Geógrafo defende aposta na biodiversidade e redes de apoio nas cidades portuguesas



As cidades portuguesas devem preparar-se para um cenário de biodiversidade planeado com novas tecnologias e redes de apoio, no pós-pandemia, considerando que o urbanismo envolve o “tempo das pessoas”, além da gestão espacial do território, afirma o investigador João Seixas.

Em declarações à agência Lusa ao fim de um ano de pandemia de covid-19 em Portugal, numa reflexão sobre as dinâmicas urbanas atuais e futuras, o especialista em Geografia Humana explicou que é necessário misturar a biodiversidade com o edificado, lembrando que os “seres humanos fazem parte da natureza”.

“Há estudos que confirmam, de facto, que os cidadãos, se se sentirem mais integrados nas comunidades, se sentem mais realizados, mais ativos, mais informados e com uma consciência cívica mais madura [do que se estivessem] todos separados uns dos outros”, indicou, referindo que, em plena era digital, “estas questões da cidadania e da comunidade são extraordinariamente importantes para o futuro”.

Para o também economista, as teses do conceito de comunidade têm vários impactos ecológicos, sociais, políticos e económicos, e as pessoas necessitam, atualmente, de desenvolver confiança no futuro para entender o espaço, o tempo e a comunidade que as rodeiam.

“Mesmo que eu esteja numa grande metrópole como Lisboa, a minha casa, a minha rua é uma escala tão identificável como se eu estivesse numa vila muito pequena. […] Esta educação – esta maturação – para a confiança vem de determinadas fontes, vem da nossa formação, vem da nossa família, vem da escola e vem também da rua […]. E se nós usufruirmos da rua de uma forma mais plena, mais participativa, e percebermos as diferenças e os outros […], teremos uma maturidade muito maior”, adiantou.

De acordo com João Seixas, os hábitos interpessoais mudaram com a pandemia de covid-19 e, a par da ecologia, é cada vez mais importante estudar as dinâmicas sociais.

“É muito importante pensarmos no ‘social deal’, o social, claro, porque, de facto, há muitas vulnerabilidades sociais que vinham de trás e agora com a pandemia acentuaram-se, os mais precários, os mais vulneráveis ficaram ainda mais”, salientou, apontando para a importância das redes de solidariedade, que estavam “muito latentes na sociedade”.

O geógrafo está a desenvolver um projeto internacional sobre a “maturação das redes de solidariedade”, na Universidade Nova de Lisboa, em conjunto com investigadores da Universidade de Aveiro e de países como Espanha (Madrid e Barcelona), Itália, França, Brasil e México.

“A questão do apoio social é muito importante, porque nós estamos num país com grandes desigualdades, em Portugal. A pandemia está a acentuar muito as vulnerabilidades, desde os mais idosos… Há muita pobreza infantil, mas também pobreza de classes sociais, dos empregos mais precários. Há muita precariedade e vulnerabilidade na habitação”, considerou.

João Seixas defendeu, por isso, a necessidade de se criarem políticas de habitação mais robustas, no sentido de apoiar os grupos mais precários.

“É evidente que isto necessita de políticas setoriais muito fortes, políticas de habitação, de proporcionar habitação acessível, de proporcionar apoio aos idosos, mas, ao mesmo tempo, também esta política de fomento de bairros e da comunidade será uma alavanca também muito poderosa de apoiar estas pessoas e estes grupos mais vulneráveis”, realçou.

Segundo o especialista, nas últimas décadas os bairros adotaram diferentes tendências de especialização – umas mais comerciais e outras mais residenciais – e a sociedade deve agora “contrapor uma tendência de maior diversificação” nos centros urbanos.

Os dois primeiros casos de pessoas infetadas em Portugal com o novo coronavírus foram anunciados em 02 de março de 2020, enquanto a primeira morte foi comunicada ao país em 16 de março. No dia 19, entrou em vigor o primeiro período de estado de emergência, que previa o confinamento obrigatório, restrições à circulação em Portugal continental e suspensão de atividade em diversas áreas.





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