Governo trava destruição do pequeno Tibete português

A Secretaria de Estado do Ambiente deu parecer desfavorável à construção de uma barragem no rio Vez, em Sistelo, Arcos de Valdevez, pelo impacte negativo que o projecto provocaria. “Caros Sistelenses e amigos desta beleza natural, o pesadelo chegou ao fim, o projecto para o Aproveitamento Hidroeléctrico de Sistelo recebeu parecer desfavorável da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e também do Secretário de Estado do Ambiente”, pode ler-se no Facebook da freguesia de Sistelo.

Segundo uma nota da APA, foi considerado que os impactes negativos decorrentes da implantação do projecto ultrapassam em muito os impactes positivos. “Esta posição, unanimemente defendida por cidadãos, autarquias, organizações não-governamentais de ambiente, associações e outros representantes da sociedade civil é corroborada pelo facto de não terem sido identificadas (…) mais-valias significativas que justificassem os impactes negativos relevantes, significativos e irreversíveis decorrentes da implantação do projecto”, acrescentou a APA.

O projecto de Aproveitamento Hidroeléctrico (AHE) de Sistelo previa a construção de uma central na margem direita do rio Vez, em Sistelo, para produção de energia eléctrica, a qual seria posteriormente injectada na Rede Eléctrica Nacional através de uma linha área com seis quilómetros de extensão.

Orçado em €12,5 milhões, o projecto esteve em consulta pública de 11 de Maio a 5 de Junho, após ter sofrido algumas alterações. Em 2007, o mesmo projecto não avançou por ter recolhido parecer condicionado. A Hidrocentrais Reunidas seria a responsável pela obra.

Situado na Reserva da Biosfera Transfronteiriça do Gerês-Xurês, na zona de Protecção Especial (ZPE) da Serra do Gerês, e no sítio de Importância Comunitária (SIC) da Peneda Gerês, o projecto iria destruir uma área onde estão presentes espécies protegidas prioritárias e que é conhecida como o “pequeno Tibete português”.

“Sistelo é dos poucos locais onde ainda é possível observar a sociedade em diálogo com a natureza, a serra e o rio. O Vez tem sido um atractivo turístico de enorme valor e tem mobilizado a economia local em torno de valores como as praias fluviais, ecovias e trilhos, e é um curso de água bastante preservado, ainda sem intervenções antrópicas, o que lhe confere um estatuto ecológico de enorme importância. Possui [também] uma grande atractividade turística fazendo dele e da sua envolvente um sítio único. A sua biodiversidade ficará ameaçada com a construção do projecto”, continuou a APA.

Recorde-se que vários cidadãos lançaram uma petição pública contra a construção do AHE do Sistelo e criaram, inclusive, um grupo nas redes sociais. “A obra [provocará] forte quebra de caudal do rio Vez, que colocará em causa todo o curso do rio, que é a espinha dorsal do território do município de Arcos de Valdevez, ao longo do qual existem dezenas de moinhos, azenhas, praias fluviais e até uma ecovila”, explicava o documento.

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