Golfinhos-comuns no Atlântico Norte estão a morrer mais cedo
Os golfinhos-comuns (Delphinus delphis) são das espécies de cetáceos mais abundantes em todo o mundo, presentes em águas tropicais, subtropicais e temperadas. No entanto, algo de preocupante se está a passar.
Um grupo de cientistas dos Estados Unidos da América e de França revela que os golfinhos-comuns que vivem no Atlântico Norte estão a morrer mais cedo. Num artigo publicado este mês na revista ‘Conservation Letters’, declaram que a longevidade dessa espécie está em “colapso”.
De acordo com os dados recolhidos, os investigadores alertam que as fêmeas de golfinhos-comuns estão a morrer, em média, sete anos mais cedo do que em 1997, avisando que se trata de uma “tendência alarmante” que põe em risco não só a espécie, mas também o ecossistema marinho da qual faz parte.
Para Etienne Rouby, da Universidade do Colorado em Boulder e primeiro autor do estudo, é “urgente” uma melhor gestão da população de golfinhos-comuns do Atlântico Norte. “Caso contrário, existe o risco de declínio e, em última instância, de extinção”, salienta.
A investigação incidiu sobre o Golfo da Biscaia, um local usado por esses golfinhos como refúgio de inverno, com águas mais quentes e com maior abundância de alimento durante os meses mais frios do ano. Para este trabalho, a equipa examinou os corpos de 759 golfinhos-comuns que deram, já sem vida, às praias do Golfo da Biscaia entre 1997 e 2019, numa tentativa de perceber a evolução dessa população.
Através da análise dos dentes dos animais, conseguiram determinar a idade com que morreram, e, assim, chegaram à conclusão de que as fêmeas estão a morrer mais jovens. Nos finais da década de 1990, morriam, em média, aos 24 anos, mas duas décadas depois a idade média era já de 17 anos.
Assim, com um menor número de fêmeas há também um menor número de nascimentos e, consequentemente, uma redução do crescimento da população. Dizem os cientistas que entre 1997 e 2019 ocorreu um declínio de 2,4% na taxa de crescimento da população de golfinhos-comuns do Atlântico Norte.
Em condições ideias, explicam, uma população de golfinhos cresce cerca de 4% ao ano. Em 2019, essa taxa era de apenas 1,6%, com Rouby a admitir que esse número poderá ser ainda mais baixo.
Embora não o possam afirmar com plena certeza, os investigadores sugerem que a captura acidental poderá ser uma possível explicação para a redução da esperança média de vida dos golfinhos-comuns. Da mesma forma que o é para esses mamíferos marinhos, os Golfo da Biscaia é um local atrativo para a pesca, e também um local onde encontros fatais podem acontecer.
Por exemplo, alguns estudos estimam que em 2021 a captura acidental (ou acessória) de golfinhos-comuns no Golfo da Biscaia foi responsável pela morte de 6.900 animais, de uma população invernante de cerca de 180 mil.
No ano passado, o governo francês decretou a proibição de pesca nessa região durante o mês de janeiro para proteger os golfinhos. No entanto, os autores deste trabalho dizem que uma proibição mais flexível, que se ajuste à chegada dos golfinhos, que pode variar consoante os anos e as condições ambientais, será mais eficaz na conservação desses cetáceos.
“Os golfinhos são os maiores predadores do Golfo da Biscaia e desempenham um papel muito importante no ecossistema”, diz Rouby, que lembra que, sem eles, as populações de peixes cresceriam descontroladamente, desequilibrando todo o ecossistema.