Gorilas-da-montanha preferem conviver com irmãos da mesma mãe
Os primatas são animais altamente sociais, que vivem em grupos que, apesar de poderem variar em tamanho consoante a espécie, são estruturados hierarquicamente e apresentam dinâmicas de relacionamento complexas, em muito semelhantes às dos grupos humanos.
Stacy Rosenbaum, docente da Universidade do Michigan e ex-investigadora do Dian Fossey Gorilla Fund, uma organização não-governamental que se dedica à conservação e estudo dos gorilas em África, explica que a maioria das espécies de primatas têm relações relativamente limitadas com os seus irmãos e irmãs, pois, quando atingem a maturidade sexual, normalmente abandonam o grupo original, deixando para trás o irmão do sexo oposto.
Por isso, os laços criados acabam por ser de curta duração, persistindo, por norma, somente durante o período de desenvolvimento. Além disso, a especialista aponta que estudos científicos têm mostrado que os primatas que têm a mesma mãe tendem a desenvolver relações mais fortes entre si do que os que são apenas relacionados por parte do progenitor.
Contudo, os grupos de gorilas-das-montanhas (Gorilla beringei beringei) parecem, pelo menos em parte, fugir à regra. Com base nos dados recolhidos ao longo de mais de 50 anos pela organização que honra o legado deixado pela primatóloga Dian Fossey, Stacy Rosenbaum, que é também uma das autoras do artigo que dá conta da descoberta, afirma que esses animais habitualmente vivem em grupos com os seus irmãos e irmãs, com os quais criam laços que podem durar décadas.
Para desvendar o que torna únicas as relações entre irmãos nos grupos de gorilas-das-montanhas, uma equipa de investigadores analisou padrões de comportamento, quer pró-sociais (como a higienização mútua), quer agressivos, observados durante 14 anos e quase 40 mil horas. Para este estudo foram selecionados pares de gorilas que não eram irmãos, e também pares de irmãos maternos, de irmãos paternos e de irmãos que partilham os mesmos progenitores.
No vídeo abaixo, um par de irmãos partilha um momento de brincadeira, essencial para fortalecer os laços sociais.
As observações permitiram perceber que os gorilas que partilhavam a mesma mãe, mas tinham pai diferente, brincavam, partilhavam momentos de higienização mútua e costumavam andar mais perto uns dos outros com uma maior frequência do que os irmãos com o mesmo pai e mãe diferente ou do que pares que não eram irmãos.
Por isso, os investigadores concluem que os gorilas-das-montanhas tendem a preferir a criação de laços mais fortes com irmãos com os quais partilham a mesma mãe, do que com os quais partilham o mesmo pai. Quanto à razão dessa preferência, os cientistas dizem ainda não saber ao certo a causa, pois os animais conseguem distinguir os irmãos do mesmo pai e os irmãos da mesma mãe. Assim, a distinção feita não se prende com alguma incapacidade para identificar os irmãos, mas terá outra motivação que, por agora, permanece um mistério.
“Claramente, há ainda muito para aprender sobre a razão pela qual os gorilas se comportam desta forma”, reconhece Rosenbaum.
Dian Fossey: uma pioneira da primatologia e uma mártir da conservação dos gorilas-da-montanha
Dian Fossey, nascida em 1932, na Califórnia, é uma das maiores referências mundiais no que toca ao estudo dos gorilas, especialmente dos gorilas-da-montanha, espécie com a qual contactou pela primeira vez na década de 1960, durante a sua primeira visita a África.
Em 1967, deu início a um trabalho de investigação e proteção dos gorilas-da-montanha no Ruanda, que viria a ser considerado pioneiro, e que abriu caminho para esforços de conservação dessa espécie de primata. Contudo, a luta de Fossey contra a caça furtiva dos seus adorados gorilas, com os quais conviveu de forma muito próxima e desenvolveu fortes laços afetivos, acabaria por tornar encurtar a sua vida.
Em 1985, poucas semanas antes do seu 54.º aniversário, Fossey foi assassinada, tendo o seu corpo sido encontrado na sua cabana, no Ruana, no dia 27 de dezembro. De acordo com as informação disponível, terá sido morta com golpes de catana na cara e na cabeça, e foram encontrados também indícios de entrada forçada, embora não se acredite que roubo tenha sido a motivação.
A Dian Fossey Gorilla Foudation explica, no seu website, que existem muitas teorias acerca da morte da conceituada primatóloga, mas as certezas não abundam. No filme, ‘Gorilas na Bruma’, de 1988, a atriz Sigourney Weaver traz de volta à vida Dian Fossey, uma obra cinematográfica que revela a paixão que movia a cientista, bem como os obstáculos que tentavam impedi-la de concretizar os seus sonhos.
Numa das passagens do seu livro ‘Gorillas in the Mist’, Fossey escreve: “Quando percebemos o valor de toda a vida, passamos menos tempo preocupados com o passado e concentramo-nos na preservação do futuro”.