e exploração. Segundo o director do Centro de Estudos Políticos Europeus, Daniel Gros, a Polónia tem a geologia mais favorável da Europa e pode chegar a ser um importante produtor à escola global – poderia ajudar o País a libertar-se da dependência russa no acesso ao gás.

No Reino Unido, o problema é o fenómeno Nimby (“Not in my Backyard”, “à minha porta não”, e português). Ou seja, a população mostra-se preocupada com as consequências ambientais da fracturação hidráulica, ao contrário da norte-americana. Na verdade, nos Estado Unidos a propriedade do terreno debaixo do qual se encontram os recursos é da pessoa que o detém; na Europa é do Estado. Este factor ajuda aos consumidores europeus – e britânicos – a rejeitarem esta técnica.

Nos Estados Unidos, a fracturação hidráulica levou à redução dos preços e oferece segurança energética durante 100 anos, gerando electricidade a metade das emissões de CO2 do carvão. Na Europa, a primeira consequência não deverá ser alcançada, o que contribui para a rejeição do processo.

Reino Unido

No Reino Unido, a discussão sobre a fracturação hidráulica remonta a 2007. Numa primeira fase, o gás de xisto era considerado interessante mas não revolucionário. Entretanto, o presidente da comissão que avaliou esta questão – a Energy and Climate Change Select Committee -, Tim Yeo, mudou a sua posição, considerando que a fracturação hidráulica pode “transformar a independência energética do Reino Unido”.

No País, o processo foi suspenso entre Junho de 2011 e Abril de 2012, depois de despoletar pequenos sismos. Hoje, o assunto é um dos temas do dia na imprensa britânica e goza de grande rejeição nacional.

Grupos como a Greenpeace, Frack Off ou pequenas comunidades locais organizam regularmente sessões de esclarecimento em que criticam a tecnologia – que será usada, sobretudo, no Norte do País.

O Governo foi também acusado de não estar a conseguir passar a palavra sobre os benefícios e consequências prejudiciais da fracturação hidráulica. Pode acompanhar tudo no Guardian, no site da Frack Off ou Greenpeace. E depois decidir sobre qual a melhor opção dos britânicos – e restantes europeus.

Foto: Sob licença Creative Commons





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