Gecos terão aparecido na América do Norte 100 milhões de anos antes do que se pensava
Os gecos, por vezes também designados por osgas, são um grupo de répteis conhecidos por subirem planos verticais devido às suas patas largas munidas de pequenas estruturas que permitem, através de eletricidade estática, desafiar a força da gravidade.
São associados a climas quentes e tropicais e são distinguidos pelos seus olhos protuberantes e hipnotizantes, pelas suas caudas grossas e peles rugosas e muitas vezes com cores garridas e padrões peculiares.
Diz a Ciência que os gecos estão entre as primeiras divergências evolutivas da árvore dos lagartos, pelo que aprofundar o conhecimento sobre esse grupo de animais é também expandir o conhecimento acerca da história desses répteis.
Até agora, pensava-se que os antepassados dos gecos teriam chegado ao continente da América do Norte algures durante o período Paleogénico, mais provavelmente na época Eocénica, há cerca de 40 ou 50 milhões de anos. Contudo, uma recente investigação revela que os primeiros antepassados terão, na realidade, surgido nessa região no Jurássico Superior, quase 100 milhões de anos antes.
A hipótese, apresentada num artigo publicado esta quarta-feira na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, resulta da análise morfológica do crânio fossilizado e parcialmente preservado de um antecessor dos gecos, encontrado num depósito de Jurássico Superior no estado do Utah, nos Estados Unidos da América.
Os investigadores dizem os fósseis tinham sido classificados como pertencendo a um género de lagartos que viveram na Europa, mas tomografias computorizadas revelaram que se trata de uma nova espécie até agora desconhecida da Ciência, e batizada com o nome científico Helioscopus dickersonae.
“É um dos mais antigos parentes do geco no registo fóssil”, explica Dalton Meyer, da Universidade de Yale e primeiro autor do estudo. “Isso significa que a linhagem dos gecos chegou à América do Norte quase 100 milhões de anos antes daquele que antes era considerado o registo mais antigo”.
A análise ao crânio fossilizado permitiu também perceber os hábitos de vida desse animal. De acordo com os cientistas, o H. dickersonae, ao contrário dos gecos modernos, não terá sido principalmente notívago, pois o seu crânio apresentava uma estrutura, uma espécie de orifício, que ajuda também os lagartos dos dias de hoje a sentirem a luz solar.
Meyer acredita que o H. dickersonae terá tido uma aparência semelhante ao do atual geco-leopardo (Eublepharis macularius), uma das espécies que, ao contrário de outras desse grupo, não tem patas ‘aderentes’ que lhe permitem escalar superfícies verticais. Ainda assim, o investigador sugere que, mesmo sem essa capacidade, o H. dickersonae terá sido um exímio trepador de árvores.
Para além de se saber que terá sido extinto cerca de 90 milhões de anos depois de ter aparecido na América do Norte, pois deixou de surgir no registo fóssil no Cretácico, pouco mais se conhece sobre a vida dessa espécie ancestral de geco.
Quanto ao nome científico com que a nova espécie foi batizada, Meyer diz que se trata de uma homenagem à sua tia-avó Shirley Dickerson, e à sua avó, Helen Dickerson, bem como à primeira curadora de répteis do Museu Americano de História Natural, Cynthia Dickerson.
Semelhanças entre a América do Norte e a Europa no tempo dos dinossauros
A investigação revelou também semelhanças entre a América do Norte e a Europa no que toca a fauna durante o Jurássico Superior. Segundo os cientistas, “numerosos” tipos de dinossauros foram encontrados quer em depósitos fósseis norte-americanos, quer e formações em Portugal, mais precisamente na Lourinhã.
No artigo, os autores escrevem que o geco H. dickersonae aponta para “semelhanças faunísticas” entre várias regiões do hemisfério norte no Jurássico Superior, e que confirma uma continuidade entre formações do Cretácico Inferior em Inglaterra, formações na Lourinhã e Alcobaça e formações no ocidente dos Estados Unidos.