Grandes mudanças nos maiores animais da Austrália ao longo de 100 mil anos revelam que os mamíferos são os mais vulneráveis



Nos últimos 100 mil anos, as comunidades de animais de grande porte da Austrália e da Nova Guiné foram afetadas por extinções e espécies invasoras, alterando ecossistemas inteiros e ameaçando a conservação das espécies restantes.

Um estudo conduzido por investigadores da Universidade de Flinders examinou a comunidade de animais de grande porte (mais de 10 kg) “Down Under”, comparando as taxas de extinção e invasão de diferentes grupos de animais antes e depois da invasão europeia no século XVIII.

Até agora, não existia uma imagem clara de como os diferentes tipos de animais – mamíferos, répteis, aves – e os diferentes grupos de alimentação foram afetados durante este período.

“Nos últimos 100 mil anos, registaram-se enormes mudanças na comunidade de animais de grande porte. Perdemos a maior parte dos gigantes nativos há dezenas de milhares de anos e uma série de novas espécies foi introduzida nas últimas centenas de anos, ameaçando a sobrevivência de muitos dos animais nativos remanescentes”, diz John Llewelyn, pesquisador em Modelagem Ecológica da Faculdade de Ciências e Engenharia da Universidade Flinders.

Llewelyn afirma que as extinções e as introduções têm sido selectivas, sendo os mamíferos e os herbívoros os mais afectados, enquanto as aves e os répteis têm sido mais estáveis.

Compreender o que torna os mamíferos tão vulneráveis aqui – em comparação com outras partes do mundo – pode ser fundamental para a sua conservação no futuro.

“Tem sido sugerido que as nossas espécies nativas são vulneráveis porque evoluíram aqui isoladamente, separadas dos animais de outros continentes”, acrescenta Llewelyn. “No entanto, o isolamento por si só não explica porque é que os mamíferos, especificamente, são tão vulneráveis, enquanto os répteis e as aves têm sido mais resistentes”, alerta.

Não só os mamíferos estiveram sobre-representados nas extinções, como o estudo concluiu que a maioria dos animais de grande porte introduzidos são também mamíferos.

“Esta tendência para a introdução de mamíferos, em combinação com o isolamento evolutivo, poderia explicar parcialmente a razão pela qual os mamíferos nativos foram tão fortemente afetados”, afirma Corey Bradshaw, Professor de Ecologia Global de Matthew Flinders.

O estudo também salientou que os grandes mamíferos, répteis e aves diferem nas suas dietas, o que pode estar relacionado com a vulnerabilidade à extinção.

“Os grandes répteis tendem a ser carnívoros, as grandes aves tendem a ser omnívoros e os grandes mamíferos tendem a ser herbívoros”, afirma Llewelyn, acrescentando que “a omnivoria – alimentar-se de diferentes grupos de alimentos em vez de se especializar num só – pode ter ajudado as grandes aves a resistir, enquanto a especialização em plantas pode ter tornado os mamíferos mais sensíveis às alterações naturais ou provocadas pelo homem na vegetação”.

“Perderam-se muitas espécies únicas e as novas espécies invasoras, como as cabras, os veados e os porcos, estão a ter um efeito negativo líquido sobre as espécies nativas, em vez de ocuparem o seu lugar ecológico”, afirma o Professor Bradshaw.

“Isto significa que é essencial identificar quais os papéis ecológicos que se perderam e avaliar de que forma as espécies invasoras estão a afetar direta e indiretamente as espécies nativas, para que se possam desenvolver estratégias de conservação específicas”, aponta.

Llewelyn afirma que o estudo revela padrões gerais na mudança da comunidade ao longo do tempo, e que o próximo passo é incorporar análises de caraterísticas mais detalhadas e desenvolver estratégias práticas de conservação.

 






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